São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

O BNDES vai parar de crescer?



De FHC a Lula, fatia do banco no PIB quadruplicou. Mas, além do crédito oficial barato, fonte de recursos escasseia


O DINHEIRO liberado pelo BNDES, os chamados desembolsos, deve ter sido equivalente a 4,5% do PIB em 2009. Mais que o dobro do início do governo Lula (vide gráfico). O número é excepcional, pois a economia não cresceu nada. O governo federal emprestou R$ 100 bilhões ao banco.
Note-se que a fatia do banco no total do crédito da economia até caiu em relação aos 24% de 2003-04. Foram anos de crédito privado escasso, decerto. Em 2008, o banco tinha 17% do crédito. Em 2009, 19,9%, salto também devido à retranca dos bancos privados na crise.
O tamanho do banco nos próximos anos dependerá do próximo presidente. Em 2011, o financiamento do BNDES ainda pode ser definido por Lula. O governo estima em cerca de R$ 70 bilhões os fundos disponíveis para o ano que vem. Para que o caixa do banco seja similar ao de 2008, serão necessários uns R$ 25 bilhões extras. De onde virão?
O governo ainda não sabe. Considera que de fato 2009 foi um ano extraordinário, de crise feia, quando o governo compareceu com muito dinheiro. O governo considera ainda que as empresas podem agora buscar mais dinheiro no mercado de capitais doméstico e internacional. Mas o governo não quer deixar a peteca cair. O BNDES vai desinflar em relação a 2009, mas não deve encolher em relação a 2008.
Um estudo dos economistas Fabio Giambiagi, Fernando Rieche e Manoel Amorim, na "Revista do BNDES", aponta os empecilhos de médio prazo para o banco. Uma fonte de financiamento, o FAT, diminui cada vez mais, pois esse fundo financia também o seguro-desemprego. Com mais formalização do trabalho, como vem ocorrendo, mais despesa.
Os juros que o banco recebe caem; cresce o prazo dos financiamentos: volta menos dinheiro, e mais devagar. Os ganhos proporcionados pela carteira de ações do banco foram excepcionais nos últimos anos. Tal resultado não deve se repetir. De resto é uma fonte incerta de recursos.
O BNDES pode ir ao mercado doméstico e externo captar recursos. Mas talvez a custo maior que o de seus fundos tradicionais e num prazo inadequado para um banco que por vezes financia investimentos de dezena de anos para cima. Enfim, trata-se de fonte de dinheiro sujeita ao humor do mercado, que pode tornar os custos proibitivos para o banco, em certos períodos. Mais empréstimos do Tesouro, a juros de pai para filho, significam mais dívida pública e mais subsídios a empresas, subsídio na prática bancado por dinheiro de impostos (e significam também, em última análise, uma mordida nos recursos do setor privado).
O banco vai bem, com lucros maiores e inadimplência muito baixa. A economia brasileira ainda não tem fontes privadas grandes e estáveis de capital de longo prazo. Mas parece difícil manter o crescimento do BNDES.

vinit@uol.com.br


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