São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Foco

Surpresos, empregados da GE no Rio de Janeiro querem benefícios extras

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O que fazer a partir de janeiro próximo é a questão que aflige os 900 funcionários da GE (General Electric) no Brasil, surpreendidos anteontem com o anúncio do fechamento da fábrica de Maria da Graça, na zona norte carioca. São trabalhadores antigos na empresa, muitos especializados em tarefas de difícil colocação no mercado, e que, dado o inesperado na notícia, ainda não sabem como será o ano de 2008.
Há 17 anos na fábrica da GE, o ferramenteiro Joel Alves, 48, é um caso típico de profissional tarimbado, com cursos de especialização, que desconhece o que o espera e à família (mulher, um casal de filhos e um neto) no ano que vem.
"Minha profissão tornou-se obsoleta. Já não se encontram com facilidade vagas para ferramenteiros no mercado. É a tal da globalização, imagino. Fomos todos pegos de surpresa. Realmente, não tive nem tempo para pensar no que vou fazer daqui para a frente", disse ele no fim da tarde de ontem ao deixar o trabalho.
Por causa da insalubridade de seu serviço, Alves tem direito a aposentadoria precoce (25 anos de trabalho), que já havia pedido antes de saber do fechamento da GE. Com o dinheiro da aposentadoria, mais as indenizações trabalhistas e um bônus financeiro prometido pela empresa, ele diz acreditar que tenha o suficiente para se manter desempregado um tempo ou abrir um pequeno negócio. Seu salário atual gira em torno de R$ 1.600.
A bonificação extra é a grande esperança dos funcionários para recomeçar a vida. Embora a GE ainda não tenha informado a eles quais os benefícios a que terão direito, os trabalhadores já falam em plano de saúde pago por pelo menos seis meses após a demissão, salários adicionais e, principalmente, o esforço empresarial para recolocá-los no mercado -ou na mesma função ou treinando-os para uma nova.
"Conto com essa ajuda da empresa. Ela prometeu isso. Pretendo continuar na profissão, vou procurar emprego, distribuir currículos. É muito triste. São 16 anos na empresa. Cresci aqui, como pessoa e como profissional. Não tenho do que reclamar, bola para a frente", disse a operadora de máquinas Sandra Melo, 35, remunerada mensalmente com R$ 750, com que se sustenta e à filha de 8 anos.
Há 21 anos na GE, o preparador de produtos químicos José Correia da Silva Filho, 44, conta que já imaginava um desfecho ruim para a crise que se intensificou com o apagão, em 2001. Desde então, pelo menos 800 empregados perderam o emprego na fábrica.
"Mas a gente nunca espera, nunca está preparado, a verdade é essa. Não sei o que vou fazer no futuro, não tenho nada planejado, nada previsto", disse ele, que é solteiro, mas que, com os R$ 1.000 de salário, ajuda os pais na velhice.
A GE informou ontem que, em breve, será divulgado o teor do que na fábrica está sendo chamado de "cesta de benefícios". A multinacional norte-americana anunciou que todos os profissionais serão assistidos. Segundo a empresa, o fechamento decorre da perda de rentabilidade e de um plano mundial de reestruturação do setor de iluminação.
Instalada há 70 anos em Maria da Graça, a GE ajudou a povoar uma área que até então era semi-rural. O subúrbio é basicamente residencial, com ruas estreitas de casas de família das classes média e baixa.


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