|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AGENDA POSITIVA
Sem recursos para projetos ambiciosos, PT resgatará promessas e impulsionará propostas econômicas emperradas
Governo prepara medidas a conta-gotas
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com poucas alternativas à disposição e ainda menos recursos
para pôr em prática propostas
ambiciosas, o governo se esforça
para dar forma a um conjunto de
medidas capazes de responder, ao
mesmo tempo, à crise política detonada pelo caso Waldomiro Diniz e às críticas à política econômica, impulsionadas pela divulgação da queda de 0,2% do Produto Interno Bruto em 2003.
Segundo a Folha apurou, o Ministério da Fazenda estuda divulgar nos próximos dias um documento contendo uma relação de
medidas e projetos destinados a
impulsionar o que, na retórica oficial, será o início de um ciclo de
crescimento econômico.
A idéia, porém, é tratada com
cautela. Teme-se criar uma expectativa por medidas de impacto
-o que, muito provavelmente,
resultaria em frustração. Certa
mesmo é a divulgação a conta-gotas de iniciativas capazes de mostrar que o governo não está paralisado ante as atuais adversidades.
Tal estratégia tem sido recorrente nas últimas crises políticas e
econômicas. O roteiro, em andamento, inclui apressar providências que já vinham
sendo estudadas, impulsionar
propostas emperradas no Congresso e reciclar promessas.
Paulo Bernardo (PT-PR), um
dos deputados mais afinados com
a equipe econômica, discorda do
ceticismo normalmente reservado à chamada "agenda positiva":
"É claro que queremos abafar a
crise; estranho seria se quiséssemos alimentá-la. Mas não é só isso: há mesmo uma agenda importante pela frente".
Na pauta legislativa estão, de fato, projetos considerados prioritários, como a reforma tributária,
a Lei de Falências e as regras das
PPPs (Parcerias Público-Privadas). No Executivo, o caso mais
sonoro é o da política industrial,
prometida desde as eleições.
Nada disso, entretanto, tem peso suficiente para competir com o
tema que mais excita o governo e
sua base aliada, em especial o PT:
a macroeconomia, ou, mais precisamente, as pressões pelo abrandamento das políticas de gastos
em baixa e juros em alta.
No primeiro caso, o da política
fiscal, o governo tomou a dianteira. O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva fez saber que tem buscado o apoio dos países ricos para
mudar regras do acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e viabilizar mais investimentos em infra-estrutura.
Já o ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) relançou, com
ênfase maior, a proposta de adotar a partir do próximo ano um
novo modelo de política, na qual
o controle de gastos será maior
em momentos de crescimento
econômico e menor na recessão.
Isso pode esconder outros objetivos: o empenho de Lula parece
um sinal de que o acordo com o
FMI e suas restrições, que expiram no fim do ano, serão renovados, ainda que em outros termos;
a idéia de Palocci, por sua vez, serviria para manter o arrocho neste
e no próximo ano.
Mas a simples abertura do debate é o bastante para despertar a
base petista. O líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), crítico da rigidez das regras do FMI, foi o primeiro a defender publicamente, ainda em
2003, a proposta de combinar as
metas fiscais e a variação do PIB.
"É o que fazem os EUA: quando
a economia parou, eles baixaram
os juros e aumentaram o déficit
público. É claro que não somos os
EUA, mas podemos adotar uma
política mais inteligente", diz
Mercadante.
Texto Anterior: Diversões: Playcenter corta gastos e "aposenta" brinquedos Próximo Texto: Lula oferecerá casa popular a juro zero Índice
|