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BC pode "comprar" carteira de crédito de pequenos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos de uma semana depois de o governo negar a existência de um pacote para minimizar os efeitos da crise bancária internacional no Brasil, o
presidente Lula deu, ontem,
carta branca para o Banco Central implementar uma série de
medidas para socorrer bancos e
empresas com problemas.
Além de fazer leilões de linhas de financiamento em dólar para suprir os exportadores,
o BC poderá "comprar" carteira de crédito dos bancos e conceder empréstimos em moeda
estrangeira para as instituições
que precisarem. As empresas
de leasing também foram autorizadas a emitir letras de arrendamento mercantil, um título
negociado no mercado.
Em discussão desde a semana passada, as medidas foram
anunciadas a conta-gotas ao
longo do dia de ontem. À tarde,
o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do BC,
Henrique Meirelles, tentaram
acalmar o mercado e anunciaram, sem dar muitos detalhes,
que o BC fará leilões de linhas
em dólar direcionadas ao comércio exterior (veja texto na
pág. B8). No início da noite, depois de Lula ter dito em reunião
com aliados políticos que havia
risco de problemas com pequenos bancos brasileiros, devido à
crise financeira nos EUA, e ter
pedido apoio para aprovar uma
MP (medida provisória) implementando as novas decisões,
Meirelles explicou parcialmente como elas funcionarão.
A MP foi assinada à noite e
deve ser publicada em edição
especial do "Diário Oficial da
União". Para entrarem em vigor, as medidas precisarão ser
regulamentadas pelo Conselho
Monetário Nacional, o que deve ocorrer nos próximos dias.
A principal delas muda a forma como o BC faz empréstimos
para socorrer bancos com dificuldade de caixa, o chamado redesconto. A idéia é que o BC
possa aceitar como garantia
dessas operações a carteira de
crédito dos bancos, o que pode
ser visto como uma "compra"
da carteira. Além disso, o prazo
deverá ser maior do que o praticado atualmente: um dia.
Não ficou estabelecido ainda
como será feita a avaliação dessas carteiras, o prazo dos empréstimos e os valores que poderão ser emprestados para cada banco. Na prática, porém, o
BC assumirá mais risco com essas operações. No caso de o
banco quebrar, ele ficará com o
crédito, mas não há garantia de
que isso será suficiente para cobrir o prejuízo.
Meirelles afirmou, porém,
que a medida não tem como objetivo socorrer bancos que estejam em dificuldade imediata.
"Hoje não vemos necessidade
de exercer essa prerrogativa",
disse. Não há garantia, porém,
de que o uso desse instrumento
venha a público, já que ele disse
que não deve divulgar o nome
das instituições que venham a
receber esses recursos. "A boa
prática bancária recomenda
que isso deve ser objeto de sigilo bancário para não haver especulações desnecessárias."
Uso das reservas
A MP traz ainda autorização
para que o BC crie uma espécie
de redesconto em moeda estrangeira. Com isso, o BC poderá emprestar dinheiro das reservas do país para instituições
que operam no exterior. As regras dessas transações também
não foram explicitadas.
Um terceiro ponto da MP será permitir que empresas de
leasing (operações de aluguel
com direito a compra do produto no final do financiamento)
emitam letras de arrendamento mercantil (papéis com lastro
nas operações delas e que são
negociados no mercado).
Nos bastidores, Meirelles
disse a Lula que alguns bancos
de grande porte não estavam
usando a possibilidade de usar
recursos de depósito compulsório liberados pelo governo
para comprar as carteiras de
crédito das pequenas instituições, autorizada na semana
passada. Com isso, estavam
pressionando as pequenas instituições a vender barato suas
carteiras, o que poderia criar
dificuldades para esses bancos.
Em entrevista a jornalistas,
porém, ele negou a existência
desse problema e afirmou que
"muitas operações" desse tipo
foram fechadas ainda ontem.
Na reunião com os líderes
políticos, Lula pediu apoio a
aprovação de dois projetos no
Legislativo neste ano: a reforma tributária e o fundo soberano. "O presidente Lula pediu
que o Congresso dê sua contribuição sem politizar essas votações", afirmou o líder do PT na
Câmara, Maurício Rands.
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