São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

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Real forte impulsiona comércio popular

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Caixas de produtos chineses na rua da 25 de Março, região de comércio popular de São Paulo


Importação de produtos baratos da China deve crescer 66% em volume neste ano, segundo associação do setor

Faturamento estimado para este ano deve chegar a R$ 11 bilhões contra os R$ 9 bilhões registrados pelo setor em 2005

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A valorização do real sobre o dólar que tanto angustia os exportadores tem feito a alegria dos importadores de produtos populares. A indústria dos "made in China" deverá despejar no Brasil neste ano 200 milhões de unidades que vão desde brinquedos a utensílios domésticos e produtos de decoração. Isso representa 66% a mais do que os 120 milhões registrados em 2005. Os cálculos são da Abipp (Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares).
São mais de 5.000 tipos diferentes de produtos. Todos fabricados na China, chegam por meio de empresas importadoras para abastecer cerca de 50 mil lojinhas em todo país. Esse comércio popular conquistou a simpatia dos consumidores, há cerca de dez anos, com a oferta de bugigangas a R$ 1,99. De lá para cá, o dólar subiu e o preço saltou para uma média de entre R$ 3 e R$ 5.
Diante desse cenário, foi preciso investir em itens de maior qualidade para reconquistar a clientela e tentar reverter a fama de quinquilharias baratas e ruins. Nos últimos dois anos, a valorização do real ajudou nessa estratégia. Hoje, com a economia voltando a crescer, esse segmento comemora a conquista de novos consumidores.
"Hoje os produtos importados populares são opção de compra não apenas para as classes C, D e E [de renda mais baixa]. A classe B também começa a buscá-los como alternativa de consumo", afirma Gustavo Dedivits, presidente da Abipp, criada há um pouco mais de um ano.
Resultado: o faturamento anual de R$ 9 bilhões em 2005 deverá alcançar R$ 11 bilhões neste ano, segundo as projeções da entidade que conta com 28 importadoras associadas. Com isso, as receitas do setor mantêm o ritmo de crescimento de 20% ao ano, já que, em 2004, o faturamento foi de R$ 7,5 bilhões.
Isso leva o segmento de importados a representar 40% do faturamento do setor de produtos populares que movimenta cerca de R$ 27,5 bilhões, segundo Dedivits. Em dezembro do ano passado, esse percentual era de 35%.
A concorrência com os nacionais, no entanto, não é nenhum problema. "Não compramos produtos que são fabricados aqui no Brasil. Embalagens plásticas, bacias e toda essa linha, por exemplo, não vale a pena trazer. As produzidas no país são baratas e de boa qualidade", diz ele.
Neste ano, a Copa do Mundo e as eleições são estímulos adicionais para o segmento que vive de datas comemorativas como Dia das Mães, dos Pais, das Crianças e o Natal.
"Muitos apostaram alto na Copa e investiram em cornetas, chapéus, bandeiras. Na época, até um pau pintado de verde e amarelo vendia", afirma. Com a saída do Brasil mais cedo do que o esperado, os produtos verde e amarelo levaram números vermelhos para o balanço das empresas, já que ficaram encalhados.
Numa proporção bem menor, a disputa eleitoral pode ajudar a recuperar parte desse prejuízo. "A campanha política pode colaborar para venda de canetas ou outros itens", diz Hélio Perazzolo, que também integra a Abipp.
Independentemente disso, a aposta agora é no Dia das Crianças e nas festas de fim de ano, quando esses importadores pretendem inundar o país de brinquedos e enfeites importados e, para isso, reforçam as encomendas.

Cenário macroeconômico
Os sobressaltos no cenário internacional ou mesmo as recentes medidas do governo para tentar conter a desvalorização do real e até gerar uma apreciação do dólar são acompanhados de perto mas não são vistos com tanta preocupação. Se o real perder valor, os produtos encomendados -que chegarão e serão pagos em etapas- ficarão mais caros. Se não conseguirem repassar o aumento para o valor cobrado dos consumidores, importadores e comerciantes terão prejuízo.
"Nossa preocupação é com a China. No mais, o produto popular veio para potencializar o consumo das classes de renda mais baixa, criar competição e inibir o aumento dos preços no mercado interno", diz Dedivits.


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