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Palocci contorna crise e
faz anúncio com Fundo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) contornou uma
crise com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para anunciar os detalhes do novo acordo do Brasil
com o FMI (Fundo Monetário Internacional), apurou a Folha.
Palocci falou com Lula ontem
por telefone, depois de o presidente, de manhã, ter dado declarações dizendo que o acordo não
sairia sem sua presença. Lula, em
viagem oficial à África, quis dar
demonstração de autoridade e interveio para evitar a imagem de
que Palocci cuidou sozinho do
acordo. No começo da noite, para
tentar preservar Lula, Palocci tratou do acordo como uma proposta do Brasil ao Fundo e não como
fato consumado. Na prática, porém, é fato consumado.
Segundo relato de auxiliares,
Lula ficou contrariado ao saber
que o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, anunciara
formalmente que o acordo seria
fechado ontem. Achou que pegaria mal para sua imagem.
A contrariedade de Lula, porém, não resultará em perda de
poder de Palocci. Pelo contrário.
O ministro fez o que quis. E não
foi a primeira vez. Em junho, depois de Lula ter dito ao ministro
Miro Teixeira (Comunicações)
que podia peitar um reajuste pretendido por companhias telefônicas, Palocci falou com Lula e atropelou o colega.
Como sabe que Lula se incomoda com as versões de que ele e o
ministro da Casa Civil, José Dirceu, são czares em suas áreas, Palocci telefonou ontem para Lula.
No telefonema, Palocci mencionou a importância de detalhar o
acordo para não ser deselegante
com a vice-diretora-gerente do
FMI, Anne Krueger, que veio de
Washington a Brasília especialmente para anunciar o acerto.
Palocci também atendeu ao pedido de Lula para cumprir um ritual político: deixar o vice José
Alencar, que está como interino
na Presidência, ciente dos detalhes do acordo. Palocci levou Anne Krueger para um encontro
com Alencar, na presença de Dirceu e do presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles. A
reunião foi apenas simbólica, para agradar Alencar, que costuma
criticar o próprio governo.
Por último, Palocci se reuniu
ontem à noite com parlamentares
petistas a fim de ganhar apoio no
partido à defesa do acordo. O PT é
crítico histórico do Fundo.
Ganho político
Lula quer transformar o acordo
em ganho político. Por ser o primeiro acordo negociado pelo PT
com o Fundo, deseja concessões
que lhe permitam vender politicamente que fez acordo mais vantajoso do que o negociado recentemente pela Argentina e do que os
três do governo FHC.
Ao dizer que buscava um acordo que favoreça o crescimento
econômico, Lula queria mais do
que os US$ 14 bilhões do Fundo
(US$ 8 bilhões da última parcela
do atual acordo e mais US$ 6 bilhões do novo acerto). Conseguiu
flexibilizar levemente o superávit
primário e alongar o pagamento
da dívida do Brasil com o FMI.
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