São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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"Melhor aluno", Alemanha passa rápido das luzes para as sombras

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O que certamente contribui para aumentar o pânico nos mercados é o fato de que o epicentro do terremoto, ontem, era a Alemanha, talvez o melhor aluno da classe, em termos de execução de políticas que a ortodoxia considera corretas.
A revista britânica "The Economist", o mais badalado arauto do liberalismo, escrevia, há pouco: "Os alemães sentem-se ofendidos. Enquanto outros viviam de crédito fácil e inflavam bolhas, eles praticavam a virtude. (...) O setor público tinha superávit no ano passado. Exportações e investimentos estavam indo bem, dando à Alemanha seu melhor momento desde o princípio dos anos 90".
Tanto que o ministro das Finanças, Peer Steinbrueck, dizia que quem esperasse uma recessão na Alemanha tinha "tendências sadomasoquistas".
O que aconteceu, então, para que a desconfiança atingisse o HRE e mesmo instituições tão sólidas como o Deutsche Bank, que ontem caiu 8%? Primeiro, claro, o contágio da crise americana, que fez de todos que lidam com hipotecas suspeitos por definição (caso do Hypo).
Mesmo quem não tinha títulos tóxicos, como se passou a denominar a montanha de papéis que ninguém sabe direito como funcionam, crescia em razão do boom imobiliário. Quando os preços começaram a cair, nenhum país mais conseguia se descolar.
Além disso, o sistema financeiro alemão é formado por um conjunto grande de caixas econômicas locais, pouco eficientes até por falta de escala. Permitir a quebra do HRE tenderia a arrastar todo esse conjunto de instituições pequenas.
O choque com a crise do HRE é tanto maior pelo fato de que, até a metade do ano, os financiamentos a empresas por parte do sistema financeiro aumentaram 9% em relação ao ano passado. Nada que se parecesse à secura de crédito. Agora, não apenas os sadomasoquistas tendem a apostar em recessão ou, no mínimo, em desaceleração. (CR)



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