São Paulo, sexta-feira, 06 de novembro de 2009

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MARTIN FELDSTEIN

Por que o yuan precisa se valorizar


Um yuan mais forte reduziria o desequilíbrio doméstico da China e os desequilíbrios globais

LÍDERES GLOBAIS concordam que reduzir os desequilíbrios mundiais é uma prioridade.
Na prática, isso significa reduzir o deficit em conta-corrente de US$ 500 bilhões dos Estados Unidos e fazer encolher o superavit de US$ 350 bilhões da China. Todos os outros desequilíbrios em conta-corrente têm importância menor, comparados a esse.
Como um superavit em conta-corrente é a diferença entre a poupança de um país e os investimentos, esse consenso significa que os EUA precisam aumentar sua poupança nacional para depender menos de dinheiro estrangeiro. A China precisa elevar seus gastos domésticos para conservar o alto índice de emprego, sem exportar tanto.
Avanços estão sendo obtidos. O índice de poupança das famílias americanas subiu, movido pela necessidade que as famílias têm de reconstruir sua riqueza. Os lucros das empresas também estão começando a subir. Mas o aumento na poupança privada não basta para elevar a poupança nacional dos EUA se os deficit federais continuarem altos.
A China conseguiu elevar seus gastos domésticos por meio de incentivos fiscais e um crescimento explosivo do crédito. Os gastos reais dos consumidores chineses saltaram 15% nos últimos 12 meses. O governo chinês também gastou mais, com grandes aumentos nos investimentos em infraestrutura e com a construção de moradias.
Contudo, embora essas duas mudanças sejam necessárias para reduzir os desequilíbrios globais, não são o bastante. Também é necessário um ajuste nas taxas de câmbio.
O dólar precisa cair em relação a outras moedas para que os produtos americanos se tornem mais atraentes para os compradores estrangeiros e para levar os americanos a comprar bens e serviços americanos, em vez de importados. Sem isso, a alta nos gastos domésticos não fará mais do que enfraquecer a economia americana e elevar o desemprego. É por isso que a queda recente do dólar diante do euro, do iene e de outras moedas constitui parte natural e desejável do processo de redução do deficit comercial dos EUA e dos desequilíbrios globais.
Infelizmente, o governo chinês não vem deixando o yuan se valorizar. Com o dólar caindo em relação às outras grandes moedas, o câmbio fixo do yuan ante o dólar vem levando a divisa chinesa a cair em relação ao euro, ao iene e a outras moedas.
Com isso, o valor ponderado do yuan vem declinando, tornando os produtos chineses exportados mais atraentes e encarecendo os produtos estrangeiros vendidos na China.
O resultado tem sido um aumento nas exportações chinesas. Isso ajuda a elevar o PIB e o nível de emprego na China, mas impede que sejam reduzidos os desequilíbrios globais.
A política chinesa de manter o yuan fraco faz o dólar dos EUA ter de cair mais rapidamente ante o euro, o iene e outras moedas para alcançar a mesma queda ponderada do dólar.
Assim, a política da China de conservar o yuan fraco não só impede que seja corrigido o grande superavit em conta-corrente chinês como reduz as exportações europeias.
A política da China de ampliar os gastos domésticos e, ao mesmo tempo, manter o yuan baixo vai levar ao superaquecimento de sua economia, especialmente de seu setor manufatureiro. Permitir que o yuan subisse deslocaria a demanda na China do setor manufatureiro para o de serviços, prevenindo a inflação. Assim, um yuan mais forte reduziria o desequilíbrio doméstico da China e os desequilíbrios globais.
Felizmente, a economia chinesa se encontra em rápida expansão, e seu crescimento está ficando menos dependente das exportações. Quando ela tiver a confiança necessária para deixar o yuan subir, estaremos no caminho para uma redução dos desequilíbrios globais.


MARTIN FELDSTEIN é professor de economia na Universidade Harvard. Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".

Tradução de CLARA ALLAIN

Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.


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