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MERCADO TENSO
Papéis das empresas exportadoras são premiados, enquanto os das companhias endividadas são punidos
Real fraco muda as apostas na Bolsa
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
O mercado financeiro já definiu suas apostas
para o ano de
1999. Com a desvalorização do
real, ganham
principalmente
as empresas exportadoras ou que
têm o preço de seus produtos fixados em dólar. Os maiores perdedores são os que têm dívidas em moeda norte-americana ou dependem
muito do mercado interno.
Pode-se tirar essa conclusão a
partir de um estudo feito pela consultoria Economática. A Economática mapeou os resultados das
ações mais negociadas na Bolsa de
Valores de São Paulo, de 12 de janeiro, véspera da desvalorização
do real, a 4 de fevereiro.
Das 68 empresas analisadas, 19
apresentaram valorização em dólar. Ou seja, o preço das ações subiu o suficiente para compensar as
perdas com a desvalorização do
real e ainda apresentar ganhos levando-se em conta o valor fixado
em moeda norte-americana.
Alguns ganhos foram bastante
expressivos: as ações da empresa
produtora de papel e celulose do
grupo Votorantim (VCP) subiram
45,68% em menos de um mês. Se o
preço da empresa fosse calculado
pelos papéis que negocia na Bolsa,
o valor da VCP teria saltado de US$
341,6 milhões para US$ 497,7 milhões desde o dia 12 de janeiro.
A maioria das empresas negociadas na Bolsa, porém, perdeu valor.
Das 68 ações analisadas, 49 caíram.
A maior perda foi registrada nas
ações da Cerj, a Companhia Elétrica do Rio de Janeiro, que desvalorizaram 53,46%. O preço da empresa na Bolsa caiu de US$ 421 milhões para US$ 196 milhões.
Pânico
Há uma lógica por trás das movimentações do mercado financeiro.
Os investidores estão premiando
as empresas que terão aumento de
receita com a desvalorização porque exportam ou porque o preço
de seus produtos é vendido no
mercado interno, mas com preço
fixado em dólar.
Entre as 19 empresas que se valorizaram, sete vendem minério, aço
ou papel e celulose. Outras oito são
companhias de telecomunicações,
mas, nesse caso, a valorização
ocorreu como resultado do pânico
no mercado financeiro.
"O medo do calote nos investimentos em renda fixa levou muitos investidores a aplicar em ações,
principalmente nas de telecomunicações, que são muito negociadas", diz Mauro Cunha, analista da
administradora de recursos Investidor Profissional.
Entre as empresas que sofreram
maior desvalorização, a maioria
tem dívida em dólares e a receita fixada em reais. Ou seja: terão de arrecadar mais reais para honrar
seus débitos em dólar, num ano de
pesada retração econômica.
Nos cálculos de Tomas Awad, do
banco Patente, a Light tinha US$
1,3 bilhão em dívidas sem proteção, ou seja, com contratos que garantissem o direito de compra de
dólares na antiga cotação. A desvalorização trouxe um acréscimo de
R$ 500 milhões na dívida da empresa, cujos papéis caíram 40,58%
desde 12 de janeiro.
Um estudo do banco Patrimônio
mostra o peso da oscilação do real
nas vendas e na dívida das empresas. Uma das empresas mais claramente beneficiadas pela desvalorização é a Aracruz.
De acordo com o levantamento,
93,3% dos ganhos da Aracruz são
cotados em dólar e, portanto, devem aumentar. Em contrapartida,
apenas 5% dos custos de produção
da empresa são em moeda norte-americana.
A conta poderia ser ainda mais
favorável para a siderúrgica de Tubarão (CST), que tem 97% de sua
receita em dólar. Mas 40% de seus
custos de produção também
acompanham a cotação do dólar.
"O desempenho das empresas vai
depender do impacto da desvalorização. Quem depende apenas de
receita em reais vai sofrer mais
porque haverá retração na economia", diz Victor Moraes, diretor
do banco Patrimônio.
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