São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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AMAZÔNIA

Investidores chegam a desistir de ações por problemas de regulação e depois de projetos de manejo cancelados

Estrangeiro espera estabilidade fundiária

DO ENVIADO AO PARÁ

O caos fundiário e burocrático do setor florestal na maior selva tropical do mundo também espanta investimentos estrangeiros. Se é verdade, por um lado, que algumas das empresas certificadas pelo FSC da Amazônia são de capital internacional, por outro, a floresta brasileira ainda é vista mais como risco econômico do que como oportunidade.
Essa limitação ao capital estrangeiro tem duas faces: por um lado, investimentos estrangeiros diretos em países com instituições de controle frágeis como o Brasil podem acarretar o que os economistas ambientais Carlos Young e Victor Prochnik, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, chamam de uma "corrida ao fundo do poço" -uma superexploração acelerada dos recursos naturais, como aconteceu nas florestas da Malásia e da Indonésia.
Por outro, ressaltam Young e Prochnik no livro "Exportando sem Crises" (IIED, 2004), os investimentos estrangeiros diretos feitos no setor florestal amazônico até agora têm sido associados a boas práticas ambientais. Um exemplo é a Gethal Amazonas, em Itacoatiara (AM), madeireira certificada pelo FSC que foi comprada pelo grupo de investimentos norte-americano GMO.
O GMO, assim como vários outros grupos, esteve em negociações para criar um fundo florestal no Brasil. A atividade, que hoje está no pico nos EUA e na Austrália, consiste em comprar florestas, manejá-las por um tempo e vendê-las de acordo com o crescimento de espécies comerciais.
A idéia não vingou na Amazônia por duas razões: a taxa de juros alta e a indisponibilidade de terras. "É impossível comprar uma área grande na Amazônia sem estar sendo lesado", diz Carlos Guerreiro, gerente florestal da Gethal. "A concessão ajuda porque freia a ilegalidade."
Guerreiro diz que não consegue sondar a quantidade de capital disponível para esse tipo de investimento no Brasil. "Mas o [grupo de investimento americano] Harvard Forest tem US$ 500 milhões para investir e não acha onde."
O presidente da Uniflor, Wagner Kronbauer, diz ter sido contatado por uma empresa da Holanda e uma da França dispostas a bancar a certificação de madeireiras brasileiras a fim de ter um fornecimento seguro de madeira com selo do FSC. Elas desistiram, porque "não conseguem entender" a política brasileira.
"Não foi uma nem duas vezes que pessoas que forneciam para elas tiveram projetos de manejo cancelados", afirma.
Frank Creti, diretor-geral da Eldorado, exportadora de madeira do Pará pertencente ao grupo francês Lapèyre, diz que perdeu de 30% a 40% de seu fornecimento de matéria-prima depois que o Ibama suspendeu os planos de manejo, em 2003.
Ele afirma que não pode garantir a origem da madeira não-certificada que a empresa compra -77% do total. "Não há traçabilidade possível. Nossos fornecedores compram toras de desmatamento." A vantagem das concessões? O francês põe o indicador na testa. "É estar tranqüilo." (CA)


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