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RECEITA ORTODOXA
Medida de alívio ao crédito bancário seria anunciada nesta semana, mas Banco Central pediu mais tempo
BC frustra Palocci e adia corte do compulsório
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Apesar do pedido do ministro
da Fazenda, Antonio Palocci, e do
anúncio antecipado do Chefe da
Casa Civil, José Dirceu, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, adiou a decisão de
baixar as alíquotas do compulsório bancário (dinheiro que os
bancos são obrigados a recolher
ao BC).
Segundo o diretor de Normas
do BC, Sérgio Darcy, o compulsório vai permanecer nos níveis
atuais pelo tempo que for necessário. "Pode levar dois ou três meses [para a queda do compulsório]. Acompanharemos a economia e, quando a diretoria entender que deve, fará a redução", disse.
O anúncio da decisão estava
previsto para a semana passada.
Há duas sextas-feiras, Palocci
orientou Meirelles a baixar o
compulsório, como forma de estimular a economia. Meirelles aceitou o pedido de Palocci. Os dois
acertaram o anúncio da medida
para a semana passada.
O BC pediu, no entanto, um
pouco mais de tempo para concluir os estudos sobre os novos
percentuais para o compulsório e
adiou o anúncio para o início desta semana. De acordo com o que a
Folha apurou, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi informado
de que a medida seria anunciada
na segunda-feira passada.
Durante reunião com a bancada
do PT, no fim de semana passado,
o ministro José Dirceu disse que a
queda no compulsório ocorreria
em breve, durante esta semana.
A informação dada ontem por
Sérgio Darcy de que a redução do
compulsório ainda deve demorar
a acontecer contraria as expectativas do governo. Há pressa, dentro
do governo, de medidas que revertam a crise.
A redução do compulsório é
uma delas. Com mais dinheiro
em caixa, os bancos poderiam
oferecer mais empréstimos aos
seus clientes, além de poder reduzir um pouco a taxa de juros.
O Banco Central alega que, agora, quando o dólar começa a subir, não seria o momento para se
baixar o compulsório. O dinheiro
pode ser usado, por exemplo, para a compra de dólares, em vez de
ser direcionado ao crédito.
O economista Sérgio Werlang,
ex-diretor do BC e responsável
pela elaboração do modelo de
metas de inflação, acha muito
conservadorismo, por parte do
Banco Central, essa justificativa.
Atualmente no Itaú, Werlang diz
que não só há espaço para a redução do compulsório como também para um corte maior dos juros básicos da economia (Selic),
atualmente em 24,5% ao ano.
"Não há motivos para o BC não
baixar o compulsório", diz.
O economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências,
chama a atenção para o fato de
que a tendência mundial, hoje, é
de reduzir as alíquotas do compulsório bancário. O Brasil vinha
fazendo isso, mas o processo foi
interrompido com a crise da Argentina, em 2001, e depois com as
crises do racionamento de energia e das eleições, no ano passado.
A alta do dólar dos últimos dias,
segundo Padovani, é um fenômeno normal de curto prazo, que
não vai influenciar a tendência de
longo prazo. "Não houve piora
nos fundamentos."
Colaborou a Sucursal de Brasília
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