São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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CÉU DE BRIGADEIRO

Com maioria republicana ampliada, corporações contam com limitações a ações judiciais e reformas pró-negócios

Empresas esperam caminho livre com Bush

DAN ROBERTS
EDWARD ALDEN
DO "FINANCIAL TIMES"

À medida que a dimensão da vitória republicana nas eleições norte-americanas na semana passada se fez sentir, as empresas dos EUA começaram a compreender que não só escaparam de ameaças democratas às suas liberdades mas também que desfrutam da perspectiva de conseguir a aprovação de reformas com que mal conseguiam sonhar no primeiro mandato de George W. Bush.
Um ar de euforia começa a se fazer sentir nos conselhos e nos escritórios de lobby em Washington, temperado pelo reconhecimento de que há muito a fazer em curto prazo.
A Business Roundtable, que expressa os interesses das grandes empresas em Washington e também é presidida por McKinnell, está se preparando para divulgar uma agenda alternativa, mais confiante, para o setor de saúde, defendendo soluções de mercado e requerendo mais responsabilidade por parte dos pacientes.
O maior avanço para as empresas provavelmente deve vir de mudanças no sistema judicial, particularmente nos processos quanto ao uso de fibra de amianto, nos processos coletivos e nas ações por imperícia médica.
Na quinta-feira, Bush confirmou que a reforma na legislação processual seria provavelmente o primeiro item de sua agenda, porque as questões "foram debatidas e interrompidas um par de vezes" no Senado.
A reforma nessa área teria imensas implicações não só para a indústria -dezenas de empresas foram levadas à falência por processos relacionados à fibra de amianto- mas também para outras empresas. O grupo Wal-Mart, por exemplo, está envolvido no maior processo por discriminação sexual da história, para o qual a definição legal do que exatamente constituiria um "processo coletivo" seria essencial.
Legislação favorável às empresas também deve ser adotada quanto a uma série de questões energéticas e ambientais -da prospecção de petróleo no Alasca ao conteúdo de mercúrio admissível na fumaça despejada pelas chaminés de usinas de energias acionadas a carvão.
A lista é longa, e as empresas terão de competir por espaço em uma agenda de segundo mandato repleta de questões de política externa e de desafios domésticos.
Ainda assim, embora alguns republicanos, como o senador John McCain, tenham instado Bush e o Senado a se concentrar em iniciativas bipartidárias, o lobby das empresas acredita que os republicanos tentarão impor agressivamente uma agenda partidária que funcionará em favor do setor empresarial. "Eles vão tentar aprovar a lista completa de suas idéias", diz um importante lobista de uma associação setorial de grande porte. "Os republicanos vão pisar fundo no acelerador."
Thomas Reynolds, que presidiu o comitê organizador da campanha republicana no Congresso, foi questionado na quarta-feira se o partido precisaria tomar cuidado para não forçar a parada. "Não, acredito que o país nos tenha mostrado só sinais verdes."
Nem tudo será tão fácil quanto parece. Os executivos de Wall Street não estão dando muita importância às sugestões de que lucrarão pesado com os planos republicanos para privatizar o seguro social. Os bancos e outros setores continuam a enfrentar desafios severos da Securities and Exchange Commission (SEC, organização que fiscaliza e regulamenta os mercados norte-americanos de valores mobiliários) e de Eliot Spitzer, o procurador-geral do Estado de Nova York.

Esforço mínimo
Mesmo assim, os últimos quatro anos não exigiram um enorme esforço das empresas, em Washington. Bush conseguiu aprovar o maior corte de Imposto de Renda na história dos EUA, os gastos com a defesa e a segurança interna dispararam depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e o Congresso aprovou um projeto generoso de reforma dos impostos empresariais.
Mas, com a reeleição de Bush e a ampliação do controle republicano sobre o Congresso, tanto os profissionais de lobby empresarial como seus oponentes dizem que os próximos quatro anos podem inclinar a balança política em favor das empresas de maneira mais dramática do que em qualquer outro período da história moderna do país.
Setores tão diversos quanto a indústria manufatureira, os serviços financeiros, a energia, a saúde e a indústria farmacêutica esperam conseguir a aprovação de medidas que foram bloqueadas repetidamente pelos democratas, especialmente no Senado.
"É o melhor que poderia ter acontecido para todos esses setores", diz Charles Lewis, do Centro pela Integridade Pública, que monitora os lobbies das empresas em Washington. "É de fato o nirvana para esse pessoal."
Embora a reeleição de Bush tenha mantido um forte defensor das empresas na Casa Branca, a mudança mais importante que a votação trouxe foi no Senado. Nos últimos quatro anos, a maioria republicana na casa era tão pequena -51 assentos a 49- que os democratas tinham facilidade para usar manobras regimentais e outras táticas dilatórias para bloquear propostas republicanas.
Mas a eleição ampliou a maioria republicana no Senado a 55 assentos, margem que, embora ainda inferior aos 60 assentos necessários para bloquear todas as táticas dilatórias, dá aos republicanos posição muito mais forte.
O resultado das eleições marca o ápice de aposta iniciada uma década atrás pelas empresas dos EUA, que decidiram colocar suas fichas no Partido Republicano. No início dos anos 90, as grandes empresas dividiam igualmente as doações entre democratas e republicanos, em tentativa de garantir audiência simpática não importa que partido viesse a controlar o Congresso e a Casa Branca.
Mas, desde que os republicanos tomaram o controle da Câmara dos Deputados, em 1994, as contribuições das empresas começaram a beneficiar cada vez mais o seu partido. Na eleição de 1992, por exemplo, os grandes bancos comerciais dividiram igualmente as suas doações entre os dois partidos. Neste ano, 64% do dinheiro foi para candidatos republicanos.
"As empresas investiram muito dinheiro nos republicanos e agora querem seu retorno", diz Joan Claybrook, presidente da Public Citizen, de defesa do consumidor.


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