São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para economista, problema maior do país é seqüência de maus resultados, e não apenas a retração de 2003

PIB do Brasil fica na "lanterna", diz estudo

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que a economia brasileira amargou queda de 0,2%, as economias de emergentes que experimentaram crises financeiras cresceram de forma significativa (exceção feita ao México), a China se expandiu 9,1%, e os EUA, 3,1%. O desempenho do Brasil só pode ser comparado aos dos principais países da zona do euro, às voltas com déficits fiscais e valorização de 20% de sua moeda comum -o que inibe as exportações.
Levantamento da consultoria Global Invest mostra que, em 2003, o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro esteve no mesmo patamar da França (que cresceu 0,2%) e da Alemanha (um recuo de 0,1%). Para o economista Fernando Ferreira, o alarmante (em suas palavras) não é o PIB do ano passado, de forma isolada, mas a seqüência de maus desempenhos ao longo de uma década. Desde 1995, a taxa média de crescimento do Brasil não supera 2,2%, ante 3,7% de média mundial e 4,9% dos emergentes.
Países que experimentaram crises mais profundas que a brasileira, argumenta, se recuperaram de forma mais rápida. Uma das explicações do governo é que a retração do PIB de 2003 (o valor do Produto Interno Bruto em reais será conhecido no próximo mês) deveu-se em parte aos efeitos herdados do processo eleitoral de 2002 -quando os investidores temiam a ascensão (que se confirmaria depois) de um candidato de esquerda.
Em 1998, com a crise que resultou na desvalorização do rublo e em uma moratória, a economia da Rússia encolheu 4,9%. Em 1999, subiria 5,4% -economistas ressaltam que a base de comparação, medíocre, permite uma melhora acentuada no ano seguinte. Mas em 2000, quando o efeito estatístico estaria absorvido, o PIB da Rússia cresceu 9%. Desde a crise, a taxa média de crescimento russa tem se mantido em 4,74% -no ano passado, o PIB do país se expandiu 7,3%.
Antes, em 1995, quando da abrupta desvalorização de sua moeda -que deflagrou o ""efeito tequila" desestabilizando a economia global-, o México encolheu 6,2%. Entre 1996 e 2000, no entanto, o PIB mexicano aumentaria em média 5,44% ao ano. Entrou em recessão em 2001 (recuo 0,2% do PIB), na esteira da freada dos EUA, com o qual mantém relações econômicas umbilicais. Mesmo assim, o crescimento da economia do México em 2003 foi superior ao do Brasil: subiu 1,3%.
Eleita nova pária do mercado internacional, a Argentina, que decretou em 2001 uma moratória de sua dívida externa, estimada em US$ 130 bilhões, viu seu PIB amargar perda de 10,8% em 2002. No final do ano passado, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, o respeitado braço da ONU para o continente) estimava que a economia argentina cresceria 7,3%. Em fevereiro, o Indec (equivalente argentino do IBGE) divulgou um relatório preliminar que aponta uma expansão de 8,4% no PIB. Para este ano, a projeções de crescimento oscilam entre 5% e 6%. ""O que se percebe, como tendência, é a queda brusca do PIB nos 12 meses posteriores à crise. Na seqüência, no entanto, observa-se recuperação em um período médio de um ano, com a retomada de crescimento, em muitos casos expressivo", escreve Ferreira.
Entre 1995 e 2003, o PIB do Brasil aumentou em média 2,06% ao ano. Nesse período, os melhores desempenhos aconteceram em 1995 (ano seguinte à adoção do Plano Real), quando o PIB cresceu 4,2%, e em 2000, 4,4%. Em 1999, por exemplo, mesmo com a derrocada do regime de paridade cambial, o PIB brasileiro ainda registrou variação positiva, de 0,8%.
Ferreira atribuiu o medíocre resultado de 2003 a um único fator: a aplicação de uma política monetária ""excessivamente restritiva" durante todo o primeiro semestre do ano passado. ""Embora acertada, de início, comprometeu o crescimento do ano inteiro", relembra, em análise que encontra respaldo em outros organismos e bancos. ""O Brasil continua em primeiro no ranking das maiores taxas de juros reais projetadas, o que faz com que o investimento no mercado financeiro seja mais rentável e atraia mais recursos do que o que poderia ser direcionado ao setor produtivo", argumenta.
Não bastasse, segundo o economista, a necessidade de um afrouxamento da política monetária (a taxa básica de juros se manteve em 16,5% em janeiro e fevereiro e, pela sinalização da ata do Copom, pode permanecer inalterada em março), o governo deveria se preparar para um período de retração da liquidez internacional -quando do inevitável aumento de juros nos EUA e na Europa.



Texto Anterior: Operário diz que adicional nem sempre é lucro
Próximo Texto: Panorâmica - Alumínio: Alcoa retoma investimento no Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.