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BASTIDORES
Temor do desemprego convenceu Palocci
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda da arrecadação do
IPI ao longo do ano e a
ameaça de desemprego foram os
principais argumentos que convenceram o Ministério da Fazenda a aceitar a redução do imposto
para os carros como medida para
estimular as vendas, segundo
apurou a Folha.
No início das discussões, a pasta
do ministro Antonio Palocci Filho
relutou em apoiar a medida de
ajuda à indústria automobilística.
"Foi quase preciso derrubar o
homem [Palocci] para ele tomar
uma iniciativa", ironizou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, ao chegar ontem para a reunião na qual
o acordo entre o governo, montadoras e sindicatos foi fechado.
Entre janeiro e junho deste ano,
a arrecadação de IPI com automóveis foi de R$ 1,238 bilhão,
19,19% a menos que no mesmo
período de 2002. Os motivos, segundo a Receita, foram a queda
das vendas internas e contestações judiciais das montadoras.
A Fazenda também percebeu
que, com os estoques em alta e o
marasmo do mercado interno, as
montadoras poderiam iniciar um
processo de demissão que atingiria toda a cadeia produtiva. O
combate ao desemprego é uma
das bandeiras do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que enfrentaria críticas, caso houvesse mais demissões.
A demora na divulgação da medida, em discussão há mais de um
mês, ocorreu porque não havia
consenso no governo, já que desde o início o ministro Guido Mantega (Planejamento) foi favorável
à redução do IPI. Vencida as resistências de Palocci à redução do
IPI, a idéia era que fossem anunciadas juntas outras medidas.
Na semana passada, o ministro
do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, chegou a falar que
somente a redução do IPI não seria suficiente para reativar o setor.
Ontem, sua assessoria de imprensa informou que as "medidas estruturais" às quais Furlan se referia estão na pauta de discussão do
fórum de competitividade do setor automotivo.
Outras medidas
Ontem, Palocci anunciou a redução do IPI para carros como
parte do pacote de medidas para
reativar a economia. O alívio para
as montadoras é apenas o plano
emergencial para o setor, enquanto o prometido crescimento econômico, esperado para o final do
ano, não chega.
Outras medidas para alavancar
a produção do setor, que pode
atingir 3,2 milhões de unidades
(hoje produz cerca de 1,5 milhão
para atender o mercado interno),
estão sendo discutidas no Fórum
de Competitividade do Setor Automotivo.
Mecanismos para baratear os
custos de financiamento, por
exemplo, ainda estão em discussão no fórum. O projeto não foi
adiante no plano emergencial por
falta de recursos.
Outro ponto esperado no anúncio de ontem, a redução de ICMS,
também não foi levado adiante
devido à dificuldade de negociar
com todos os Estados separadamente.
Questionado por que outros setores não têm benefícios similares, Palocci fez questão de ressaltar que outras áreas, como a agricultura, tiveram incentivos maiores que os das montadoras. "Ao
governo cabe sempre analisar
pleitos que possam ser positivos
para a dinâmica econômica", afirmou o ministro.
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