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São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

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ETERNO REGRESSO

"Não é possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", afirmou o petista pela manhã

Na África, Lula critica ajuste e nega acordo

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA A MAPUTO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Maputo, Moçambique, que o FMI (Fundo Monetário Internacional) "precisa mudar" e depois minimizou a importância das negociações. Segundo ele, qualquer acordo só poderá ser fechado numa base: o crescimento econômico.
"Não haverá acordo impeditivo de crescimento da nossa economia", declarou Lula em parte da entrevista. "O que vai predominar, na nossa visão, é o crescimento econômico", acrescentou em outra. Também chamou o acordo em gestação de "preventivo".
Horas antes de o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, anunciar o acordo ao lado da representante do FMI, Anne Krueger, Lula negou que a negociação estivesse para ser fechada. "Não é possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", disse. Lula telefonou para Palocci anteontem, ao saber por meio de jornalistas das versões de que o acordo seria anunciado.
Lula pediu explicações a Palocci sobre o que estava acontecendo no Brasil e ontem mandou distribuir aos jornalistas que cobrem a visita à África uma nota curta em que a Fazenda relativiza a presença de Krueger no Brasil. Segundo a nota, a Fazenda e o FMI "concluíram hoje [anteontem] da conveniência de se procurar continuar o relacionamento com o FMI no âmbito de um acordo".
Na entrevista de ontem, Lula tentou minimizar a importância do próprio acordo: "O Brasil não necessariamente precisa de um acordo com o FMI. Não precisa sequer dos US$ 8 bilhões que estão colocados à nossa disposição no acordo do passado".

Crítica ao ajuste
Lula também fez questão de dizer que o Brasil não está atrelado às rígidas regras do Fundo para o superávit fiscal: "O ajuste fiscal foi fracassado na maioria dos países. Os países estão precisando voltar a crescer, e é essa a base de qualquer acordo", disse, em entrevista ao lado do presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.
Segundo Lula, a decisão do Brasil de estabelecer um superávit fiscal de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para o próximo ano foi independente: "Foi uma decisão de governo, não do FMI". Tanto, disse, que o índice foi incluído em junho na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), antes das negociações.
"Nós poderemos manter na próxima LDO ou não", disse o presidente. "Até porque um superávit primário não dá para pagar 50% do que nós temos de pagar de juros", acrescentou.
Para o presidente, uma dívida de 50% ou até 60% do PIB não seria muita coisa, se essa dívida fosse pré-fixada e com prazos mais longos de pagamento. "O problema do Brasil é que no Brasil se paga todo dia e a dívida fica realmente cara". Como comparação, Lula citou a Itália, cuja dívida é de mais de 100% do PIB, mas isso não atrapalha sua economia.

Crescimento
Muito mais importante do que se comprometer com superávits altos, Lula diz que é garantir o interesse do Brasil de manter a retomada de crescimento.
Ele disse que todos os indicadores apontam para essa retomada: "Todos, mesmo os mais pessimistas dos analistas, sabem que a economia brasileira voltou a crescer".
A partir daí, citou de cabeça, inclusive, os setores em que esse crescimento começa a ser visível: indústria automobilística, de máquinas, papel, papelão e eletrodomésticos. "A economia está naquele ponto em que nós entendíamos que deveria estar. Não vai parar de crescer e nós não faremos nenhum acordo que impeça a economia brasileira de recuperar o tempo perdido", disse Lula.
"Nós queremos crescer muito nos próximos anos, para poder dar os empregos que o povo brasileiro tanto precisa", acrescentou o presidente.


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