São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2007

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Bancos que administram fortunas são alvo da PF

Instituições que operam com doleiros em "private banking" são investigadas

Objetivo é fechar o cerco a empresas brasileiras que usam esse esquema para enviar ilegalmente recursos obtidos com caixa-dois

DA REPORTAGEM LOCAL

As prisões de executivos do Credit Suisse no ano passado e do UBS, do AIG Private Bank e do Clariden ontem são parte de uma mesma linha de ação. A Polícia Federal investiga a maior parte das instituições financeiras estrangeiras que opera com doleiros em escritórios de "private banking", segundo a Folha apurou.
O objetivo é fechar o cerco a empresários brasileiros que utilizam esse esquema para enviar ao exterior recursos obtidos principalmente com o subfaturamento nas importações e que formam o caixa-dois das empresas por meio de sonegação de impostos.
As investigações começaram em dezembro passado, quando policiais federais de São Paulo identificaram que o Credit Suisse abria contas na Suíça para brasileiros que quisessem enviar dólares sem conhecimento da Receita e do Banco Central. Os clientes não precisavam sair do Brasil para ter uma conta suíça. O Credit encaminhava o cliente ao doleiro para que ele fizesse a remessa por meio de uma operação conhecida como "dólar-cabo".

Sem rastros
Nesse sistema de remessa, o interessado em mandar dinheiro ao exterior paga o doleiro no Brasil em reais. De uma conta fora do país, a mesma quantia em dólares ou euros é remetida para outra em nome do cliente.
Marco Antonio Cursini, apontado como o doleiro oficial do Credit Suisse no Brasil, usava uma conta que tinha no Bank Hoffman de Zurique. O interessado em fazer a remessa entregava a ele o valor em dólar, euro ou o equivalente nessas moedas e ele, a partir do Bank Hoffman, enviava os recursos para o Credit.
Em abril deste ano, 22 doleiros que atuavam para o Credit Suisse foram alvo da Operação Kaspar 1. O grupo movimentava mensalmente cerca de US$ 30 milhões, segundo a PF.
Como não há papéis oficiais nesse tipo de operação, não é fácil provar que um determinado empresário fez a remessa.
O máximo que a polícia consegue são indícios de irregularidade, obtidos nas interceptações telefônicas.
A dificuldade da PF de acusar o Credit Suisse pode ser expressa em um número: a investigação completa dois anos no próximo mês e até agora não foi apresentada a chamada denúncia, a acusação formal que marca o início do processo.
Para desvendar o esquema, os policiais federais se "abasteciam" de duas fontes de informação: dos doleiros sob investigação e de um executivo que trabalhava no banco suíço.
Em março do ano passado, o economista suíço Peter Schaffener, um dos gerentes do Credit Suisse em Zurique, foi preso pela Polícia Federal numa sala VIP do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP). Ele tentava fugir do país, segundo policiais que participaram da ação.
Schaffener seria o responsável na Suíça pelo escritório de "private banking" do Credit Suisse em São Paulo, segundo a PF.
O Credit é investigado por suspeita de remessa ilegal de dólares, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra o sistema financeiro.
O escritório do Credit nega ter cometido esses crimes. O executivo suíço alega que não tem nada a ver com o escritório brasileiro. O escritório de "private banking" não tem relações com o Credit Suisse brasileiro, segundo a assessoria do banco, o segundo maior da Suíça. Seriam unidades de negócios autônomas. (MCC e CR)


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