São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010 |
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RAVI KANBUR E ESWAR PRASAD Elevar atribuições de BCs é arriscado
AS METAS de inflação se tornaram a estrutura preferencial de política monetária nos mercados emergentes. Seguindo o exemplo dos países desenvolvidos, a maior parte dos bancos centrais de países emergentes adotou estruturas sob as quais sua prioridade é manter os aumentos de preços abaixo de um determinado limite. As metas inflacionárias têm histórico positivo e são úteis nos mercados emergentes, nos quais a inflação alta é especialmente perniciosa por afetar mais aos mais pobres. Apesar de sua crescente popularidade, as metas de inflação começaram a sofrer pesados ataques depois que a crise financeira se alastrou. Os dirigentes de bancos centrais nos países desenvolvidos vêm sendo criticados por concentração excessiva na estabilidade de preços, por ignorarem bolhas nos mercados de ativos e por não terem conseguido prevenir a pior crise em uma geração. Muitos mercados emergentes suportaram relativamente bem a crise, mas seus bancos centrais estão enfrentando pressão pelo abandono das metas inflacionárias. Os críticos argumentam que as metas para a inflação podem ser prejudiciais nessas economias caso impliquem em ignorar as fortes flutuações nos mercados de câmbio e os ciclos de expansão e compressão nos mercados de ações e da habitação. Não existe dúvida de que os booms nos mercados de ativos alimentaram a crise mundial. Isso deu origem à ideia de que, além de sua meta de estabilidade de preços, os bancos centrais deveriam desinflar bolhas nos preços dos ativos a fim de manter a estabilidade financeira. No entanto, existe tensão profunda entre múltiplas metas para os bancos centrais e a independência operacional de que estes necessitam a fim de obter sucesso em suas metas inflacionárias. Objetivos mais amplos significam mais interferência e menos credibilidade no que tange a manter a inflação baixa. Essa tensão está se intensificando nos mercados emergentes, nos quais os bancos centrais são tradicionalmente responsáveis por uma ampla gama de metas econômicas e sociais, além da estabilidade financeira e de preços. Como os bancos centrais dos mercados emergentes deveriam se alternar entre esses objetivos? Não é realista esperar que a política monetária previna bolhas de ativos operando sem ajuda. Mas o principal instrumento de política monetária, a taxa de juros, tem nas metas de inflação o seu melhor uso. Caso os bancos centrais recebam responsabilidades adicionais, precisarão de novas ferramentas. Existem instrumentos mais adequados a administrar booms nos preços dos ativos -políticas regulatórias preventivas que encareceriam o endividamento na habitação e outros mercados de ativos e requisitos severos para empréstimos. A maior preocupação é determinar se os bancos centrais poderão manter a efetividade operacional e sua independência caso passem a sofrer de excesso de missões, caso tenham de perseguir mais e mais objetivos. De fato, a independência dessas instituições, precária mesmo nos melhores momentos, está sofrendo ataques em todo o mundo. Até mesmo o Congresso dos EUA está tomando medidas para reforçar a fiscalização do Fed (o BC do país). Em muitos mercados emergentes, os bancos centrais estão entre as instituições públicas mais bem geridas e confiáveis. Atribuir-lhes maiores responsabilidades é tentador. Mas isso deve ser feito com grande cautela, pois os tornaria menos efetivos naquilo em que se provaram competentes: controlar a inflação. RAVI KANBUR e ESWAR PRASAD são professores da Universidade Cornell. Este texto foi publicado originalmente pelo "Financial Times". Tradução de PAULO MIGLIACCI
Excepcionalmente hoje a coluna de PAULO NOGUEIRA
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