UOL


São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palocci contorna crise e faz anúncio com Fundo

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) contornou uma crise com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para anunciar os detalhes do novo acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional), apurou a Folha.
Palocci falou com Lula ontem por telefone, depois de o presidente, de manhã, ter dado declarações dizendo que o acordo não sairia sem sua presença. Lula, em viagem oficial à África, quis dar demonstração de autoridade e interveio para evitar a imagem de que Palocci cuidou sozinho do acordo. No começo da noite, para tentar preservar Lula, Palocci tratou do acordo como uma proposta do Brasil ao Fundo e não como fato consumado. Na prática, porém, é fato consumado.
Segundo relato de auxiliares, Lula ficou contrariado ao saber que o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, anunciara formalmente que o acordo seria fechado ontem. Achou que pegaria mal para sua imagem.
A contrariedade de Lula, porém, não resultará em perda de poder de Palocci. Pelo contrário. O ministro fez o que quis. E não foi a primeira vez. Em junho, depois de Lula ter dito ao ministro Miro Teixeira (Comunicações) que podia peitar um reajuste pretendido por companhias telefônicas, Palocci falou com Lula e atropelou o colega.
Como sabe que Lula se incomoda com as versões de que ele e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, são czares em suas áreas, Palocci telefonou ontem para Lula.
No telefonema, Palocci mencionou a importância de detalhar o acordo para não ser deselegante com a vice-diretora-gerente do FMI, Anne Krueger, que veio de Washington a Brasília especialmente para anunciar o acerto.
Palocci também atendeu ao pedido de Lula para cumprir um ritual político: deixar o vice José Alencar, que está como interino na Presidência, ciente dos detalhes do acordo. Palocci levou Anne Krueger para um encontro com Alencar, na presença de Dirceu e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A reunião foi apenas simbólica, para agradar Alencar, que costuma criticar o próprio governo.
Por último, Palocci se reuniu ontem à noite com parlamentares petistas a fim de ganhar apoio no partido à defesa do acordo. O PT é crítico histórico do Fundo.

Ganho político
Lula quer transformar o acordo em ganho político. Por ser o primeiro acordo negociado pelo PT com o Fundo, deseja concessões que lhe permitam vender politicamente que fez acordo mais vantajoso do que o negociado recentemente pela Argentina e do que os três do governo FHC.
Ao dizer que buscava um acordo que favoreça o crescimento econômico, Lula queria mais do que os US$ 14 bilhões do Fundo (US$ 8 bilhões da última parcela do atual acordo e mais US$ 6 bilhões do novo acerto). Conseguiu flexibilizar levemente o superávit primário e alongar o pagamento da dívida do Brasil com o FMI.


Texto Anterior: Na África, Lula critica ajuste e nega acordo
Próximo Texto: Decisão é do governo, diz ministro
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.