São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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CONJUNTURA

Setor não apresenta crescimento sobre junho, mas instituto esperava retração, com incertezas econômicas

Indústria pára em julho; IBGE vê melhora

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A crise do mercado financeiro contaminou menos do que se esperava a indústria: a produção do setor ficou estável em julho em relação a junho, na comparação livre de influências sazonais (típicas de cada período), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"A indústria reagiu melhor do que se previa para julho, quando o país enfrentou o período mais crítico de incertezas em relação à economia", disse Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.
O mês de julho foi o de maior volatilidade do câmbio e dos juros futuros -que balizam os empréstimos. Teve ainda a piora da percepção de investidores em relação ao país, com o risco brasileiro disparando. A combinação desses fatores levou consultorias a prever queda de até 1% na produção industrial.
"Toda essa turbulência não se traduziu em queda. É um dado positivo", disse Juan Pedro Jensen, economista da Tendências Consultoria.
Mesmo sem cair, a produção industrial não ficou totalmente imune: houve uma perda de ritmo em relação a junho, quando havia crescido 0,9%.

Copa
Descontadas influências sazonais, a categoria que teve o melhor desempenho foi a de bens de consumo durável. A alta de 2,2% de junho para julho surpreendeu economistas, que esperavam uma retração do consumidor devido à restrição do crédito.
O aumento dos duráveis, porém, foi anulado pelo recuo de 0,2% dos bens intermediários -insumos usados para fazer outros bens-, que têm o maior peso na estrutura industrial (cerca de 60%).
Segundo Jensen, os eletrodomésticos puxaram os bens duráveis para cima. O ramo foi beneficiado pela Copa do Mundo e pelo final do racionamento, diz. Para Zeina Latif, do BBV, apesar da renda do trabalhador continuar enfraquecida, os eletrodomésticos, por serem de menor valor, ainda conseguem atrair consumidores. O mesmo não ocorre com os automóveis, afirma.
De julho de 2001 para julho de 2002, a fabricação de eletrodomésticos cresceu 26,5%, enquanto a de veículos caiu 8,8%.

Intermediários
Segundo Sílvio Sales, a queda dos intermediários pode indicar que a indústria está com estoques elevados. Isso indica que as fábricas de bens de consumo final estão reduzindo seus pedidos. Zeina Latif concorda com a avaliação.
"Imaginava que a crise fosse ter um efeito muito maior no consumo de duráveis. Uma das hipóteses é que as pessoas, intranquilas com a crise dos mercados, sacaram dinheiro de fundos de investimentos e compraram ativos reais [produtos"", afirmou o economista Francisco Pessoa, da consultoria LCA.
Para Sales, setores ligados à agroindústria e às exportações impediram um recuo da atividade da indústria. É o caso de aves (alta de 13,9% ante julho de 2001), carnes (8,1%) e celulose (13%).

Efeito base
Em relação a julho de 2001, a produção da indústria teve um crescimento de 3,3%. A alta, segundo o IBGE, é reflexo do efeito de uma base de comparação deprimida. Naquele período, o país sofria o auge dos efeitos do racionamento de energia.
Sales, do IBGE, espera que nesse tipo de comparação o desempenho da indústria se mantenha elevado, pois nos próximos meses se repetirá a mesma situação de uma base fraca.

Tendência declinante
O indicador de média móvel trimestral -os três últimos meses encerrados em julho- apresentou, porém, uma queda de 1,5% ante igual período do ano passado, o que mostra uma tendência declinante do setor numa análise mais longa.
Mesmo assim, as perspectivas para os próximos meses são boas: "Salvo uma tragédia, como uma crise mundial nos mercados, o desempenho do segundo semestre será melhor. Nem mesmo uma guerra no Iraque irá alterar isso, pois o petróleo já está muito caro", disse Pessoa.


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