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Entrada de dólar na renda fixa e Bolsa é a maior em 30 anos
País registra entrada líquida de US$ 18,8 bi na conta financeira no ano passado
Já no comércio exterior, saldo fica em US$ 9,9 bi, o menor em 9 anos e, pela 1ª vez desde 2000, é menor que o da conta financeira
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois da fuga de dólares verificada no final de 2008, o fluxo de moeda estrangeira para o
Brasil na área financeira registrou no ano passado o maior
volume em quase 30 anos de
estatísticas oficiais. De acordo
com dados do Banco Central, a
entrada de dólares no país por
meio dessas operações superou
a saída em US$ 18,8 bilhões.
Esse movimento inverteu,
em parte, a saída de dinheiro
registrada em 2008, de quase
US$ 50 bilhões, por conta dos
efeitos da crise global nas aplicações em Bolsa de Valores e
renda fixa. Para 2010, as perspectivas são de mais recuperação, mas em um ritmo inferior
ao de 2009.
A maior parte desses recursos entrou no país em outubro,
mês em que houve a oferta de
ações do Santander Brasil e várias captações por empresas
brasileiras em busca de recursos no exterior. Além disso,
muitos investidores se anteciparam à decisão do governo de
taxar as operações estrangeiras
no mercado financeiro. A cobrança de IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras) começou no final de outubro e ajudou a estabilizar o dólar na faixa entre R$ 1,70 e R$ 1,75.
Além das operações financeiras, o BC registra também o fluxo de dólares no comércio exterior, que teve em 2009 o pior
resultado em nove anos (US$
9,9 bilhões). Com isso, pela primeira vez desde 2000, o Brasil
recebeu mais dólares pela área
financeira do que pelo comércio internacional, tendência
que deve se manter neste ano.
A piora nessa área se deu não
só pela queda nas exportações
brasileiras, mas também pelo
fato de muitas empresas terem
deixado parte dos dólares dessas operações fora do país
-cerca de US$ 7,5 bilhões.
A soma dos resultados nas
áreas financeira e comercial resultou em um fluxo positivo de
US$ 28,7 bilhões, o terceiro
maior da série oficial, iniciada
em 1982. O recorde atual é de
2007 (US$ 87,4 bilhões). Em
2008, o fluxo havia ficado negativo em quase US$ 1 bilhão.
Essa entrada de dinheiro em
2009 explica, em parte, a queda
de 25% registrada na cotação
do dólar no ano passado, que
poderia ter sido maior, não fossem as intervenções do BC no
câmbio e as apostas do próprio
mercado financeiro em relação
à tendência da moeda. Os bancos, que começaram o ano
apostando na desvalorização
do dólar, terminaram 2009
com uma expectativa de valorização em relação ao real.
As previsões já divulgadas
pelo governo e pelo mercado
para 2010 mostram que os números do fluxo cambial não devem se repetir neste ano. Os investimentos na Bolsa e no mercado de títulos públicos, que
respondem por boa parte do
fluxo financeiro, devem cair
quase 50%, prevê o BC. Também se projeta aumento no deficit nas transações do Brasil
com o exterior, por conta da
piora na balança comercial e do
aumento das remessas de lucros das multinacionais.
Para o economista Sidnei
Nehme, da corretora de câmbio
NGO, nem mesmo o aumento
nos investimentos estrangeiros
no setor produtivo deve garantir resultado muito acima de R$
15 bilhões no fluxo de dólares
neste ano. "O resultado vai ser
um pouco menor. O fluxo comercial pode até ficar negativo.
E o financeiro também será
mais fraco, até porque a Bolsa
se valorizou bastante, e outros
mercados podem se mostrar
mais atrativos que o Brasil."
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