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Ex-"rei do mogno" vira exemplo de conservação
DO ENVIADO AO PARÁ
O paranaense Idacir Peracchi
sacode a mão como se afastasse
um fantasma ao ser questionado
sobre sua encarnação passada como empresário. "Esquece esse negócio de mogno!", implora.
Peracchi, 47, fala sem o menor
orgulho da época em que era um
dos reis do mogno em Tucumã,
no sul do Pará, e comandava batalhões de mateiros e operadores de
motosserra que ficavam no mato
por até dois meses, recebendo comida de avião, para tirar a preciosa madeira que virou símbolo da
atividade florestal predatória e da
fiscalização corrupta.
De 1980, quando veio para a
Amazônia, a 1998, esse nativo de
Laranjeiras do Sul trabalhou com
extração e venda da madeira vermelha, proibida em 2003.
A empresa da família, a Peracchi, enfrentou uma ação do Ministério Público pela invasão da
terra indígena Apiteréwa, da tribo
paracanã, rica em mogno. Idacir
se cansou da montanha-russa.
"Ele entendeu que era insustentável a forma como se fazia o negócio e rompeu com a família", diz o
ex-inimigo Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra.
Hoje, Peracchi é um modelo de
madeireiro bem-sucedido e que
preserva a floresta. Sua empresa, a
Juruá Madeiras, foi a primeira
madeireira de capital nacional a
obter a certificação do FSC, em
2000. Mudou o nome para Juruá
Florestal. "Juruá Madeiras era
muito pesado. Eu queria uma coisa mais light", sorri.
Entre um gole de chimarrão e
outro no seu escritório em Ananindeua, região metropolitana de
Belém, Peracchi exibe orgulhoso
sua foto num anúncio do banco
ABN, do qual é cliente, que o usou
como garoto-propaganda de suas
ações ambientalmente corretas.
A Juruá hoje faz manejo florestal certificado em 41 mil hectares,
na região de Tailândia, uma das
fronteiras madeireiras mais antigas do Pará. Trabalha com 52 espécies e fatura R$ 25 milhões por
ano. Tem duas fábricas de pisos
em Ananindeua e exporta 95% do
que produz para Holanda, França, Bélgica e Estados Unidos.
Exemplo
"Hoje ele é uma referência entre
os madeireiros", conta Adalberto
Veríssimo, do Imazon. "Todas as
empresas médias viram o sucesso
dele e querem se certificar e operar no modelo de concessão."
Quando a Juruá resolveu procurar o selo do FSC, no entanto, o
quadro era outro. A área da empresa era pequena (12,5 mil ha), o
custo inicial da certificação era alto e ainda não estava claro se o
mercado internacional pagaria o
sobrepreço à madeira com o selo
verde -hoje, ressalte-se, o sobrepreço é de até 50% para algumas
espécies. A Mil Madeireira, empresa de capital suíço que foi a
primeira a se certificar no país,
operava no prejuízo.
"Todo mundo me dizia que ou
eu era muito macho ou era muito
louco em me certificar. Mas o pessoal da Embrapa me fez uma lavagem cerebral. Se eu tivesse consciência, não teria me certificado",
recorda-se. "Hoje, todo mundo
me procura para saber como conseguir "o tal selo verde'", ri.
Para Peracchi, o grande trunfo
da certificação é a necessidade de
menos área de floresta para extrair um volume maior de madeira. "Você promove novas espécies
e novos produtos."
(CA)
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