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ETERNO REGRESSO
"Não é possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", afirmou o petista pela manhã
Na África, Lula critica ajuste e nega acordo
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA A MAPUTO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem em Maputo,
Moçambique, que o FMI (Fundo
Monetário Internacional) "precisa mudar" e depois minimizou a
importância das negociações. Segundo ele, qualquer acordo só poderá ser fechado numa base: o
crescimento econômico.
"Não haverá acordo impeditivo
de crescimento da nossa economia", declarou Lula em parte da
entrevista. "O que vai predominar, na nossa visão, é o crescimento econômico", acrescentou em
outra. Também chamou o acordo
em gestação de "preventivo".
Horas antes de o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
anunciar o acordo ao lado da representante do FMI, Anne Krueger, Lula negou que a negociação
estivesse para ser fechada. "Não é
possível haver acordo com o presidente estando em Moçambique", disse. Lula telefonou para
Palocci anteontem, ao saber por
meio de jornalistas das versões de
que o acordo seria anunciado.
Lula pediu explicações a Palocci
sobre o que estava acontecendo
no Brasil e ontem mandou distribuir aos jornalistas que cobrem a
visita à África uma nota curta em
que a Fazenda relativiza a presença de Krueger no Brasil. Segundo
a nota, a Fazenda e o FMI "concluíram hoje [anteontem] da conveniência de se procurar continuar o relacionamento com o
FMI no âmbito de um acordo".
Na entrevista de ontem, Lula
tentou minimizar a importância
do próprio acordo: "O Brasil não
necessariamente precisa de um
acordo com o FMI. Não precisa
sequer dos US$ 8 bilhões que estão colocados à nossa disposição
no acordo do passado".
Crítica ao ajuste
Lula também fez questão de dizer que o Brasil não está atrelado
às rígidas regras do Fundo para o
superávit fiscal: "O ajuste fiscal foi
fracassado na maioria dos países.
Os países estão precisando voltar
a crescer, e é essa a base de qualquer acordo", disse, em entrevista
ao lado do presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.
Segundo Lula, a decisão do Brasil de estabelecer um superávit fiscal de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) para o próximo ano
foi independente: "Foi uma decisão de governo, não do FMI".
Tanto, disse, que o índice foi incluído em junho na LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias), antes
das negociações.
"Nós poderemos manter na
próxima LDO ou não", disse o
presidente. "Até porque um superávit primário não dá para pagar
50% do que nós temos de pagar
de juros", acrescentou.
Para o presidente, uma dívida
de 50% ou até 60% do PIB não seria muita coisa, se essa dívida fosse pré-fixada e com prazos mais
longos de pagamento. "O problema do Brasil é que no Brasil se paga todo dia e a dívida fica realmente cara". Como comparação,
Lula citou a Itália, cuja dívida é de
mais de 100% do PIB, mas isso
não atrapalha sua economia.
Crescimento
Muito mais importante do que
se comprometer com superávits
altos, Lula diz que é garantir o interesse do Brasil de manter a retomada de crescimento.
Ele disse que todos os indicadores apontam para essa retomada:
"Todos, mesmo os mais pessimistas dos analistas, sabem que a economia brasileira voltou a crescer".
A partir daí, citou de cabeça, inclusive, os setores em que esse
crescimento começa a ser visível:
indústria automobilística, de máquinas, papel, papelão e eletrodomésticos. "A economia está naquele ponto em que nós entendíamos que deveria estar. Não vai parar de crescer e nós não faremos
nenhum acordo que impeça a
economia brasileira de recuperar
o tempo perdido", disse Lula.
"Nós queremos crescer muito
nos próximos anos, para poder
dar os empregos que o povo brasileiro tanto precisa", acrescentou
o presidente.
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