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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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BASTIDORES

Temor do desemprego convenceu Palocci

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda da arrecadação do IPI ao longo do ano e a ameaça de desemprego foram os principais argumentos que convenceram o Ministério da Fazenda a aceitar a redução do imposto para os carros como medida para estimular as vendas, segundo apurou a Folha.
No início das discussões, a pasta do ministro Antonio Palocci Filho relutou em apoiar a medida de ajuda à indústria automobilística.
"Foi quase preciso derrubar o homem [Palocci] para ele tomar uma iniciativa", ironizou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, ao chegar ontem para a reunião na qual o acordo entre o governo, montadoras e sindicatos foi fechado.
Entre janeiro e junho deste ano, a arrecadação de IPI com automóveis foi de R$ 1,238 bilhão, 19,19% a menos que no mesmo período de 2002. Os motivos, segundo a Receita, foram a queda das vendas internas e contestações judiciais das montadoras.
A Fazenda também percebeu que, com os estoques em alta e o marasmo do mercado interno, as montadoras poderiam iniciar um processo de demissão que atingiria toda a cadeia produtiva. O combate ao desemprego é uma das bandeiras do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrentaria críticas, caso houvesse mais demissões.
A demora na divulgação da medida, em discussão há mais de um mês, ocorreu porque não havia consenso no governo, já que desde o início o ministro Guido Mantega (Planejamento) foi favorável à redução do IPI. Vencida as resistências de Palocci à redução do IPI, a idéia era que fossem anunciadas juntas outras medidas.
Na semana passada, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, chegou a falar que somente a redução do IPI não seria suficiente para reativar o setor. Ontem, sua assessoria de imprensa informou que as "medidas estruturais" às quais Furlan se referia estão na pauta de discussão do fórum de competitividade do setor automotivo.

Outras medidas
Ontem, Palocci anunciou a redução do IPI para carros como parte do pacote de medidas para reativar a economia. O alívio para as montadoras é apenas o plano emergencial para o setor, enquanto o prometido crescimento econômico, esperado para o final do ano, não chega.
Outras medidas para alavancar a produção do setor, que pode atingir 3,2 milhões de unidades (hoje produz cerca de 1,5 milhão para atender o mercado interno), estão sendo discutidas no Fórum de Competitividade do Setor Automotivo.
Mecanismos para baratear os custos de financiamento, por exemplo, ainda estão em discussão no fórum. O projeto não foi adiante no plano emergencial por falta de recursos.
Outro ponto esperado no anúncio de ontem, a redução de ICMS, também não foi levado adiante devido à dificuldade de negociar com todos os Estados separadamente.
Questionado por que outros setores não têm benefícios similares, Palocci fez questão de ressaltar que outras áreas, como a agricultura, tiveram incentivos maiores que os das montadoras. "Ao governo cabe sempre analisar pleitos que possam ser positivos para a dinâmica econômica", afirmou o ministro.


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