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LUÍS NASSIF
O nascimento
do novo ciclo
O país já iniciou um novo
ciclo de pensamento estratégico. A exemplo das duas
primeiras décadas do século
20, nos últimos 20 anos houve
um vácuo no pensamento estratégico brasileiro. Está-se
agora naquela fase intermediária, em que o novo está sendo plasmado e o velho ainda
não foi enterrado.
Nos jornais, ainda há o predomínio dos mesmos cabeças
de planilha que ocuparam o
espaço de formulação econômica nos últimos dez anos.
Não têm mais nada a dizer. O
modelo proposto em julho de
1994 -que partia do pressuposto de que a falta de poupança interna seria resolvida com
a plena abertura financeira,
em detrimento da busca de saldos comerciais- esgotou-se
seis meses depois de adotado.
Mas criou interesses, toda essa
imensa legião de consultores,
tesoureiros, operadores que
passaram a lucrar em cima da
mera arbitragem de taxas.
Morto, o modelo foi preservado nestes anos todos graças
a um altíssimo índice de ignorância que marcou a discussão
pública, fundado em clichês,
na recomendação monocórdica de "boas práticas", no tratamento das conseqüências pela
impossibilidade de admitir os
erros de fundo.
Com o esgotamento do discurso, os papagaios voltaram
para o segundo plano e os autores originais do modelo voltam a ocupar a cena, tentando
dar uma sobrevida impossível.
Não se consegue avançar além
de uma sucessão de propostas
tópicas, sem conseguir uma
resposta para a armadilha original do modelo: como resolver
o nó de uma dívida pública
impagável.
Enquanto a mídia continua
a repetir os clichês, há um movimento nervoso, incessante,
das melhores cabeças do país
trabalhando em vários centros
de pensamento, concordando
nas críticas ao modelo, discutindo saídas para poder convergir nas propostas para o
próximo tempo do jogo.
Nesse exercício, é importante
identificar as diversas camadas de pensamento, que, somadas, permitirão entender o todo. Na base de tudo, no plano
que leva décadas, às vezes séculos para ser implementado,
está o pensamento estratégico.
Precisa ser suficientemente
complexo para entender os diversos ângulos da formação do
país e do mundo; e suficientemente simples e objetivo para
conquistar adesões. Esse tipo
de pensamento tem que levar
em consideração aspectos econômicos, geopolíticos, diplomáticos, antropológicos.
Numa segunda camada entra o desafio político, a maneira de juntar forças em torno
das idéias traçadas, de tal maneira que se consiga romper a
inércia secular brasileira, na
qual a política tem sido a arte
de administrar pressões -e
quem pressiona são os poderes
existentes, o velho, quase sempre em detrimento do novo, o
que ainda está por nascer.
Finalmente, em um terceiro
nível entram os conhecimentos
setoriais, a maneira de adaptar a política científico-tecnológica, a regulação microeconômica, a política industrial e
as políticas macroeconômicas.
Nos próximos dias, vamos
tentar sintetizar um pouco o
conjunto de idéias que estão
começando a tomar corpo para permitir a virada do jogo
num ponto qualquer do futuro.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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