São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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ALBERT FISHLOW

Depois do intervalo


Importantes reuniões estão ocorrendo no mundo; apesar da dúvida quanto ao sucesso, há motivos para otimismo

SETEMBRO começou, e a agenda internacional está se expandindo rapidamente.
O grupo dos 20 (G20), que deve reunir-se dentro de uma quinzena em Pittsburgh (EUA), já conduziu uma sessão preparatória em Londres. A Índia sediou uma reunião com o objetivo de tentar concluir, no prazo de um ano, as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), nas quais um outro G20, liderado pelo Brasil, tem papel de liderança. O Parlamento da União Europeia está debatendo a reeleição de José Manuel Barroso como presidente da Comissão Europeia. A reunião de Copenhague, na qual a mudança climática voltará a ocupar posição central, está a poucos meses de distância, em dezembro.
E, é claro, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) realizará nova sessão em Nova York, aparentemente sem a tenda do coronel Muammar Gaddafi, mas com uma série impressionante de questões a debater, do Afeganistão ao Zimbábue.
A despeito dos temores de muitos, a globalização -tanto econômica como política- sobreviveu aos desafios do ano passado. A independência completa não triunfou. Embora o comércio mundial tenha caído e o desemprego aumentado, não houve uma corrida a medidas protecionistas em resposta à Grande Recessão. A OMC continuou igualmente a exercer seu papel de supervisão judicial. O Brasil acaba de conquistar indenização de US$ 295 milhões dos EUA -apenas um décimo do valor solicitado originalmente, mas suficiente para satisfazer as pretensões brasileiras.
A Coreia do Norte e Mianmar, marginalizados por muito tempo, parecem menos dispostos a sustentar esse isolamento. Eleições vêm sendo realizadas regularmente, ainda que seus resultados nem sempre sejam considerados legítimos. A internet ampliou de maneira dramática o acesso internacional: pouca coisa pode ser escondida e, mesmo assim, não por muito tempo. Esse conhecimento tem consequências, ainda que tardias e parciais.
Mencionei apenas alguns exemplos. Existem muitos, muitos outros que poderiam ser citados como prova dessa profunda diferença para com o passado. É igualmente importante perceber as maneiras sutis pelas quais a comunidade mundial agora interfere em virtualmente todas as esferas daquilo que era convencionalmente encarado como o domínio da política interna.
Mesmo para um tema como a saúde nos EUA, que predominou sobre todas as questões nas últimas semanas, o conhecimento de que o país gasta tão mais que as demais nações e obtém resultados aparentemente piores é um elemento essencial na argumentação para explicar que mudanças são necessárias e já. As pessoas agora estão mais conscientes do que no passado sobre as práticas adotadas em outros países.
A recente proposta brasileira de alterar os atuais arranjos de concessão para a prospecção de petróleo é outro exemplo. O sucesso da Noruega em preservar os lucros de suas descobertas petrolíferas influenciou muito a estrutura de supervisão que deve ser aplicada aos depósitos brasileiros do pré-sal. Um outro fato, menos conhecido, é igualmente relevante: um imigrante iraniano acidental ofereceu boa parte do conhecimento técnico inicial que era necessário para criar a indústria petrolífera norueguesa.
É provável que, à medida que esses encontros internacionais se desenrolarem nas próximas semanas, o progresso pareça lento e o sucesso incerto. Mas há motivos para otimismo quanto ao resultado final.


ALBERT FISHLOW , 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

afishlow@uol.com.br


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