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Bancos que administram fortunas são alvo da PF
Instituições que operam com doleiros em "private banking" são investigadas
Objetivo é fechar o cerco a empresas brasileiras que usam esse esquema para enviar ilegalmente recursos obtidos com caixa-dois
DA REPORTAGEM LOCAL
As prisões de executivos do
Credit Suisse no ano passado e
do UBS, do AIG Private Bank e
do Clariden ontem são parte de
uma mesma linha de ação. A
Polícia Federal investiga a
maior parte das instituições financeiras estrangeiras que
opera com doleiros em escritórios de "private banking", segundo a Folha apurou.
O objetivo é fechar o cerco a
empresários brasileiros que
utilizam esse esquema para enviar ao exterior recursos obtidos principalmente com o subfaturamento nas importações e
que formam o caixa-dois das
empresas por meio de sonegação de impostos.
As investigações começaram
em dezembro passado, quando
policiais federais de São Paulo
identificaram que o Credit
Suisse abria contas na Suíça
para brasileiros que quisessem
enviar dólares sem conhecimento da Receita e do Banco
Central. Os clientes não precisavam sair do Brasil para ter
uma conta suíça. O Credit encaminhava o cliente ao doleiro
para que ele fizesse a remessa
por meio de uma operação conhecida como "dólar-cabo".
Sem rastros
Nesse sistema de remessa, o
interessado em mandar dinheiro ao exterior paga o doleiro no
Brasil em reais. De uma conta
fora do país, a mesma quantia
em dólares ou euros é remetida
para outra em nome do cliente.
Marco Antonio Cursini,
apontado como o doleiro oficial
do Credit Suisse no Brasil, usava uma conta que tinha no
Bank Hoffman de Zurique. O
interessado em fazer a remessa
entregava a ele o valor em dólar, euro ou o equivalente nessas moedas e ele, a partir do
Bank Hoffman, enviava os recursos para o Credit.
Em abril deste ano, 22 doleiros que atuavam para o Credit
Suisse foram alvo da Operação
Kaspar 1. O grupo movimentava mensalmente cerca de US$
30 milhões, segundo a PF.
Como não há papéis oficiais
nesse tipo de operação, não é
fácil provar que um determinado empresário fez a remessa.
O máximo que a polícia consegue são indícios de irregularidade, obtidos nas interceptações telefônicas.
A dificuldade da PF de acusar
o Credit Suisse pode ser expressa em um número: a investigação completa dois anos no
próximo mês e até agora não foi
apresentada a chamada denúncia, a acusação formal que marca o início do processo.
Para desvendar o esquema,
os policiais federais se "abasteciam" de duas fontes de informação: dos doleiros sob investigação e de um executivo que
trabalhava no banco suíço.
Em março do ano passado, o
economista suíço Peter Schaffener, um dos gerentes do Credit Suisse em Zurique, foi preso
pela Polícia Federal numa sala
VIP do aeroporto de Cumbica,
em Guarulhos (SP). Ele tentava
fugir do país, segundo policiais
que participaram da ação.
Schaffener seria o responsável na Suíça pelo escritório de
"private banking" do Credit
Suisse em São Paulo, segundo a
PF.
O Credit é investigado por
suspeita de remessa ilegal de
dólares, lavagem de dinheiro,
formação de quadrilha e crime
contra o sistema financeiro.
O escritório do Credit nega
ter cometido esses crimes. O
executivo suíço alega que não
tem nada a ver com o escritório
brasileiro. O escritório de "private banking" não tem relações
com o Credit Suisse brasileiro,
segundo a assessoria do banco,
o segundo maior da Suíça. Seriam unidades de negócios autônomas.
(MCC e CR)
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