São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Bolsa de NY recua ao menor nível em 4 anos

Com crescentes sinais de desaceleração, membro do Fed já vê EUA em recessão

Índice Dow Jones chegou a cair mais de 7,7%, mas se recuperou ao longo do dia e fechou com baixa de 3,58%; Nasdaq tem queda de 4,34%

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

"Venda ações - Compre sapatos." Com a sua nova promoção, a gigante rede norte-americana Steve Madden resumiu ontem o clima de pânico, caos e pessimismo que dominou o mercado de ações dos EUA.
Fortemente afetada por uma expectativa cada vez maior de de recessão, a Bolsa de Valores de Nova York mergulhou ontem em novos recordes de baixa. No final do dia, recuperou-se um pouco. Mas, mesmo assim, fechou o pregão com o índice Dow Jones em seu patamar mais baixo em quatro anos, aos 9.955,50 pontos.
No início da tarde, o índice chegou a cair quase 800 pontos, nível menor do que o recorde absoluto registrado até hoje na segunda passada, quando a queda alcançou 777 pontos.
Por volta das 14h de ontem, para cada ação que estava em alta na Bolsa nova-iorquina, 31 caíam. Os papéis mais castigados foram os dos bancos e os das empresas mais fortemente relacionadas ao consumo.
Tanto o Dow Jones quanto o índice S&P 500, que acompanha um número maior de papéis, chegaram a cair mais de 7,7% ao longo do dia.
O S&P fechou em baixa de 3,85%, e o Dow Jones, de 3,58%. Já na Bolsa eletrônica Nasdaq a queda foi de 4,34%. Em 12 meses, o Dow Jones acumula queda de 25%; o S&P 500, de 28% e a Nasdaq, de 29,8%.
Alcoa (commodities), Boeing (aviação) e Disney (entretenimento) lideraram as perdas no setor não-financeiro. Ao mesmo tempo, grande empresas, como eBay e Kraft Foods, anunciaram planos de demissão, ampliando o pessimismo.
Entre os bancos, um dos maiores tombos foi o do Bank of America, que anunciou corte de dividendos a acionistas, planos de vender US$ 10 bilhões em ações para levantar capital e uma redução de 68% nos lucros do terceiro trimestre em relação ao ano passado.
Além dos problemas internos provocados pela crise de crédito e pela falta de liquidez no mercado, Nova York abriu em queda embalada pelas más notícias do outro lado do Atlântico, com os problemas em grandes bancos europeus.
Para pior o cenário, o presidente da divisão regional do Fed (o BC dos EUA) em Richmond, Jeffrey Lacker, afirmou que é "bastante provável" que a economia americana já esteja em recessão. E o Prêmio Nobel de Economia Edmund Phelps disse que o plano de US$ 700 bilhões de ajuda do governo aos mercados pode ser insuficiente para capitalizar os bancos.

Recessão
A maioria das consultorias dos EUA espera números negativos para o desempenho do comércio no terceiro trimestre. Se confirmado, será o primeiro trimestre no vermelho desde 1990 -e que antecedeu a recessão no país em 1991.
Uma das indicações é que o volume de espaços em lojas vazios em shoppings das 76 maiores cidades do país aumentou 6,6% entre julho e setembro e está no maior nível desde 2001. Grandes redes de varejo abriram a semana com liquidações e "descontos sem precedentes" superiores a 60% -caso da AnnTaylor Stores. A GAP, uma das maiores do país, cortou preços de vários itens em 40%. No geral, o comércio norte-americano projeta perdas já superiores a 5% em setembro sobre igual mês do ano passado.
As empresas aéreas também já sentiram diminuição no volume de passageiros. Por conta disso, a American Airlines cortou em 9,4% a oferta de assentos. No mês passado, 12% menos passageiros voaram, para lazer ou negócios, pela empresa dentro dos EUA.

Financiamento
Setembro também marcou o primeiro mês em cinco anos em que nenhuma fez lançamento inicial de ações (os chamados IPOs) na Bolsa de Valores. No mesmo mês de 2007, quase US$ 1 bilhão foi levantado com essa operação.
As dificuldades entre as empresas para conseguir dinheiro para as atividades do dia-a-dia também aumentaram. Hoje, empresas de primeira linha têm de pagar juros quase cinco pontos percentuais acima das taxas dos títulos federais.


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