|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise da dívida é o 1º grande teste do euro
Dificuldades enfrentadas por Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália põem à prova a união monetária, criada há 11 anos
O euro perdeu quase 6%
de valor frente ao dólar; analistas veem risco para o sistema bancário caso um dos 16 países deixe o bloco
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O despertar do mercado para
a crise da dívida na Grécia, em
Portugal, na Espanha, na Irlanda e na Itália fez mais do que
derrubar títulos desses países e
balançar seus governos. O que
está à prova é o euro e o conceito de moeda comum em si.
Economistas já se alinharam
dos dois lados para examinar
até que ponto é possível uma
união monetária abarcando 16
países com finanças tão díspares. De consenso, o único que
emergiu é que a turbulência
atual é o maior teste da moeda
em seus 11 anos. Em um mês, o
euro perdeu caiu quase 6%.
As regras da União Europeia
impõem o teto de 3% sobre o
deficit público. O limite é sempre desrespeitado pelos mais
ricos (na Alemanha, o deficit
deve ir a 6,5%). Mas virtualmente não há dúvida do pulso
do governo ou de sua solvência.
Já em quatro dos países em
questão o deficit paira em 10%
-12,7% na Grécia- e a credibilidade dos governos rareia. Sem
margem para moldar a política
monetária, nas mãos do Banco
Central Europeu, é na capacidade de enxugar as contas que
se ampara o dilema. Para voltar
aos trilhos e dissipar a histeria
do mercado, Atenas, Lisboa e
Madri propuseram pacotes fiscais austeros, com cortes drásticos em seus Orçamentos.
O teste do euro mora exatamente no resultado dessas promessas e, sobretudo, na reação
dos demais integrantes do bloco caso elas fracassem.
Embora as economias mais
fracas tenham recebido injeções de dinheiro, Maastricht
veta operações-resgate da UE.
Caso um desses governos se
mostre inábil, empréstimos e
crédito teriam de vir de um governo específico ou do Fundo
Monetário Internacional.
Eliminar pela raiz o problema não está em questão. Maastricht não permite a expulsão
de um país da zona do euro.
A escolha de deixar a união
monetária caberia ao próprio
governo -e, como defende relatório do banco suíço UBS, a
possibilidade é quase nula se levado em conta que os correntistas poderiam sacar depósitos
em euro antes da mudança.
Boa parte dos analistas defende que, em último caso, os
vizinhos acorreriam. Mas a
operação não deixa de ser delicada, pois exigiria dos governos
capital político alto para explicar aos contribuintes por que
estão pagando a conta do vizinho perdulário -fantasma que
ronda o euro desde 1999.
Ademais, será preciso certificar de que o saco tem fundo,
sob pena de criar uma bola de
neve que ponha abaixo a união
monetária. "Nada iria incentivar mais os gastos despudorados do que a consciência de que
outros países estarão lá para intervir", diz a revista "Economist", que chama a Grécia de
"não-merecedora" citando vários problemas de governança.
A outra opção, o FMI, pode
ser mais prática na visão dos
economistas, por se tratar de
um organismo bem estabelecidos e um chicote poderoso para
colocar Atenas na linha. Mas é
vista pelos países do euro como
um atestado de que não deram
conta de resolver os próprios
problemas. Com a cotação geopolítica em baixa, moral não é
um fator a desprezar.
Outra questão por responder
recai nos estímulos fiscais adotados durante a fase aguda da
crise. "A recuperação da Europa é a mais anêmica, e tem de lidar com a retirada dos estímulos, o que reduzirá seu crescimento", escreve Sebastian Mallaby, diretor do centro de estudos geoeconômicos do Council
on Foreign Relations. "Mesmo
sem retirá-los, só a falta de confiança nos governos por conta
dos deficit já vai minar o crescimento. Logo, a Europa não tem
opção senão apertar o Orçamento dessas economias."
Mallaby lembra que o consumo será afetado -a taxa de
poupança europeia já voltou a
subir. "Isso é ruim para o crescimento em qualquer lugar. A
resposta pode ser o BCE agir
mais agressivamente e rever o
plano de retirar os estímulos."
Texto Anterior: Albert Fishlow: St. Valentine's Day Próximo Texto: Países do G7 devem manter estímulos Índice
|