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Cristina pede a renúncia do presidente do BC argentino
Martín Redrado se nega a sair; divergência é sobre fundo para pagar dívida
Carta orgânica do BC prevê que o Executivo precisa da aprovação de uma comissão do Senado para remover o presidente da instituição
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A presidente da Argentina,
Cristina Kirchner, pediu ontem a renúncia do presidente
do Banco Central, Martín Redrado. Até a conclusão desta
edição, Redrado se recusava a
entregar o cargo, para o qual
tem mandato até setembro.
A Casa Rosada indicou que
pedirá na Justiça a destituição
de Redrado, caso ele insista na
negativa à renúncia. A ""carta
orgânica" do Banco Central argentino determina que, para
remover o presidente da entidade, o Executivo deve contar
com a aprovação de uma comissão do Senado.
O Congresso argentino está
em recesso. Ainda assim, senadores da oposição a Cristina se
reuniram ontem com Redrado,
na sede do Banco Central.
Os parlamentares defenderam a permanência de Redrado
no cargo e, ao sair do encontro,
afirmaram que ele está ""firme
nessa decisão".
A origem do choque entre a
área econômica do governo e o
Banco Central é o decreto presidencial editado no último dia
15, criando o Fundo do Bicentenário, com US$ 6,5 bilhões de
reservas do Banco Central, para garantir o pagamento da dívida pública em 2010.
Em desacordo com a medida,
Redrado age desde então para
evitar colocá-la em prática. O
Banco Central pediu ao governo garantias de que as reservas
destinadas ao fundo não seriam
interceptadas pelos credores
argentinos chamados ""holdouts" -que recusaram a oferta de troca da dívida não paga
proposta em 2004.
Num claro recado ao governo, Redrado escreveu, em seu
""Programa Monetário de
2010", que é ""crucial o retorno
aos mercados internacionais
[de crédito] sem nenhum tipo
de atalho".
O governo inscreveu o lançamento do Fundo do Bicentenário no conjunto de medidas que
vem tomando para voltar ao
mercado de crédito.
Além de respaldar o receio de
Redrado em relação aos ""holdouts", críticos do governo acusaram a Casa Rosada de ferir
com a instituição do fundo a independência da autoridade
monetária e pôr em risco o
cumprimento de sua prioridade -o controle da inflação.
O ministro da Economia,
Amado Boudou, reagiu ontem a
essas críticas lançando suspeita
sobre seus autores. Depois de
dizer que ""estamos vendo uma
espécie de aliança contrária a
uma medida que tem a maior
racionalidade", Boudou afirmou que ""os interesses" de
quem ataca a criação do fundo
""parecem ser o máximo nível
de endividamento [do país], o
máximo nível de incerteza, a
máxima taxa de juros".
A Argentina fechou 2009
com US$ 48 bilhões em reservas -o nível de reservas do Brasil atingiu US$ 239 bilhões.
Boudou afirma haver ""um excedente de US$ 18 bilhões", o
que tornaria ""muito racional o
uso de cerca de 37% dessas reservas para a composição do
fundo, que assegura a sustentação do crescimento do país".
A Casa Rosada chegou a
anunciar o economista Mario
Blejer como substituto de Redrado. Da França, Blejer negou
ter aceitado o cargo.
O mercado reagiu à polêmica
com queda nas ações do índice
Merval e leve aumento do dólar. ""É um conflito de poderes.
O Congresso também está envolvido. Isso vai afetar ainda
mais a confiança [dos investidores]", avaliou o consultor
Manuel Solanet.
A Associação dos Bancos Argentinos pediu a renúncia de
Redrado, para ""preservar a estabilidade do sistema".
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