São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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ALBERT FISHLOW

Mudanças tecnológicas


O Norte continuará a ter muito a oferecer; seria um erro ignorar a globalização e as vantagens da integração

A ECONOMIA nos países desenvolvidos continua a se recuperar, mais lenta e erraticamente do que todos desejaríamos, mas ao menos evitando uma nova crise -por enquanto. A reversão que muitos temiam parece ter sido postergada, ao menos até que surja uma nova leva de más notícias.
Nos EUA, o nível de desemprego não subiu como muitos observadores vinham esperando. Outros indicadores foram ainda mais positivos. O setor manufatureiro uma vez mais avançou, em uma recuperação em forma de "V", e o mais importante talvez seja o fato de que o Congresso dos EUA conseguiu aprovar algumas medidas modestas com relação ao seguro-desemprego.
Talvez a neve que derrete rapidamente em Washington sinalize mudanças mais que climáticas.
Depois de duas semanas de dúvidas com relação ao futuro da Grécia como membro da União Europeia, uma nova emissão de bônus com prazo de dez anos e juros de 6,4% anuais atraiu três vezes mais interessados do que havia papéis. Há raros -se algum- casos em que a ameaça de recorrer ao FMI (Fundo Monetário Internacional) foi usada para induzir a apoio financeiro, mas foi o que aconteceu, nessa ocasião.
As instituições financeiras alemãs e de outros países se apresentaram. A UE fez uma promessa implícita de apoio aos seus países-membros.
A Grécia precisará de mais financiamento ao longo do ano, e a juros mais baixos. O primeiro-ministro George Papandreou foi a Berlim e a Paris e voará a Washington nesta semana em busca de um compromisso quanto a isso. Deixa para trás um país enfurecido por reduções de salários e aumentos de impostos aprovados pelo Legislativo. Há raiva quanto ao fardo súbito imposto aos gregos. Afinal, as instituições financeiras internacionais e os exportadores alemães também se beneficiaram dos arranjos anteriores.
Até mesmo o Japão dá indicações de modestos avanços neste ano. A moeda supervalorizada e os problemas da Toyota não ajudarão. A despeito da forte rejeição do eleitorado ao Partido Liberal Democrata, que comandava o país até recentemente, o Partido Socialista parece incapaz de definir uma estratégia sustentável para o futuro. A rápida expansão na Ásia e as exportações continuam a ser o gatilho.
A virada no dinamismo em benefício da China, da Índia e de outros países é real. As previsões para 2010 sublinham essa nova situação. O Morgan Stanley elevou para 8,8% a expectativa de expansão da região -excluindo o Japão-, ou duas vezes mais que a média mundial projetada. Países que detêm 30% de participação na renda global responderão por 60% de sua expansão. Os mercados emergentes como um todo responderão por 75% da expansão.
Será que a teoria do descolamento fica, com isso, validada, e teremos um futuro orientado primordialmente a transações Sul-Sul? Essa é uma tradução indevida dos números em questão. A atividade econômica mundial muda continuamente. Os mercados emergentes estão se tornando progressivamente mais importantes no setor manufatureiro. Mas os países desenvolvidos continuam a ser os principais e mais atraentes mercados para suas vendas. Além disso, os avanços de produtividade -que servem como fonte de ganhos de renda em longo prazo- dependem de mudanças tecnológicas.
Quanto a isso, o Norte continuará a ter muito a oferecer, nos anos vindouros. Seria um grande erro ignorar a globalização e as vantagens da integração, de preferência à separação. Em meio a toda a retórica política e a todo o agito quanto a taxas de câmbio desequilibradas, essa importante mensagem não deveria ser esquecida, nem pelo Sul nem pelo Norte.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

ALBERT FISHLOW, 74, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.

afishlow@uol.com.br


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