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"Melhor aluno", Alemanha passa rápido das luzes para as sombras
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O que certamente contribui
para aumentar o pânico nos
mercados é o fato de que o epicentro do terremoto, ontem,
era a Alemanha, talvez o melhor aluno da classe, em termos
de execução de políticas que a
ortodoxia considera corretas.
A revista britânica "The Economist", o mais badalado arauto do liberalismo, escrevia, há
pouco: "Os alemães sentem-se
ofendidos. Enquanto outros viviam de crédito fácil e inflavam
bolhas, eles praticavam a virtude. (...) O setor público tinha superávit no ano passado. Exportações e investimentos estavam indo bem, dando à Alemanha seu melhor momento desde o princípio dos anos 90".
Tanto que o ministro das Finanças, Peer Steinbrueck, dizia
que quem esperasse uma recessão na Alemanha tinha "tendências sadomasoquistas".
O que aconteceu, então, para
que a desconfiança atingisse o
HRE e mesmo instituições tão
sólidas como o Deutsche Bank,
que ontem caiu 8%? Primeiro,
claro, o contágio da crise americana, que fez de todos que lidam com hipotecas suspeitos
por definição (caso do Hypo).
Mesmo quem não tinha títulos tóxicos, como se passou a
denominar a montanha de papéis que ninguém sabe direito
como funcionam, crescia em
razão do boom imobiliário.
Quando os preços começaram
a cair, nenhum país mais conseguia se descolar.
Além disso, o sistema financeiro alemão é formado por um
conjunto grande de caixas econômicas locais, pouco eficientes até por falta de escala. Permitir a quebra do HRE tenderia
a arrastar todo esse conjunto
de instituições pequenas.
O choque com a crise do HRE
é tanto maior pelo fato de que,
até a metade do ano, os financiamentos a empresas por parte do sistema financeiro aumentaram 9% em relação ao
ano passado. Nada que se parecesse à secura de crédito. Agora, não apenas os sadomasoquistas tendem a apostar em
recessão ou, no mínimo, em desaceleração.
(CR)
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