São Paulo, quinta-feira, 07 de setembro de 2006

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WALTER BRASIL MUNDELL

EUA: recessão a caminho?

Consumidores americanos estão pessimistas, grave para os EUA, onde mais da metade do PIB vem do consumo

A ECONOMIA norte americana cresce há 19 trimestres seguidos. É o segundo maior período de expansão da história, menor apenas do que o período de 37 trimestres de crescimento verificado na década de 90. Mas o período atual de bonança pode estar terminando, e a economia poderá entrar em recessão no início de 2007.
A inflação está alta, os consumidores estão ficando pessimistas com o futuro e a taxa de juros, que por tantos anos ficou baixa, agora ultrapassa os 5% a.a. Dada a importância dos EUA para a economia mundial -o país representa em torno de 22% da produção mundial de bens e serviços-, o assunto é importante para todos e, principalmente, para os países emergentes. Se os EUA forem mal, o mundo sentirá o impacto, isso é uma realidade indiscutível.
Os consumidores norte-americanos estão pessimistas. E eles foram a força vital para o crescimento econômico dos últimos anos. Isso é um fato grave para os EUA, uma economia onde mais da metade do PIB refere-se ao consumo. Seu crescente pessimismo tem vários e justificáveis motivos: a) a taxa de juros está alta; b) o petróleo está caro; c) a inflação está elevada.
Com uma taxa de juros mais alta, as prestações para o pagamento de suas residências -o principal endividamento que os norte-americanos costumam fazer em suas vidas- são cada vez maiores, forçando-os a poupar mais do que antes, diminuindo, por conseqüência, seu consumo. O norte-americano médio também está muito endividado. As obrigações financeiras com juros e encargos atingiram quase 20% do total da renda e o endividamento em crédito ao consumidor atinge o valor equivalente a 20 salários, se considerarmos o valor do bem financiado sem os juros. Aumentos salariais estão começando a ocorrer, o que pode acirrar, ainda mais a inflação.
O petróleo caro parece que é uma realidade que veio para ficar. Investimentos insuficientes na expansão da produção, aumento da demanda pelos países asiáticos -principalmente a China-, somados à instabilidade política no Oriente Médio, são fatores permanentes que não devem mudar a curto prazo, favorecendo a manutenção dos preços em patamar mais alto. A sociedade norte-americana é viciada em petróleo, como disse seu presidente, e a busca de combustível alternativo, embora uma realidade, está longe de resolver o problema em prazo curto.
A inflação ao consumidor, nos últimos 12 meses, atingiu 4,1% em julho, um valor definitivamente alto para uma economia desenvolvida como os EUA. O aumento da produtividade hoje é a metade do que era antes e o custo unitário do trabalho está subindo, tendo atingido valor semelhante ao atingido antes do final do último ciclo de expansão. O preço dos produtos finais ou insumos importados atingiu um recorde histórico e, até agora, não parou de subir. Finalmente, o parque produtivo funciona com capacidade ociosa muito reduzida, com muitas empresas enfrentando custos marginais crescentes.
Alguns indicadores econômicos começam a apresentar um comportamento que nos permite dizer que a chance de recessão é alta, superior a 50%. Os dois mais importantes são o indicador antecedente, calculado pelo Conference Board, e o comportamento da curva de taxa de juros. A variação dos últimos seis meses do indicador antecedente está no campo negativo há três meses. Nos últimos 45 anos, isso aconteceu em dez ocasiões e ocorreram recessões em sete delas, ou seja, o índice de "acerto" deste indicador em prever recessões é de 70%. A curva de juros, calculada, nesse caso, pela diferença de rendimento entre o título do tesouro norte-americano de dez anos de prazo e o de três meses também está no campo negativo. Nos últimos 45 anos, isso aconteceu, de maneira mais consistente, em oito ocasiões, havendo recessão em seis delas, ou seja, um índice de "acerto" em prever recessões de 75%.
Recessões são difíceis de prever. Os economistas só as reconhecem, oficialmente, quando elas já estão ocorrendo, mas aí é tarde para evitar perdas nos mercados de títulos e ações e no mundo corporativo. Convém estar preparado.


WALTER BRASIL MUNDELL é sócio-gerente da WMundell Consultores e mestre em economia pela EAESP-FGV.

Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.


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