São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Cristina pede a renúncia do presidente do BC argentino

Martín Redrado se nega a sair; divergência é sobre fundo para pagar dívida

Carta orgânica do BC prevê que o Executivo precisa da aprovação de uma comissão do Senado para remover o presidente da instituição

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu ontem a renúncia do presidente do Banco Central, Martín Redrado. Até a conclusão desta edição, Redrado se recusava a entregar o cargo, para o qual tem mandato até setembro.
A Casa Rosada indicou que pedirá na Justiça a destituição de Redrado, caso ele insista na negativa à renúncia. A ""carta orgânica" do Banco Central argentino determina que, para remover o presidente da entidade, o Executivo deve contar com a aprovação de uma comissão do Senado.
O Congresso argentino está em recesso. Ainda assim, senadores da oposição a Cristina se reuniram ontem com Redrado, na sede do Banco Central.
Os parlamentares defenderam a permanência de Redrado no cargo e, ao sair do encontro, afirmaram que ele está ""firme nessa decisão".
A origem do choque entre a área econômica do governo e o Banco Central é o decreto presidencial editado no último dia 15, criando o Fundo do Bicentenário, com US$ 6,5 bilhões de reservas do Banco Central, para garantir o pagamento da dívida pública em 2010.
Em desacordo com a medida, Redrado age desde então para evitar colocá-la em prática. O Banco Central pediu ao governo garantias de que as reservas destinadas ao fundo não seriam interceptadas pelos credores argentinos chamados ""holdouts" -que recusaram a oferta de troca da dívida não paga proposta em 2004.
Num claro recado ao governo, Redrado escreveu, em seu ""Programa Monetário de 2010", que é ""crucial o retorno aos mercados internacionais [de crédito] sem nenhum tipo de atalho".
O governo inscreveu o lançamento do Fundo do Bicentenário no conjunto de medidas que vem tomando para voltar ao mercado de crédito.
Além de respaldar o receio de Redrado em relação aos ""holdouts", críticos do governo acusaram a Casa Rosada de ferir com a instituição do fundo a independência da autoridade monetária e pôr em risco o cumprimento de sua prioridade -o controle da inflação.
O ministro da Economia, Amado Boudou, reagiu ontem a essas críticas lançando suspeita sobre seus autores. Depois de dizer que ""estamos vendo uma espécie de aliança contrária a uma medida que tem a maior racionalidade", Boudou afirmou que ""os interesses" de quem ataca a criação do fundo ""parecem ser o máximo nível de endividamento [do país], o máximo nível de incerteza, a máxima taxa de juros".
A Argentina fechou 2009 com US$ 48 bilhões em reservas -o nível de reservas do Brasil atingiu US$ 239 bilhões. Boudou afirma haver ""um excedente de US$ 18 bilhões", o que tornaria ""muito racional o uso de cerca de 37% dessas reservas para a composição do fundo, que assegura a sustentação do crescimento do país".
A Casa Rosada chegou a anunciar o economista Mario Blejer como substituto de Redrado. Da França, Blejer negou ter aceitado o cargo.
O mercado reagiu à polêmica com queda nas ações do índice Merval e leve aumento do dólar. ""É um conflito de poderes. O Congresso também está envolvido. Isso vai afetar ainda mais a confiança [dos investidores]", avaliou o consultor Manuel Solanet.
A Associação dos Bancos Argentinos pediu a renúncia de Redrado, para ""preservar a estabilidade do sistema".


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