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Para economista, problema maior do país é seqüência de maus resultados, e não apenas a retração de 2003
PIB do Brasil fica na "lanterna", diz estudo
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que a economia brasileira amargou queda de 0,2%, as
economias de emergentes que experimentaram crises financeiras
cresceram de forma significativa
(exceção feita ao México), a China
se expandiu 9,1%, e os EUA, 3,1%.
O desempenho do Brasil só pode
ser comparado aos dos principais
países da zona do euro, às voltas
com déficits fiscais e valorização
de 20% de sua moeda comum
-o que inibe as exportações.
Levantamento da consultoria
Global Invest mostra que, em
2003, o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro esteve no mesmo patamar da França (que cresceu 0,2%) e da Alemanha (um recuo de 0,1%). Para o
economista Fernando Ferreira, o
alarmante (em suas palavras) não
é o PIB do ano passado, de forma
isolada, mas a seqüência de maus
desempenhos ao longo de uma
década. Desde 1995, a taxa média
de crescimento do Brasil não supera 2,2%, ante 3,7% de média
mundial e 4,9% dos emergentes.
Países que experimentaram crises mais profundas que a brasileira, argumenta, se recuperaram de
forma mais rápida. Uma das explicações do governo é que a retração do PIB de 2003 (o valor do
Produto Interno Bruto em reais
será conhecido no próximo mês)
deveu-se em parte aos efeitos herdados do processo eleitoral de
2002 -quando os investidores
temiam a ascensão (que se confirmaria depois) de um candidato
de esquerda.
Em 1998, com a crise que resultou na desvalorização do rublo e
em uma moratória, a economia
da Rússia encolheu 4,9%. Em
1999, subiria 5,4% -economistas
ressaltam que a base de comparação, medíocre, permite uma melhora acentuada no ano seguinte.
Mas em 2000, quando o efeito estatístico estaria absorvido, o PIB
da Rússia cresceu 9%. Desde a crise, a taxa média de crescimento
russa tem se mantido em 4,74%
-no ano passado, o PIB do país
se expandiu 7,3%.
Antes, em 1995, quando da
abrupta desvalorização de sua
moeda -que deflagrou o ""efeito
tequila" desestabilizando a economia global-, o México encolheu 6,2%. Entre 1996 e 2000, no
entanto, o PIB mexicano aumentaria em média 5,44% ao ano. Entrou em recessão em 2001 (recuo
0,2% do PIB), na esteira da freada
dos EUA, com o qual mantém relações econômicas umbilicais.
Mesmo assim, o crescimento da
economia do México em 2003 foi
superior ao do Brasil: subiu 1,3%.
Eleita nova pária do mercado
internacional, a Argentina, que
decretou em 2001 uma moratória
de sua dívida externa, estimada
em US$ 130 bilhões, viu seu PIB
amargar perda de 10,8% em 2002.
No final do ano passado, a Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe, o respeitado braço da ONU para o
continente) estimava que a economia argentina cresceria 7,3%.
Em fevereiro, o Indec (equivalente argentino do IBGE) divulgou
um relatório preliminar que
aponta uma expansão de 8,4% no
PIB. Para este ano, a projeções de
crescimento oscilam entre 5% e
6%. ""O que se percebe, como tendência, é a queda brusca do PIB
nos 12 meses posteriores à crise.
Na seqüência, no entanto, observa-se recuperação em um período
médio de um ano, com a retomada de crescimento, em muitos casos expressivo", escreve Ferreira.
Entre 1995 e 2003, o PIB do Brasil aumentou em média 2,06% ao
ano. Nesse período, os melhores
desempenhos aconteceram em
1995 (ano seguinte à adoção do
Plano Real), quando o PIB cresceu 4,2%, e em 2000, 4,4%. Em
1999, por exemplo, mesmo com a
derrocada do regime de paridade
cambial, o PIB brasileiro ainda registrou variação positiva, de 0,8%.
Ferreira atribuiu o medíocre resultado de 2003 a um único fator:
a aplicação de uma política monetária ""excessivamente restritiva"
durante todo o primeiro semestre
do ano passado. ""Embora acertada, de início, comprometeu o
crescimento do ano inteiro", relembra, em análise que encontra
respaldo em outros organismos e
bancos. ""O Brasil continua em
primeiro no ranking das maiores
taxas de juros reais projetadas, o
que faz com que o investimento
no mercado financeiro seja mais
rentável e atraia mais recursos do
que o que poderia ser direcionado
ao setor produtivo", argumenta.
Não bastasse, segundo o economista, a necessidade de um afrouxamento da política monetária (a
taxa básica de juros se manteve
em 16,5% em janeiro e fevereiro e,
pela sinalização da ata do Copom,
pode permanecer inalterada em
março), o governo deveria se preparar para um período de retração da liquidez internacional
-quando do inevitável aumento
de juros nos EUA e na Europa.
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