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LUÍS NASSIF
O câmbio, a física e o boné do MST
Nos últimos anos, a física passou a ser utilizada
como método para a análise
dos fenômenos econômicos. As
relações com a física surgiram
a partir da constatação de que
não havia na economia a previsibilidade e o rigor que o uso
da matemática pressupõe.
Um dos conceitos relevantes
da física, adaptado ao mercado, é o do "overshooting". São
os movimentos de alta e baixa
de ativos que vão muito além
do ponto de equilíbrio, para
depois retornar.
Uma mola comprimida e depois solta tende a se estender
muito além da sua posição de
equilíbrio, a menos que haja
atrito dificultando o salto. Se se
deixa o câmbio comprimir
além da sua posição de equilíbrio, na volta ele dá um salto
tanto maior quanto menor o
atrito a que ele for submetido.
O que pode ser o atrito no
câmbio? Certamente boas informações, boas análises e uma
ação propositiva do BC. Quando deixou o câmbio apreciar,
por conta do afluxo de capital
especulativo, e afirmou que o
mercado é quem decide, que
câmbio apreciado é sinal de
confiança na política econômica e que câmbio não é problema do BC, o banco eliminou
todos os elementos de atrito, essenciais para impedir a compressão brusca e a posterior
descompressão brusca do câmbio.
Por trás de toda essa mixórdia, está essa posição do economista de planilha de não querer "macular" o modelito de
Ilan com intervenções no mercado. A Rússia tem câmbio flexível, mas com US$ 60 bilhões
de reservas; a Coréia do Sul,
US$ 150 bilhões, a China, US$
300 bilhões, e o Japão, US$ 500
bilhões. Os economistas de planilha do BC pretendem o câmbio flexível com zero de reservas. E a culpa pela volatilidade
cambial é do boné do MST!
George Soros, o guru de Armínio Fraga, costumava dizer
que a instabilidade é intrínseca
aos mercados. O complicado é
quando as percepções disparam sinais que acabam interferindo na realidade.
Dois exemplos? Na gestão
Gustavo Franco, queimaram-se reservas cambiais e montou-se enorme dívida pública para
sustentar o câmbio e as expectativas. Veio a crise fiscal, que
disparou as expectativas.
Na gestão Armínio, para não
vender reservas, vendeu-se dívida dolarizada. O que era expectativa cambial virou crise
fiscal, que alimentou as expectativas.
Agora, depois de se queimar
em sua prova de fogo, é hora de
cair a ficha do governo Lula e
mudar o rumo da política econômica. O primeiro desafio é
cortar essa correia de transmissão entre o mercado e a realidade, garantindo um câmbio
que permita preservar os superávits comerciais atuais e engordar as reservas cambiais.
Com reservas robustas e menos
dependência do capital especulativo, sempre será possível interromper essa volatilidade
cambial que impede o país de
crescer.
E parem de ouvir esses analistas fast food! Que se caia logo
a ficha do governo, como caiu a
da parte mais consistente da
mídia, que eles se limitam a repetir bordões. Todo dia é possível levantar cinco razões para
explicar a alta ou a queda do
dólar. O que eles fazem é apenas isso. Subiu? Apresentam a
lista de razões para a alta.
Caiu? A lista para a queda. E
viram gurus...
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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