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Foco
Surpresos, empregados da GE no Rio de Janeiro querem benefícios extras
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O que fazer a partir de janeiro próximo é a questão que
aflige os 900 funcionários da
GE (General Electric) no Brasil, surpreendidos anteontem
com o anúncio do fechamento
da fábrica de Maria da Graça,
na zona norte carioca. São trabalhadores antigos na empresa, muitos especializados em
tarefas de difícil colocação no
mercado, e que, dado o inesperado na notícia, ainda não sabem como será o ano de 2008.
Há 17 anos na fábrica da GE,
o ferramenteiro Joel Alves, 48,
é um caso típico de profissional tarimbado, com cursos de
especialização, que desconhece o que o espera e à família
(mulher, um casal de filhos e
um neto) no ano que vem.
"Minha profissão tornou-se
obsoleta. Já não se encontram
com facilidade vagas para ferramenteiros no mercado. É a
tal da globalização, imagino.
Fomos todos pegos de surpresa. Realmente, não tive nem
tempo para pensar no que vou
fazer daqui para a frente", disse ele no fim da tarde de ontem
ao deixar o trabalho.
Por causa da insalubridade
de seu serviço, Alves tem direito a aposentadoria precoce (25
anos de trabalho), que já havia
pedido antes de saber do fechamento da GE. Com o dinheiro da aposentadoria, mais
as indenizações trabalhistas e
um bônus financeiro prometido pela empresa, ele diz acreditar que tenha o suficiente
para se manter desempregado
um tempo ou abrir um pequeno negócio. Seu salário atual
gira em torno de R$ 1.600.
A bonificação extra é a grande esperança dos funcionários
para recomeçar a vida. Embora a GE ainda não tenha informado a eles quais os benefícios
a que terão direito, os trabalhadores já falam em plano de
saúde pago por pelo menos
seis meses após a demissão,
salários adicionais e, principalmente, o esforço empresarial para recolocá-los no mercado -ou na mesma função ou
treinando-os para uma nova.
"Conto com essa ajuda da
empresa. Ela prometeu isso.
Pretendo continuar na profissão, vou procurar emprego,
distribuir currículos. É muito
triste. São 16 anos na empresa.
Cresci aqui, como pessoa e como profissional. Não tenho do
que reclamar, bola para a frente", disse a operadora de máquinas Sandra Melo, 35, remunerada mensalmente com R$
750, com que se sustenta e à filha de 8 anos.
Há 21 anos na GE, o preparador de produtos químicos
José Correia da Silva Filho, 44,
conta que já imaginava um
desfecho ruim para a crise que
se intensificou com o apagão,
em 2001. Desde então, pelo
menos 800 empregados perderam o emprego na fábrica.
"Mas a gente nunca espera,
nunca está preparado, a verdade é essa. Não sei o que vou fazer no futuro, não tenho nada
planejado, nada previsto", disse ele, que é solteiro, mas que,
com os R$ 1.000 de salário,
ajuda os pais na velhice.
A GE informou ontem que,
em breve, será divulgado o
teor do que na fábrica está sendo chamado de "cesta de benefícios". A multinacional norte-americana anunciou que todos os profissionais serão assistidos. Segundo a empresa, o
fechamento decorre da perda
de rentabilidade e de um plano
mundial de reestruturação do
setor de iluminação.
Instalada há 70 anos em
Maria da Graça, a GE ajudou a
povoar uma área que até então
era semi-rural. O subúrbio é
basicamente residencial, com
ruas estreitas de casas de família das classes média e baixa.
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