São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

A transição econômica de Obama


Presidente eleito nomeia time que parece o Conselhão de Lula para gerenciar início da mudança na economia

A EQUIPE que Barack Obama nomeou para gerenciar a transição econômica é uma salada curiosa -parece um pouco o Conselhão de Lula. Obama reuniu um grupo muito diverso na formação, nas carreiras e no alinhamento político. Há também pessoas a quem Obama parece distribuir medalhas políticas de "íntimo do presidente", prêmio de consolação para quem não vai ocupar altos cargos.
O caso mais curioso é o de William Donaldson, ex-presidente da SEC (órgão de supervisão do mercado de capitais) no governo George W. Bush. Donaldson tem vasta experiência nos setores público e privado. Entre outros postos, ocupou subsecretaria de Estado sob Henry Kissinger (governo Richard Nixon), presidiu empresas e a Bolsa de Nova York. O mais divertido é que fez parte do grupo que não apenas facilitou a desregulamentação financeira sob Bush, mas também se opôs a controles sobre bancos de investimento.
Há de tudo na equipe: amigos de Illinois, Estado de Obama, políticos, inimigos e adeptos do Nafta, gente de esquerda e um bushista etc. Estão lá Warren Buffet, o mais bem-sucedido e rico investidor do mundo, e presidentes de empresas como Google, Xerox e Time-Warner.
Há mais gente que transita entre empresas e governos. Por exemplo William Daley, secretário de Comércio de Clinton, advogado e banqueiro. Dirigiu a campanha de Al Gore e pode ser candidato a governador de Illinois. Há Roger Ferguson, diretor do Fed (1997-2006) nomeado por Clinton e que deixou o cargo para presidir um fundo de pensão de professores. De maior destaque nessa ala há Robert Rubin.
Rubin, secretário do Tesouro de Bill Clinton, ora no conselho do Citigroup, lidera os economistas clintonianos. Mas ontem disse que não quer cargos no governo Obama -talvez por ser o que se chama hoje nos EUA de "gato gordo de Wall Street". Paul Volcker, 81, o presidente do Fed que acabou com a grande inflação dos anos 70, está no grupo -pode vir a ser o grande e velho sábio de Obama, mas sem cargo.
No grupo político-acadêmico, a figura de maior destaque é Lawrence Summers, de Harvard, secretário do Tesouro de Clinton (1999-2001), próximo de Rubin e que era cotado para voltar ao posto sob Obama.
Contra Summers pesa a fúria feminista. Quando presidia Harvard, disse que as mulheres sofrem de "inaptidão intrínseca" para a matemática.
A presença de Summers no grupo de transição indica que cresce a chance de Timothy Geithner ocupar o Tesouro? Geithner, 47, preside o Fed de NY, braço operacional da política monetária do Fed, e gerencia a crise financeira. Foi sub de Rubin e de Summers no Tesouro e, pelo cargo, conhece Wall Street muito bem, mesmo sem ter trabalhado lá. Ou ganha força Jon Corzine? O ex-banqueiro e senador teria de renunciar ao governo de New Jersey. Corzine presidiu o Goldman Sachs, assim como Rubin e Henry Paulson, atual secretário do Tesouro de Bush.
No grupo ainda estão Robert Reich, secretário do Trabalho de Clinton, da esquerda democrata, e Laura Tyson, que presidiu as assessorias econômicas de Clinton.
Tyson é também da Brookings Institution, instituto de pesquisa onde trabalham vários democratas.

vinit@uol.com.br


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