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ALBERT FISHLOW
Mudanças tecnológicas
O Norte continuará a ter
muito a oferecer; seria um
erro ignorar a globalização e
as vantagens da integração
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A ECONOMIA nos países desenvolvidos continua a se recuperar, mais lenta e erraticamente do que todos desejaríamos,
mas ao menos evitando uma nova
crise -por enquanto. A reversão que
muitos temiam parece ter sido postergada, ao menos até que surja uma
nova leva de más notícias.
Nos EUA, o nível de desemprego
não subiu como muitos observadores vinham esperando. Outros indicadores foram ainda mais positivos.
O setor manufatureiro uma vez
mais avançou, em uma recuperação
em forma de "V", e o mais importante talvez seja o fato de que o Congresso dos EUA conseguiu aprovar
algumas medidas modestas com relação ao seguro-desemprego.
Talvez a neve que derrete rapidamente em Washington sinalize mudanças mais que climáticas.
Depois de duas semanas de dúvidas com relação ao futuro da Grécia
como membro da União Europeia,
uma nova emissão de bônus com
prazo de dez anos e juros de 6,4%
anuais atraiu três vezes mais interessados do que havia papéis. Há raros -se algum- casos em que a
ameaça de recorrer ao FMI (Fundo
Monetário Internacional) foi usada
para induzir a apoio financeiro, mas
foi o que aconteceu, nessa ocasião.
As instituições financeiras alemãs e
de outros países se apresentaram. A
UE fez uma promessa implícita de
apoio aos seus países-membros.
A Grécia precisará de mais financiamento ao longo do ano, e a juros
mais baixos. O primeiro-ministro
George Papandreou foi a Berlim e a
Paris e voará a Washington nesta semana em busca de um compromisso
quanto a isso. Deixa para trás um
país enfurecido por reduções de salários e aumentos de impostos aprovados pelo Legislativo. Há raiva
quanto ao fardo súbito imposto aos
gregos. Afinal, as instituições financeiras internacionais e os exportadores alemães também se beneficiaram dos arranjos anteriores.
Até mesmo o Japão dá indicações
de modestos avanços neste ano. A
moeda supervalorizada e os problemas da Toyota não ajudarão. A despeito da forte rejeição do eleitorado
ao Partido Liberal Democrata, que
comandava o país até recentemente,
o Partido Socialista parece incapaz
de definir uma estratégia sustentável para o futuro. A rápida expansão
na Ásia e as exportações continuam
a ser o gatilho.
A virada no dinamismo em benefício da China, da Índia e de outros
países é real. As previsões para 2010
sublinham essa nova situação. O
Morgan Stanley elevou para 8,8% a
expectativa de expansão da região
-excluindo o Japão-, ou duas vezes
mais que a média mundial projetada. Países que detêm 30% de participação na renda global responderão
por 60% de sua expansão. Os mercados emergentes como um todo responderão por 75% da expansão.
Será que a teoria do descolamento
fica, com isso, validada, e teremos
um futuro orientado primordialmente a transações Sul-Sul? Essa é
uma tradução indevida dos números em questão. A atividade econômica mundial muda continuamente. Os mercados emergentes estão se
tornando progressivamente mais
importantes no setor manufatureiro. Mas os países desenvolvidos continuam a ser os principais e mais
atraentes mercados para suas vendas. Além disso, os avanços de produtividade -que servem como fonte de ganhos de renda em longo prazo- dependem de mudanças tecnológicas.
Quanto a isso, o Norte continuará
a ter muito a oferecer, nos anos vindouros. Seria um grande erro ignorar a globalização e as vantagens da
integração, de preferência à separação. Em meio a toda a retórica política e a todo o agito quanto a taxas de
câmbio desequilibradas, essa importante mensagem não deveria ser
esquecida, nem pelo Sul nem pelo
Norte.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
ALBERT FISHLOW, 74, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.
afishlow@uol.com.br
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