São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Futuro da aérea preocupa participantes do Smiles

BRUNO SEGADILHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de já ter afirmado publicamente que honrará seus compromissos e que continua cadastrando as milhas do programa de fidelidade Smiles normalmente, a Varig não conseguiu tranqüilizar por completo todos os seus clientes. Muitos ainda temem o futuro incerto da empresa.
O principal temor, segundo clientes ouvidos, é que, caso a empresa pare de voar, os benefícios do Smiles não possam ser aproveitados em outras companhias aéreas, como ocorreu com os usuários da Vasp. Os clientes também temem que uma futura negociação, como a compra da empresa por outra, prejudique o acúmulo de milhas.
A Varig reconhece ter observado um aumento considerável na quantidade de clientes que procuravam a empresa com dúvidas em relação ao Smiles no último mês, mas esclarece que esse número já voltou aos níveis normais devido "ao clima de confiança diante das recentes negociações".
No último mês, a empresa divulgou, por e-mail, nota em que esclarece que continuará honrando seus compromissos e que as milhas do Smiles continuam a ser creditadas.
Apesar do esforço, o engenheiro Cláudio Gomes, 50, que afirma ter recebido a mensagem da Varig por e-mail, diz que ainda tem medo de uma eventual paralisação. "Estou preocupado. Viajo em julho e gostaria de usar minhas milhas. Torço para que a empresa se recupere, não quero pensar no que eu teria que fazer caso ocorra uma paralisação."
Também preocupada com a situação da empresa, a gerente de franquias Tatiana Bichara, 28, está distribuindo suas milhas. Bichara, que possuía aproximadamente 100 mil milhas acumuladas, já deu mais da metade delas para familiares.
"Se não fosse essa situação, viajaria em dezembro, mas não sei se a Varig existe até lá. É uma pena, acho o serviço, o atendimento melhores do que o da Gol. A passagem é mais cara, mas o cliente tem mais vantagens", afirma.

"O governo é responsável"
Também assustada com a possibilidade de paralisação, a Andep (Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo) disse estar reunindo provas para entrar com uma ação na Justiça contra a União por danos morais. A associação afirma que as declarações de representantes do governo de que não vai prestar auxílio à Varig assusta os clientes, que passam a ver a troca de milhas por passagens como algo impossível.
"O governo diz que não tem obrigação de ajudar a Varig. Tem, sim. O governo é concessionário, deve zelar pela boa prestação de serviço. Não estou falando de auxílio financeiro, mas de cumprir a lei. Se o governo era o concessionário, não poderia ter sido omisso: antes de a crise acontecer, deveria ter feito alguma coisa. Quero reunir provas da aflição dos clientes", afirma Cláudio Candiota, presidente da associação.
Candiota pedirá na ação uma indenização de R$ 1.000 para cada integrante, o que, em seus cálculos, custará para a União cerca de R$ 5 bilhões em indenizações.

Cliente credor
De acordo com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), no caso de paralisação, os clientes do Smiles poderiam se tornar credores da empresa para conseguir o ressarcimento das milhas e benefícios perdidos. "Com sinceridade, se isso acontecer, acho difícil reaver o dinheiro, mas o passageiro terá que entrar no processo como credor", afirma Marcos Diegues, gerente jurídico do Idec.
Apesar das orientações, o Procon-SP e o Idec não registraram reclamações relacionadas ao programa de milhagens da empresa.
Criado em 1994, o Smiles possui atualmente cerca de 5,6 milhões de participantes em todo o mundo e mais de 3,5 milhões de prêmios emitidos, segundo a Varig.


Texto Anterior: Crise no ar: Proposta de cisão ameaça milhas da Varig
Próximo Texto: Programas de benefício não têm regulamentação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.