São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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Ex-"rei do mogno" vira exemplo de conservação

DO ENVIADO AO PARÁ

O paranaense Idacir Peracchi sacode a mão como se afastasse um fantasma ao ser questionado sobre sua encarnação passada como empresário. "Esquece esse negócio de mogno!", implora.
Peracchi, 47, fala sem o menor orgulho da época em que era um dos reis do mogno em Tucumã, no sul do Pará, e comandava batalhões de mateiros e operadores de motosserra que ficavam no mato por até dois meses, recebendo comida de avião, para tirar a preciosa madeira que virou símbolo da atividade florestal predatória e da fiscalização corrupta.
De 1980, quando veio para a Amazônia, a 1998, esse nativo de Laranjeiras do Sul trabalhou com extração e venda da madeira vermelha, proibida em 2003.
A empresa da família, a Peracchi, enfrentou uma ação do Ministério Público pela invasão da terra indígena Apiteréwa, da tribo paracanã, rica em mogno. Idacir se cansou da montanha-russa. "Ele entendeu que era insustentável a forma como se fazia o negócio e rompeu com a família", diz o ex-inimigo Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra.
Hoje, Peracchi é um modelo de madeireiro bem-sucedido e que preserva a floresta. Sua empresa, a Juruá Madeiras, foi a primeira madeireira de capital nacional a obter a certificação do FSC, em 2000. Mudou o nome para Juruá Florestal. "Juruá Madeiras era muito pesado. Eu queria uma coisa mais light", sorri.
Entre um gole de chimarrão e outro no seu escritório em Ananindeua, região metropolitana de Belém, Peracchi exibe orgulhoso sua foto num anúncio do banco ABN, do qual é cliente, que o usou como garoto-propaganda de suas ações ambientalmente corretas.
A Juruá hoje faz manejo florestal certificado em 41 mil hectares, na região de Tailândia, uma das fronteiras madeireiras mais antigas do Pará. Trabalha com 52 espécies e fatura R$ 25 milhões por ano. Tem duas fábricas de pisos em Ananindeua e exporta 95% do que produz para Holanda, França, Bélgica e Estados Unidos.

Exemplo
"Hoje ele é uma referência entre os madeireiros", conta Adalberto Veríssimo, do Imazon. "Todas as empresas médias viram o sucesso dele e querem se certificar e operar no modelo de concessão."
Quando a Juruá resolveu procurar o selo do FSC, no entanto, o quadro era outro. A área da empresa era pequena (12,5 mil ha), o custo inicial da certificação era alto e ainda não estava claro se o mercado internacional pagaria o sobrepreço à madeira com o selo verde -hoje, ressalte-se, o sobrepreço é de até 50% para algumas espécies. A Mil Madeireira, empresa de capital suíço que foi a primeira a se certificar no país, operava no prejuízo.
"Todo mundo me dizia que ou eu era muito macho ou era muito louco em me certificar. Mas o pessoal da Embrapa me fez uma lavagem cerebral. Se eu tivesse consciência, não teria me certificado", recorda-se. "Hoje, todo mundo me procura para saber como conseguir "o tal selo verde'", ri.
Para Peracchi, o grande trunfo da certificação é a necessidade de menos área de floresta para extrair um volume maior de madeira. "Você promove novas espécies e novos produtos." (CA)


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