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CONJUNTURA
Setor não apresenta crescimento sobre junho, mas instituto esperava retração, com incertezas econômicas
Indústria pára em julho; IBGE vê melhora
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A crise do mercado financeiro
contaminou menos do que se esperava a indústria: a produção do
setor ficou estável em julho em relação a junho, na comparação livre de influências sazonais (típicas de cada período), segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"A indústria reagiu melhor do
que se previa para julho, quando
o país enfrentou o período mais
crítico de incertezas em relação à
economia", disse Sílvio Sales, chefe do Departamento de Indústria
do IBGE.
O mês de julho foi o de maior
volatilidade do câmbio e dos juros
futuros -que balizam os empréstimos. Teve ainda a piora da
percepção de investidores em relação ao país, com o risco brasileiro disparando. A combinação
desses fatores levou consultorias a
prever queda de até 1% na produção industrial.
"Toda essa turbulência não se
traduziu em queda. É um dado
positivo", disse Juan Pedro Jensen, economista da Tendências
Consultoria.
Mesmo sem cair, a produção industrial não ficou totalmente
imune: houve uma perda de ritmo em relação a junho, quando
havia crescido 0,9%.
Copa
Descontadas influências sazonais, a categoria que teve o melhor
desempenho foi a de bens de consumo durável. A alta de 2,2% de
junho para julho surpreendeu
economistas, que esperavam uma
retração do consumidor devido à
restrição do crédito.
O aumento dos duráveis, porém, foi anulado pelo recuo de
0,2% dos bens intermediários
-insumos usados para fazer outros bens-, que têm o maior peso na estrutura industrial (cerca
de 60%).
Segundo Jensen, os eletrodomésticos puxaram os bens duráveis para cima. O ramo foi beneficiado pela Copa do Mundo e pelo
final do racionamento, diz. Para
Zeina Latif, do BBV, apesar da
renda do trabalhador continuar
enfraquecida, os eletrodomésticos, por serem de menor valor,
ainda conseguem atrair consumidores. O mesmo não ocorre com
os automóveis, afirma.
De julho de 2001 para julho de
2002, a fabricação de eletrodomésticos cresceu 26,5%, enquanto a de veículos caiu 8,8%.
Intermediários
Segundo Sílvio Sales, a queda
dos intermediários pode indicar
que a indústria está com estoques
elevados. Isso indica que as fábricas de bens de consumo final estão reduzindo seus pedidos. Zeina
Latif concorda com a avaliação.
"Imaginava que a crise fosse ter
um efeito muito maior no consumo de duráveis. Uma das hipóteses é que as pessoas, intranquilas
com a crise dos mercados, sacaram dinheiro de fundos de investimentos e compraram ativos
reais [produtos"", afirmou o economista Francisco Pessoa, da
consultoria LCA.
Para Sales, setores ligados à
agroindústria e às exportações
impediram um recuo da atividade da indústria. É o caso de aves
(alta de 13,9% ante julho de 2001),
carnes (8,1%) e celulose (13%).
Efeito base
Em relação a julho de 2001, a
produção da indústria teve um
crescimento de 3,3%. A alta, segundo o IBGE, é reflexo do efeito
de uma base de comparação deprimida. Naquele período, o país
sofria o auge dos efeitos do racionamento de energia.
Sales, do IBGE, espera que nesse
tipo de comparação o desempenho da indústria se mantenha elevado, pois nos próximos meses se
repetirá a mesma situação de uma
base fraca.
Tendência declinante
O indicador de média móvel trimestral -os três últimos meses
encerrados em julho- apresentou, porém, uma queda de 1,5%
ante igual período do ano passado, o que mostra uma tendência
declinante do setor numa análise
mais longa.
Mesmo assim, as perspectivas
para os próximos meses são boas:
"Salvo uma tragédia, como uma
crise mundial nos mercados, o
desempenho do segundo semestre será melhor. Nem mesmo
uma guerra no Iraque irá alterar
isso, pois o petróleo já está muito
caro", disse Pessoa.
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