São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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AGROPECUÁRIA

Exportação para o bloco é restringida e carne pode se desvalorizar

Norma da UE ameaça preço do gado

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde a última segunda-feira a União Européia só aceita importar carne bovina brasileira que atenda a suas exigências de rastreabilidade e certificação. Seis dias depois, do rebanho de mais de 160 milhões de cabeças do país, apenas 830 mil se enquadram às regras do bloco.
Segundo Nelson Piñeda, pecuarista e diretor de Informática da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), o número de animais hoje rastreados e certificados seria suficiente para menos de dois meses de exportação para a UE. As vendas brasileiras para o bloco europeu, o maior comprador estrangeiro da carne do país, correspondem a cerca de 15% do abate anual.
Considerando que o abate nacional chegue, neste ano, a 40 milhões de cabeças (foi de 34 milhões em 2001), cerca de 6 milhões seriam destinados à Europa. Ou seja, aproximadamente 500 mil cabeças por mês.
Em 2001, as exportações brasileiras de carne para a UE foram de US$ 461 milhões.
Para Piñeda, o problema é que os pecuaristas brasileiros ainda não se deram conta do que o fim das exportações pode significar. Segundo ele, caso não seja mais possível exportar carne para a Europa, o aumento na oferta interna será tamanho que, no fim das contas, o preço para o próprio produtor vai cair ainda mais.
Em reuniões feitas pela ABCZ com representantes de toda a cadeia pecuária nacional, não se chegou a um acordo para definir uma estratégia de implantação da rastreabilidade no país. O problema ficou mais grave no meio do ano, à medida que o prazo inicial da UE, 1º de julho, se aproximava.
À época, quase não havia ainda empresas certificadoras cadastradas no Ministério da Agricultura.
"Antes de qualquer coisa, era preciso conscientizar tanto produtores quanto frigoríficos da importância da rastreabilidade. Daí, sim, seria possível discutir como implantar o programa. Apenas passar a conta para o produtor não adianta", diz José Olavo Borges Mendes, presidente da ABCZ.
Uma solução viável para dividir os custos da rastreabilidade seria, segundo Piñeda, que o governo beneficiasse os produtores que adotassem a rastreabilidade. Os frigoríficos poderiam ser levados a pagar cerca de R$ 1,00 a mais por arroba dos animais rastreados, ajudando o produtor a cobrir os custos do processo, de cerca de R$ 8,00 por animal, em média.
Edvar Queiroz, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), porém, diz que isso é impossível. Segundo ele, boa parte dos frigoríficos do país já adotou a rastreabilidade há mais de dois anos em suas linhas de produção e, assim, não há sentido em "subsidiar" os produtores a fazer o mesmo. Ele admite, porém, que existem frigoríficos que ainda não se adaptaram às novas exigências.
"Nada, porém, que nos impeça de vender carne para a Europa", diz. "A rastreabilidade avança rapidamente, em especial em São Paulo, onde o gado é confinado."
O problema, segundo a ABCZ, é que a velocidade do processo é bem menor no Centro-Oeste e no Norte, onde o gado é criado solto, em pastos. E, nessas regiões, está concentrado mais de 60% do rebanho nacional. Podem, portanto, faltar animais rastreados para alimentar as exportações dos frigoríficos para a UE.


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