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São Paulo, quarta-feira, 06 de agosto de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Medida de alívio ao crédito bancário seria anunciada nesta semana, mas Banco Central pediu mais tempo

BC frustra Palocci e adia corte do compulsório

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Apesar do pedido do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do anúncio antecipado do Chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, adiou a decisão de baixar as alíquotas do compulsório bancário (dinheiro que os bancos são obrigados a recolher ao BC).
Segundo o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, o compulsório vai permanecer nos níveis atuais pelo tempo que for necessário. "Pode levar dois ou três meses [para a queda do compulsório]. Acompanharemos a economia e, quando a diretoria entender que deve, fará a redução", disse.
O anúncio da decisão estava previsto para a semana passada. Há duas sextas-feiras, Palocci orientou Meirelles a baixar o compulsório, como forma de estimular a economia. Meirelles aceitou o pedido de Palocci. Os dois acertaram o anúncio da medida para a semana passada.
O BC pediu, no entanto, um pouco mais de tempo para concluir os estudos sobre os novos percentuais para o compulsório e adiou o anúncio para o início desta semana. De acordo com o que a Folha apurou, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado de que a medida seria anunciada na segunda-feira passada.
Durante reunião com a bancada do PT, no fim de semana passado, o ministro José Dirceu disse que a queda no compulsório ocorreria em breve, durante esta semana.
A informação dada ontem por Sérgio Darcy de que a redução do compulsório ainda deve demorar a acontecer contraria as expectativas do governo. Há pressa, dentro do governo, de medidas que revertam a crise.
A redução do compulsório é uma delas. Com mais dinheiro em caixa, os bancos poderiam oferecer mais empréstimos aos seus clientes, além de poder reduzir um pouco a taxa de juros.
O Banco Central alega que, agora, quando o dólar começa a subir, não seria o momento para se baixar o compulsório. O dinheiro pode ser usado, por exemplo, para a compra de dólares, em vez de ser direcionado ao crédito.
O economista Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e responsável pela elaboração do modelo de metas de inflação, acha muito conservadorismo, por parte do Banco Central, essa justificativa. Atualmente no Itaú, Werlang diz que não só há espaço para a redução do compulsório como também para um corte maior dos juros básicos da economia (Selic), atualmente em 24,5% ao ano. "Não há motivos para o BC não baixar o compulsório", diz.
O economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências, chama a atenção para o fato de que a tendência mundial, hoje, é de reduzir as alíquotas do compulsório bancário. O Brasil vinha fazendo isso, mas o processo foi interrompido com a crise da Argentina, em 2001, e depois com as crises do racionamento de energia e das eleições, no ano passado.
A alta do dólar dos últimos dias, segundo Padovani, é um fenômeno normal de curto prazo, que não vai influenciar a tendência de longo prazo. "Não houve piora nos fundamentos."


Colaborou a Sucursal de Brasília


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