São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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Santander leva até R$ 14 bi em oferta recorde

Com lançamento de ações, banco eleva valor de mercado para ao menos R$ 94 bi e se aproxima do Bradesco, o 2º do país nesse critério

Captação deverá ser a maior do ano no mundo; com os recursos, banco investirá em rede de agências, tecnologia e expansão do crédito


Eduardo Knapp - 29.jul.09/Folha Imagem
Fabio Barbosa, presidente do banco Santander

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Santander Brasil, quarto maior banco em operação no país, concluiu ontem a maior captação de recursos do ano no Brasil e possivelmente no mundo com a venda de novas ações.
A unidade brasileira do banco espanhol deve levar até R$ 14,1 bilhões com a venda de papéis, se for confirmada a venda integral de um lote suplementar de ações, que saíram a R$ 23,50 -abaixo do teto de R$ 25 que o mercado previa. O banco já garantiu R$ 12,337 bilhões.
Com isso, a captação do Santander deve superar a abertura de capital da construtora chinesa CSCEC, que levantou US$ 7,34 bilhões (R$ 12,8 bilhões) em julho, a maior operação do ano. Os papéis estreiam hoje na BM&F Bovespa e na Bolsa de Nova York em meio a grande expectativa dos investidores.
Com a operação, o Santander brasileiro se torna um banco quase do porte do Bradesco em valor de mercado. Segundo a consultoria Economática, o Santander chega à Bolsa hoje com valor de pelo menos R$ 93,972 bilhões, acima dos R$ 78,2 bilhões do Banco do Brasil, mas abaixo dos R$ 100,2 bilhões do Bradesco e dos R$ 147 bilhões do Itaú Unibanco. No ranking por ativos, o BB é o líder, seguido por Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.
Segundo as corretoras, a oferta do Santander foi uma das que mais atraíram o interesse do investidor pessoa física desde a abertura de capital da antiga BM&F, em novembro de 2007, que teve a adesão de 260,9 mil pequenos investidores. O Santander chegou a anunciar a operação na televisão e em jornais e revistas.
Os coordenadores da oferta não divulgaram, até o fechamento desta edição, o valor do possível rateio das ações para os investidores pessoa física, que ficaram com algo entre 10% e 20% das ações. Também não foi divulgado a quanto cada funcionário e cliente do banco teve direito. Os funcionários tinham assegurado 5% dos papéis, e os clientes, 10%.
Segundo o Santander, os recursos obtidos serão investidos integralmente no Brasil. A maior parte irá para tecnologia, ampliação da rede de agências e expansão do crédito. Com a capitalização, o Santander terá condições de aumentar a capacidade de empréstimos, especialmente nos setores imobiliário e de infraestrutura.
O banco espanhol cresceu no Brasil por meio de uma estratégia agressiva de aquisições, iniciada no final dos anos 1990 com as compras de Noroeste, Geral do Comércio, Meridional, Bozano e Banespa. Em 2007, duplicou novamente de tamanho após comprar as operações brasileiras do holandês ABN Amro por US$ 20 bilhões.
Com a entrada na Bolsa, segundo analistas, o Santander pretende se tornar uma espécie de porta-voz da pujança do mercado brasileiro de capitais, trazendo ao país práticas de transparência e respeito a acionistas minoritários compatíveis com a matriz na Espanha.
Para Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin Ratings, o Santander tem muito a crescer no crédito e poderá usar os recursos captados na Bolsa para isso. "Há espaço para crescer, mas o banco pode ficar com caixa subutilizado."
Para Ricardo Almeida, do Insper (antigo-Ibmec-SP), o preço dos papéis do Santander não foi uma "pechincha". Isso porque o banco tem um lucro ainda baixo para o preço das ações, que incorporam hoje o benefício que terá no futuro a partir dessa venda de ações.
"Eles estão embutindo no preço que os projetos a serem implementados ocorrerão. Eles vão ter agora uma pressão grande para entregar resultado. E os funcionários vão estar comprometidos porque entraram na oferta e querem que a ação suba", disse Almeida.
Segundo analistas, a oferta do Santander derrubou o valor das ações dos demais bancos por conta da diversificação das carteiras de fundos de investimento, que não querem elevar as exposição ao setor bancário. As ações do Bradesco caíram 2,51% ontem; as do Itaú, 0,73%; e as do Banco do Brasil, 1,3%.


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