São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Entrada de dólar na renda fixa e Bolsa é a maior em 30 anos

País registra entrada líquida de US$ 18,8 bi na conta financeira no ano passado

Já no comércio exterior, saldo fica em US$ 9,9 bi, o menor em 9 anos e, pela 1ª vez desde 2000, é menor que o da conta financeira

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois da fuga de dólares verificada no final de 2008, o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil na área financeira registrou no ano passado o maior volume em quase 30 anos de estatísticas oficiais. De acordo com dados do Banco Central, a entrada de dólares no país por meio dessas operações superou a saída em US$ 18,8 bilhões.
Esse movimento inverteu, em parte, a saída de dinheiro registrada em 2008, de quase US$ 50 bilhões, por conta dos efeitos da crise global nas aplicações em Bolsa de Valores e renda fixa. Para 2010, as perspectivas são de mais recuperação, mas em um ritmo inferior ao de 2009.
A maior parte desses recursos entrou no país em outubro, mês em que houve a oferta de ações do Santander Brasil e várias captações por empresas brasileiras em busca de recursos no exterior. Além disso, muitos investidores se anteciparam à decisão do governo de taxar as operações estrangeiras no mercado financeiro. A cobrança de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) começou no final de outubro e ajudou a estabilizar o dólar na faixa entre R$ 1,70 e R$ 1,75.
Além das operações financeiras, o BC registra também o fluxo de dólares no comércio exterior, que teve em 2009 o pior resultado em nove anos (US$ 9,9 bilhões). Com isso, pela primeira vez desde 2000, o Brasil recebeu mais dólares pela área financeira do que pelo comércio internacional, tendência que deve se manter neste ano.
A piora nessa área se deu não só pela queda nas exportações brasileiras, mas também pelo fato de muitas empresas terem deixado parte dos dólares dessas operações fora do país -cerca de US$ 7,5 bilhões.
A soma dos resultados nas áreas financeira e comercial resultou em um fluxo positivo de US$ 28,7 bilhões, o terceiro maior da série oficial, iniciada em 1982. O recorde atual é de 2007 (US$ 87,4 bilhões). Em 2008, o fluxo havia ficado negativo em quase US$ 1 bilhão.
Essa entrada de dinheiro em 2009 explica, em parte, a queda de 25% registrada na cotação do dólar no ano passado, que poderia ter sido maior, não fossem as intervenções do BC no câmbio e as apostas do próprio mercado financeiro em relação à tendência da moeda. Os bancos, que começaram o ano apostando na desvalorização do dólar, terminaram 2009 com uma expectativa de valorização em relação ao real.
As previsões já divulgadas pelo governo e pelo mercado para 2010 mostram que os números do fluxo cambial não devem se repetir neste ano. Os investimentos na Bolsa e no mercado de títulos públicos, que respondem por boa parte do fluxo financeiro, devem cair quase 50%, prevê o BC. Também se projeta aumento no deficit nas transações do Brasil com o exterior, por conta da piora na balança comercial e do aumento das remessas de lucros das multinacionais.
Para o economista Sidnei Nehme, da corretora de câmbio NGO, nem mesmo o aumento nos investimentos estrangeiros no setor produtivo deve garantir resultado muito acima de R$ 15 bilhões no fluxo de dólares neste ano. "O resultado vai ser um pouco menor. O fluxo comercial pode até ficar negativo. E o financeiro também será mais fraco, até porque a Bolsa se valorizou bastante, e outros mercados podem se mostrar mais atrativos que o Brasil."


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