|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Fundo "urubu" atrai ira global
DO "FINANCIAL TIMES"
Os fundos de investimentos
conhecidos como "urubus"
vêm atraindo a ira da comunidade internacional por estarem solicitando o pagamento pleno das
dívidas dos países pobres mesmo
em caso de moratória. O Banco
Mundial está preocupado com a
possibilidade de que os fundos de
investimento recorram à Justiça
para receber o que lhes é devido.
O Instituto de Finanças Internacionais, associação mundial de
instituições financeiras, pediu
uma estratégia judicial mundial
para bloquear essas atividades.
No último domingo, o chanceler
do Erário (ministro das Finanças)
britânico Gordon Brown deixou
claro que apóia medidas de repressão aos "urubus".
A desaprovação a esse tipo de
comportamento se baseia em três
preocupações legítimas. Primeiro, os países mais pobres não dispõem dos recursos para combater
processos judiciais e, assim, em
lugar de recorrerem aos tribunais,
preferem pagar suas para o limitado número de credores que se
recusam a aceitar programas de
reestruturação de dívidas. Os programas são solapados se a assistência fornecida pelos governos
dos países ricos termina transferida a credores do setor privado e
advogados, e não ao povo dos países em desenvolvimento.
Segundo, as ações de uns poucos credores podem retardar um
acordo de reestruturação da dívida que interessa a outros credores. Terceiro, as ações dos "urubus" contra os acordos de reestruturação ameaçam bloquear qualquer progresso rumo à adoção generalizada de procedimentos
mais ordeiros para lidar com a falência de governos devedores.
Mas reprimir os fundos de investimento "urubus", como sugerido por Brown, é um equívoco;
esse tipo de instituição pode oferecer liquidez adicional aos mercados de dívida por meio da compra de títulos de dívida soberana
de países problemáticos, quando
existe pouca demanda por eles de
outra maneira.
O esclarecimento dos direitos
legais de credores individuais é
uma abordagem muito mais promissora. Existem poucos precedentes, mas emergiu um consenso jurídico em torno de uma decisão -considerada incorreta-
de um tribunal de apelações da
Bélgica, em um caso contra o Peru
em 2000, no sentido de que o governo peruano não tinha o direito
de favorecer certos credores que
haviam aceitado um plano de
reestruturação da dívida. O consenso atual é que a decisão foi
uma interpretação errônea das
cláusulas padronizadas nos contratos de bônus do governo. Os
credores e a comunidade internacional precisam garantir que os
países pobres recebam assistência
jurídica em futuros processos
desse tipo.
As ações dos fundos "urubus"
uma vez mais colocam em destaque a necessidade de uma abordagem mais ordeira com relação
aos processos de falência de governos devedores. Nada deveria
impedir esses fundos de adquirir
títulos de dívida de países com
problemas, mas não deveria ser
permitido que eles mais tarde bloqueiem acordos de reestruturação de dívidas que permitiriam
que os países pobres mantivessem o serviço de suas dívidas em
dia e reconquistassem o acesso
aos mercados internacionais.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Cresce apoio ao Mercosul, diz pesquisa Próximo Texto: Nas Américas: Powell elogia Brasil e critica Argentina Índice
|