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Governo reduz ganho da poupança e FGTS
Medida ocorre após pressão dos bancos; Mantega afirma que, com taxas de juros menores, "é natural queda do rendimento"
Poupança, que não paga taxa de administração, vinha rivalizando com fundos; perda estimada é de 0,5 ponto percentual ao ano
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo promoveu uma
mudança no cálculo da TR (Taxa Referencial) que, na prática,
vai reduzir o rendimento da caderneta de poupança e das contas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) dentro de alguns meses.
Estima-se que a perda seja de
cerca de 0,5 ponto percentual
ao ano. Por outro lado, quem
tem dívida corrigida pela TR,
como a maior parte dos financiamentos habitacionais, terá
uma correção menor da prestação e do saldo devedor.
A decisão foi tomada pelo
CMN (Conselho Monetário
Nacional), formado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e pelos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Guido Mantega (Fazenda). Atende a reivindicação
dos bancos, preocupados com a
concorrência da poupança com
seus fundos de investimento.
A reunião extraordinária do
CMN foi anteontem, mas a decisão só foi divulgada ontem.
Na prática, a mudança afetará cerca de 75 milhões de aplicadores em poupança, segundo
a Abecip (Associação Brasileira
das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança). Segundo a
Caixa Econômica Federal, há
514 milhões de contas no FGTS
-alguns trabalhadores são titulares de várias contas.
Para Mantega, "está havendo
redução de juros, e é natural
que qualquer tipo de aplicação
tenha rendimentos menores".
A TR é calculada a partir da
aplicação de um redutor sobre
os juros médios pagos pelos
CDBs (Certificados de Depósito Bancário) negociados no
mercado. Esse redutor é variável: quanto mais alta a taxa média do CDB, maior o redutor, e,
assim, mais baixa a TR na comparação com juros de mercado.
A idéia por trás dessa fórmula era fazer com que, quanto
mais baixos os juros no mercado, menor a distância entre essas taxas e a TR. Mas o governo
decidiu mudar esse quadro.
A alteração consiste na elevação do redutor aplicado quando
os juros médios do mercado
caírem para menos de 12% ao
ano. Com um redutor maior, a
distância entre a TR e os juros
de mercado aumenta.
Anteontem, segundo o BC, os
juros médios dos CDBs estavam em 12,1% anuais. A expectativa é que, com a continuidade do processo de queda da taxa
Selic, esses juros de mercado
caiam a menos de 12% ainda
neste mês, fazendo com que a
nova TR já comece a ser usada.
Nas simulações de José Dutra Vieira Sobrinho, professor
de matemática financeira, juros de mercado de 12% fariam
com que, pela regra antiga, a
rentabilidade da poupança fosse de 8,5% ao ano. Com a mudança, cairia para 8,0%.
Foi a segunda mudança na
TR em um ano. Em março de
2006, o CMN passou a usar os
juros médios dos CDBs como
parâmetro para o cálculo, no
lugar da Selic. A alteração ocorreu para evitar que a TR, criada
em 1991, ficasse negativa.
Diante das quedas na Selic, a
mudança na TR já vinha sendo
estudada. A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) chegou a enviar um estudo ao BC
defendendo a alteração.
O BC, por sua vez, evitava comentar a questão, bastante impopular entre os poupadores. A
cautela era tanta que, mesmo
ontem, técnicos do BC se recusaram a apresentar estimativas
sobre a queda na rentabilidade.
Questionado sobre a motivação do governo, Cleofas Salviano, do Departamento de Normas do BC, disse que era um
"ajuste técnico para adequar a
TR ao ambiente atual de inflação e juros em baixa".
A preocupação dos bancos
com a poupança surgiu devido
ao processo de queda da Selic,
hoje em 13% ao ano. Quanto
mais baixa a taxa, menos rentáveis os fundos DI e de renda fixa. Já a caderneta ganha, pois
sofre menos com as mudanças
da taxa e, ao contrário dos fundos, é isenta de Imposto de
Renda e não tem cobrança de
taxa de administração.
Em 2006, os depósitos na
poupança superaram os saques
em R$ 6,472 bilhões. Em 2005,
houve saída de R$ 2,72 bilhões.
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