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AGROPECUÁRIA
Exportação para o bloco é restringida e carne pode se desvalorizar
Norma da UE ameaça preço do gado
JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde a última segunda-feira a
União Européia só aceita importar carne bovina brasileira que
atenda a suas exigências de rastreabilidade e certificação. Seis
dias depois, do rebanho de mais
de 160 milhões de cabeças do país,
apenas 830 mil se enquadram às
regras do bloco.
Segundo Nelson Piñeda, pecuarista e diretor de Informática da
ABCZ (Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu), o número de
animais hoje rastreados e certificados seria suficiente para menos
de dois meses de exportação para
a UE. As vendas brasileiras para o
bloco europeu, o maior comprador estrangeiro da carne do país,
correspondem a cerca de 15% do
abate anual.
Considerando que o abate nacional chegue, neste ano, a 40 milhões de cabeças (foi de 34 milhões em 2001), cerca de 6 milhões
seriam destinados à Europa. Ou
seja, aproximadamente 500 mil
cabeças por mês.
Em 2001, as exportações brasileiras de carne para a UE foram de
US$ 461 milhões.
Para Piñeda, o problema é que
os pecuaristas brasileiros ainda
não se deram conta do que o fim
das exportações pode significar.
Segundo ele, caso não seja mais
possível exportar carne para a Europa, o aumento na oferta interna
será tamanho que, no fim das
contas, o preço para o próprio
produtor vai cair ainda mais.
Em reuniões feitas pela ABCZ
com representantes de toda a cadeia pecuária nacional, não se
chegou a um acordo para definir
uma estratégia de implantação da
rastreabilidade no país. O problema ficou mais grave no meio do
ano, à medida que o prazo inicial
da UE, 1º de julho, se aproximava.
À época, quase não havia ainda
empresas certificadoras cadastradas no Ministério da Agricultura.
"Antes de qualquer coisa, era
preciso conscientizar tanto produtores quanto frigoríficos da importância da rastreabilidade. Daí,
sim, seria possível discutir como
implantar o programa. Apenas
passar a conta para o produtor
não adianta", diz José Olavo Borges Mendes, presidente da ABCZ.
Uma solução viável para dividir
os custos da rastreabilidade seria,
segundo Piñeda, que o governo
beneficiasse os produtores que
adotassem a rastreabilidade. Os
frigoríficos poderiam ser levados
a pagar cerca de R$ 1,00 a mais por
arroba dos animais rastreados,
ajudando o produtor a cobrir os
custos do processo, de cerca de R$
8,00 por animal, em média.
Edvar Queiroz, presidente da
Abiec (Associação Brasileira das
Indústrias Exportadoras de Carne), porém, diz que isso é impossível. Segundo ele, boa parte dos
frigoríficos do país já adotou a
rastreabilidade há mais de dois
anos em suas linhas de produção
e, assim, não há sentido em "subsidiar" os produtores a fazer o
mesmo. Ele admite, porém, que
existem frigoríficos que ainda não
se adaptaram às novas exigências.
"Nada, porém, que nos impeça
de vender carne para a Europa",
diz. "A rastreabilidade avança rapidamente, em especial em São
Paulo, onde o gado é confinado."
O problema, segundo a ABCZ, é
que a velocidade do processo é
bem menor no Centro-Oeste e no
Norte, onde o gado é criado solto,
em pastos. E, nessas regiões, está
concentrado mais de 60% do rebanho nacional. Podem, portanto, faltar animais rastreados para alimentar as exportações dos frigoríficos para a UE.
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