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WALTER BRASIL MUNDELL
EUA: recessão a caminho?
Consumidores americanos estão pessimistas, grave para os EUA, onde mais da metade do PIB vem do consumo
A ECONOMIA norte americana
cresce há 19 trimestres seguidos. É o segundo maior período de expansão da história, menor
apenas do que o período de 37 trimestres de crescimento verificado
na década de 90. Mas o período atual
de bonança pode estar terminando,
e a economia poderá entrar em recessão no início de 2007.
A inflação está alta, os consumidores estão ficando pessimistas com o
futuro e a taxa de juros, que por tantos anos ficou baixa, agora ultrapassa os 5% a.a. Dada a importância dos
EUA para a economia mundial -o
país representa em torno de 22% da
produção mundial de bens e serviços-, o assunto é importante para
todos e, principalmente, para os países emergentes. Se os EUA forem
mal, o mundo sentirá o impacto, isso
é uma realidade indiscutível.
Os consumidores norte-americanos estão pessimistas. E eles foram a
força vital para o crescimento econômico dos últimos anos. Isso é um
fato grave para os EUA, uma economia onde mais da metade do PIB refere-se ao consumo. Seu crescente
pessimismo tem vários e justificáveis motivos: a) a taxa de juros está
alta; b) o petróleo está caro; c) a inflação está elevada.
Com uma taxa de juros mais alta,
as prestações para o pagamento de
suas residências -o principal endividamento que os norte-americanos
costumam fazer em suas vidas- são
cada vez maiores, forçando-os a
poupar mais do que antes, diminuindo, por conseqüência, seu consumo. O norte-americano médio
também está muito endividado. As
obrigações financeiras com juros e
encargos atingiram quase 20% do
total da renda e o endividamento em
crédito ao consumidor atinge o valor equivalente a 20 salários, se considerarmos o valor do bem financiado sem os juros. Aumentos salariais
estão começando a ocorrer, o que
pode acirrar, ainda mais a inflação.
O petróleo caro parece que é uma
realidade que veio para ficar. Investimentos insuficientes na expansão
da produção, aumento da demanda
pelos países asiáticos -principalmente a China-, somados à instabilidade política no Oriente Médio,
são fatores permanentes que não
devem mudar a curto prazo, favorecendo a manutenção dos preços em
patamar mais alto. A sociedade norte-americana é viciada em petróleo,
como disse seu presidente, e a busca
de combustível alternativo, embora
uma realidade, está longe de resolver o problema em prazo curto.
A inflação ao consumidor, nos últimos 12 meses, atingiu 4,1% em julho, um valor definitivamente alto
para uma economia desenvolvida
como os EUA. O aumento da produtividade hoje é a metade do que era
antes e o custo unitário do trabalho
está subindo, tendo atingido valor
semelhante ao atingido antes do final do último ciclo de expansão. O
preço dos produtos finais ou insumos importados atingiu um recorde
histórico e, até agora, não parou de
subir. Finalmente, o parque produtivo funciona com capacidade ociosa muito reduzida, com muitas empresas enfrentando custos marginais crescentes.
Alguns indicadores econômicos
começam a apresentar um comportamento que nos permite dizer que a
chance de recessão é alta, superior a
50%. Os dois mais importantes são o
indicador antecedente, calculado
pelo Conference Board, e o comportamento da curva de taxa de juros. A
variação dos últimos seis meses do
indicador antecedente está no campo negativo há três meses. Nos últimos 45 anos, isso aconteceu em dez
ocasiões e ocorreram recessões em
sete delas, ou seja, o índice de "acerto" deste indicador em prever recessões é de 70%. A curva de juros, calculada, nesse caso, pela diferença de
rendimento entre o título do tesouro norte-americano de dez anos de
prazo e o de três meses também está
no campo negativo. Nos últimos 45
anos, isso aconteceu, de maneira
mais consistente, em oito ocasiões,
havendo recessão em seis delas, ou
seja, um índice de "acerto" em prever recessões de 75%.
Recessões são difíceis de prever.
Os economistas só as reconhecem,
oficialmente, quando elas já estão
ocorrendo, mas aí é tarde para evitar
perdas nos mercados de títulos e
ações e no mundo corporativo. Convém estar preparado.
WALTER BRASIL MUNDELL é sócio-gerente da WMundell
Consultores e mestre em economia pela EAESP-FGV.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
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