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CÉU DE BRIGADEIRO
Com maioria republicana ampliada, corporações contam com limitações a ações judiciais e reformas pró-negócios
Empresas esperam caminho livre com Bush
DAN ROBERTS
EDWARD ALDEN
DO "FINANCIAL TIMES"
À medida que a dimensão da vitória republicana nas eleições
norte-americanas na semana passada se fez sentir, as empresas dos
EUA começaram a compreender
que não só escaparam de ameaças
democratas às suas liberdades
mas também que desfrutam da
perspectiva de conseguir a aprovação de reformas com que mal
conseguiam sonhar no primeiro
mandato de George W. Bush.
Um ar de euforia começa a se fazer sentir nos conselhos e nos escritórios de lobby em Washington, temperado pelo reconhecimento de que há muito a fazer em
curto prazo.
A Business Roundtable, que expressa os interesses das grandes
empresas em Washington e também é presidida por McKinnell,
está se preparando para divulgar
uma agenda alternativa, mais
confiante, para o setor de saúde,
defendendo soluções de mercado
e requerendo mais responsabilidade por parte dos pacientes.
O maior avanço para as empresas provavelmente deve vir de
mudanças no sistema judicial,
particularmente nos processos
quanto ao uso de fibra de amianto, nos processos coletivos e nas
ações por imperícia médica.
Na quinta-feira, Bush confirmou que a reforma na legislação
processual seria provavelmente o
primeiro item de sua agenda, porque as questões "foram debatidas
e interrompidas um par de vezes"
no Senado.
A reforma nessa área teria
imensas implicações não só para
a indústria -dezenas de empresas foram levadas à falência por
processos relacionados à fibra de
amianto- mas também para outras empresas. O grupo Wal-Mart, por exemplo, está envolvido no maior processo por discriminação sexual da história, para o
qual a definição legal do que exatamente constituiria um "processo coletivo" seria essencial.
Legislação favorável às empresas também deve ser adotada
quanto a uma série de questões
energéticas e ambientais -da
prospecção de petróleo no Alasca
ao conteúdo de mercúrio admissível na fumaça despejada pelas
chaminés de usinas de energias
acionadas a carvão.
A lista é longa, e as empresas terão de competir por espaço em
uma agenda de segundo mandato
repleta de questões de política externa e de desafios domésticos.
Ainda assim, embora alguns republicanos, como o senador John
McCain, tenham instado Bush e o
Senado a se concentrar em iniciativas bipartidárias, o lobby das
empresas acredita que os republicanos tentarão impor agressivamente uma agenda partidária que
funcionará em favor do setor empresarial. "Eles vão tentar aprovar
a lista completa de suas idéias",
diz um importante lobista de uma
associação setorial de grande porte. "Os republicanos vão pisar
fundo no acelerador."
Thomas Reynolds, que presidiu
o comitê organizador da campanha republicana no Congresso,
foi questionado na quarta-feira se
o partido precisaria tomar cuidado para não forçar a parada.
"Não, acredito que o país nos tenha mostrado só sinais verdes."
Nem tudo será tão fácil quanto
parece. Os executivos de Wall
Street não estão dando muita importância às sugestões de que lucrarão pesado com os planos republicanos para privatizar o seguro social. Os bancos e outros setores continuam a enfrentar desafios severos da Securities and Exchange Commission (SEC, organização que fiscaliza e regulamenta os mercados norte-americanos
de valores mobiliários) e de Eliot
Spitzer, o procurador-geral do Estado de Nova York.
Esforço mínimo
Mesmo assim, os últimos quatro anos não exigiram um enorme
esforço das empresas, em Washington. Bush conseguiu aprovar o maior corte de Imposto de
Renda na história dos EUA, os
gastos com a defesa e a segurança
interna dispararam depois dos
ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e o Congresso aprovou um projeto generoso de reforma dos impostos empresariais.
Mas, com a reeleição de Bush e a
ampliação do controle republicano sobre o Congresso, tanto os
profissionais de lobby empresarial como seus oponentes dizem
que os próximos quatro anos podem inclinar a balança política
em favor das empresas de maneira mais dramática do que em
qualquer outro período da história moderna do país.
Setores tão diversos quanto a indústria manufatureira, os serviços
financeiros, a energia, a saúde e a
indústria farmacêutica esperam
conseguir a aprovação de medidas que foram bloqueadas repetidamente pelos democratas, especialmente no Senado.
"É o melhor que poderia ter
acontecido para todos esses setores", diz Charles Lewis, do Centro
pela Integridade Pública, que monitora os lobbies das empresas em
Washington. "É de fato o nirvana
para esse pessoal."
Embora a reeleição de Bush tenha mantido um forte defensor
das empresas na Casa Branca, a
mudança mais importante que a
votação trouxe foi no Senado. Nos
últimos quatro anos, a maioria republicana na casa era tão pequena
-51 assentos a 49- que os democratas tinham facilidade para
usar manobras regimentais e outras táticas dilatórias para bloquear propostas republicanas.
Mas a eleição ampliou a maioria
republicana no Senado a 55 assentos, margem que, embora ainda inferior aos 60 assentos necessários para bloquear todas as táticas dilatórias, dá aos republicanos
posição muito mais forte.
O resultado das eleições marca
o ápice de aposta iniciada uma década atrás pelas empresas dos
EUA, que decidiram colocar suas
fichas no Partido Republicano.
No início dos anos 90, as grandes
empresas dividiam igualmente as
doações entre democratas e republicanos, em tentativa de garantir
audiência simpática não importa
que partido viesse a controlar o
Congresso e a Casa Branca.
Mas, desde que os republicanos
tomaram o controle da Câmara
dos Deputados, em 1994, as contribuições das empresas começaram a beneficiar cada vez mais o
seu partido. Na eleição de 1992,
por exemplo, os grandes bancos
comerciais dividiram igualmente
as suas doações entre os dois partidos. Neste ano, 64% do dinheiro
foi para candidatos republicanos.
"As empresas investiram muito
dinheiro nos republicanos e agora
querem seu retorno", diz Joan
Claybrook, presidente da Public
Citizen, de defesa do consumidor.
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