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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Bovespa romperá barreira dos 18 mil pontos se agências de "rating" melhorarem avaliação do Brasil

Para analistas, nota do país ainda trava Bolsa

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi a volta de fundos de investimento locais que impulsionou a forte, rápida e inesperada alta da Bolsa na semana passada.
Analistas, que se disseram surpresos com a alta de 8,08% nos últimos cinco pregões, divergem quanto ao potencial de valorização do mercado de ações, mas concordam que o melhor da festa já passou, ao menos enquanto as agências de risco não elevarem a classificação do Brasil.
"O empuxo forte dos últimos dias é dinheiro estrangeiro que continuou comprador, combinado a outra onda de investidores locais, principalmente de fundos hedge [mais agressivos]", diz Jorge Simino, diretor da Unibanco Asset Management.
Se confirmar em um ou dois pregões esse patamar de preços, segundo Simino, a Bolsa, que encerrou a semana em 17.089 pontos, pode subir mais na sequência, mas nada "surpreendente".
Analistas dizem que, para um avanço significativo, a Bolsa paulista precisa ter uma grande notícia, aguardada há dois meses.
"O mercado só vai romper os 18 mil pontos quando o Brasil tiver uma melhora em sua classificação pelas agências de "rating" [de classificação de risco]. O que, aliás, já deveria ter acontecido", diz Pedro Thomazoni, diretor de tesouraria do Lloyds TSB. Para ele, as agências têm sido mais rigorosas com o Brasil do que com outros países.
As notas do Brasil giram em torno de B+, o que, pelo critério da agência Standard & Poor's, indica que o governo brasileiro é "mais vulnerável às condições de negócios, financeiras e econômicas, mas apresenta atualmente capacidade para honrar os compromissos financeiros".
"Não digo que deveríamos ser "grau de investimento", mas estamos mal avaliados, cinco pontos abaixo dele. Avançamos, apesar da situação de endividamento não confiável, do volume de exportações muito baixo", acrescenta Thomazoni.

Ano da Bolsa
Tudo indica que este será o ano da Bolsa. Na sexta-feira, a Bovespa alcançou a maior valorização em dólar, acumulada em 86% no ano, entre as Bolsas do mundo.
O Brasil é beneficiado pela fraca base de comparação com 2002, quando a Bolsa caiu muito devido às incertezas eleitorais, além das quedas de anos anteriores.
"O mercado entendeu que não haverá muito ganho no pré [títulos prefixados], que, com esse fluxo forte, não vale a pena ficar "comprado" [acreditar na valorização] em dólar e que o melhor é a Bolsa", afirma Simino.
"Investidores, principalmente locais, voltaram otimistas. Tem gente tirando tudo da poupança para investir em ações. Mas o grande movimento já passou, a menos que suba o "rating'", afirma Thomazoni.
Analistas recomendam cautela a pequenos investidores que pensam somente agora em aplicar em ações. Há o risco de, se houver redução do fluxo para a Bovespa, aumentarem as vendas para embolsar os lucros, o que reduz a valorização das ações. Alguns gestores sugerem diminuir aos poucos as aplicações em Bolsa.

Inflação
O indicador de inflação mais importante desta semana é o IPCA de setembro, que sai na quinta-feira. A projeção média é de 0,70%. Se vier abaixo de 0,45% ou acima de 1%, pode mexer com as expectativas em relação ao ritmo de queda dos juros.
O mercado deve seguir focado nos Estados Unidos, onde começam a ser anunciados os resultados trimestrais de empresas.


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