São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004

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PRESSÃO

Comércio e indústria podem acertar a redução de descontos para alguns itens

Volta do preço cheio pressiona tabela

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Determinados movimentos não percebidos pelos consumidores podem voltar a pressionar as tabelas de preços a curto prazo. Um deles tem relação direta com a negociação que ocorre nos bastidores entre o comércio e a indústria para a definição de novos valores dos alimentos e itens semiduráveis (roupas e calçados).
Volta à tona a discussão em torno da possibilidade de redução nos descontos de preços que a indústria acerta com os supermercados para aumentar os volumes de vendas em períodos de demanda fraca. Esses descontos são dados e retirados segundo a negociação acertada entre os setores e são determinados pelo ritmo de consumo do mercado.
A retomada na demanda leva a indústria a rever as tabelas e ampliar, lentamente, sua margem em determinados produtos de maior valor agregado. "Consumo mais acelerado leva à redução nos descontos e, com isso, volta-se a operar com o preço cheio. Esperamos que isso ocorra, mas não dá para imaginar que vá ser algo generalizado, pois a melhora no ritmo da demanda ainda é inconsistente", disse Sussumu Honda, presidente da Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Segundo a Fipe informou ontem, o avanço da inflação em junho foi puxado, em parte, pela alta de 1,39% nos alimentos.
Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), acredita que o varejo vá aceitar reajustes nas tabelas segundo o desempenho nas vendas de cada produto.
"É preciso lembrar que um eventual reajuste nos próximos meses pode ser compensado pela queda no preço de outra mercadoria nessas negociações entre o varejo e a indústria."
Os supermercados já aguardam mudanças nas tabelas a partir de agosto por conta do aumento da energia elétrica. Esse é o tipo de reajuste que não tem como negociar. "As lojas sabem que o impacto é real nas contas das empresas e acabam aceitando o repasse aos preços", diz Honda.
Analistas acreditam, no entanto, que mesmo novas pressões não devam puxar para cima a taxa inflacionária no terceiro trimestre, como ocorreu em junho.
A recente queda na cotação do dólar e a política econômica restritiva do governo -que trabalha com taxa de juros básica (Selic) em 16% ao ano (apenas 0,5 ponto abaixo do verificado em janeiro)- "travam" possibilidades de forte reajuste de preços e expansão acelerada da demanda.
"O repique inflacionário ocorreu por conta de aspectos sazonais, como a entressafra de alguns itens. Não é algo para alarme", disse Fabio Pina, economista da Fecomercio SP. "Mas é preciso lembrar também que, no caso da inflação, não tem batalha ganha. A taxa de junho ficou acima da previsão de muitos economistas."


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