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Montadoras resistem a aumento na mistura
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os obstáculos ao programa
de biodiesel não se restringem
a problemas de planejamento e
produção. Há resistência das
montadoras em aceitar mistura superior à exigida pelo governo -hoje 2%- mesmo com
tecnologia disponível para adoção de até 100% de biodiesel em
caminhões e ônibus. Isso estaria atrasando o aumento da
produção. O motorista que usar
percentual maior que o previsto perde a garantia do motor.
Os fabricantes do biocombustível dizem que "falta iniciativa" do setor automotivo para
acelerar o consumo. A maior
reclamação é que nenhuma
montadora no país dá garantia
para o motor que usa mistura
superior a 2%. Se isso acontecesse, dizem, a demanda pelo
combustível seria maior, poderia haver elevação de preços e a
produção seria mais rentável.
"Acredito que há certo comodismo, inércia da Anfavea [associação das montadoras]", diz
o presidente da Ubrabio (União
Brasileira do Biodiesel), Juan
Diego Ferrés. Para ele, o comportamento impede iniciativas
das distribuidoras, que poderiam vender produto "verde"
com mistura superior à exigida.
A legislação atual obriga a adição de 2% de biodiesel ao diesel
mineral vendido no país a partir de 2008 e 5% após 2013. Em
discursos, o presidente Lula
tem dito que antecipará a adição de 5%, o chamado B5, para
2010, último ano de governo.
Nas montadoras, o principal
argumento é que não foram feitos os testes para a mistura
maior, o que especialistas questionam. O professor de mecânica automotiva do Instituto
Mauá de Tecnologia, Renato
Romio, diz que testes já mostraram que a mistura de 5% pode ser feita e o uso de 100% de
biodiesel poderia ocorrer com
poucos ajustes.
A Folha apurou que essa resistência das montadoras tem
gerado certo desconforto no
governo, principalmente no
Ministério do Desenvolvimento. Alguns técnicos dizem que a
demora poderia ser usada como forma de "barganhar" condições favoráveis para o setor.
Procurada para comentar o
caso, a Anfavea divulgou nota
dizendo que a entidade apóia o
programa de biodiesel e que o
uso de B2 "não traz problemas
aos veículos, os quais continuam cobertos pela garantia,
no decorrer do período originalmente dado". Ela informou
que não comenta rumores.
O diretor do centro de metrologia em química do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e diretor de biocombustíveis da AEA (Associação
de Engenharia Automotiva),
Antônio Bonomi, admite que a
mistura de 5% praticamente
não exige alterações nos motores, mas diz que a cautela das
montadoras pode ser explicada
pela qualidade do biodiesel
brasileiro. Para ele, faltam alguns dados sobre o controle de
qualidade do combustível.
(FN)
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