São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

A conjunção mundial dos astros


Notícias do "mundo exterior" reafirmam um cenário de economia global medíocre, mas propícia para o Brasil

HAVIA ONTEM rumores de que a China pode permitir que sua moeda se valorize, coisa que seu governo não deixa acontecer desde meados de 2008. Moeda fraca barateia os produtos de um país. Ajuda a vender mais no exterior. Manter o yuan fraco foi uma estratégia de salvar um tanto do crescimento abalado pela crise e pelo colapso do comércio mundial.
Os Estados Unidos estão saindo do buraco, mas o crédito escasso e o desemprego de quase 10% vão fazer o país tropeçar na subida da ladeira, anunciou ontem, de novo, o banco central deles, o Fed. Logo, os juros americanos vão continuar baixos por um "longo período", o que o Fed vem dizendo desde o início de 2009.
Mas o barril de petróleo não custava tão caro, US$ 87, fazia 17 meses, desde o final de 2008. Na média deste ano, deve ficar 30% mais caro do que na média do ano passado, estimou ontem o governo americano. A tonelada do cobre passou de US$ 8.000, o maior desde agosto de 2008, 90% mais caro que em 2009.
No embalo, os metais industriais estão no preço mais alto em 20 meses.
Se precisasse pegar dinheiro ontem, a Grécia pagaria 7% de juros ao ano, por empréstimos de uma década. O Brasil anda pagando 4,5%. E daí? A enumeração ligeiramente caótica das notícias que inauguram o trimestre reafirma cenário relativamente positivo para o Brasil, no médio prazo. Isto é, para os próximos dois anos, por aí. Melhor dizer: cenário a princípio positivo.
Se a China de fato valorizar sua moeda, deve comprar um pouco mais do resto do mundo, e não apenas recursos naturais. O Brasil pode ganhar com preços mais altos de ferro e soja, por exemplo, e ficar menos pressionado pela avalanche de manufaturados baratos chineses. Mas, por ora, há apenas rumor de valorização do yuan, boato derivado das pressões americanas.
Petróleo e metais em alta significam também aumento de renda em moeda forte para o Brasil. E talvez um tico mais de inflação (os preços subiriam aqui também). Mas pode ser que a alta recente de commodities tenha um quê de especulação.
Houve algumas notícias positivas sobre "retomada" nos EUA e de recomposição de estoques de matérias-primas no mundo rico. Mas pode ser voo de galinha. Os investidores podem estar viajando demais na onda da recuperação.
Juros baixos nos EUA, por "longo período", evitam que tenhamos problemas maiores de financiamento externo. Pelo contrário, capital em massa tem nos procurado, em busca de rentabilidade. Mas incertezas sobre a dívida grega nos lembram que ainda pode estourar uma bomba financeira na Europa ou, mais provável, um lento envenenamento do PIB da eurozona, por anos.
Nesses próximos dois anos, é improvável que problemas macroeconômicos do país se tornem "malditos" (trata-se do gasto público e do deficit externo). Sem abalos maiores lá fora, haverá uma "janela de conforto", um período no qual se pode corrigi-los.
E daí em diante? Vamos contar de novo com a dependência da boa conjunção dos astros da economia mundial, o que tem ocorrido desde o superboom chinês, a partir de 2000, e com um período já longo de taxas de juros baixas pelo mundo?

vinit@uol.com.br


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