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Crise mundial derrubará safra de 2009, diz IBGE
Prognóstico indica a 1ª queda na produção desde 2005, com um recuo de 3,3%
Instituto diz que setor sente impacto da maior restrição ao crédito e da alta no preço dos insumos; Conab também reduz previsões
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A crise mundial já tem impacto sobre as previsões de safra para 2009. O primeiro prognóstico da próxima safra divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta queda de 3,3% na
produção, que deve somar
140,8 milhões de toneladas. Caso a estimativa se confirme, será a primeira queda na produção desde 2005, ano em que o
resultado foi afetado por fatores climáticos.
Paulo Renato Corrêa, pesquisador da Coordenação de
Agropecuária do IBGE, afirmou que é muito raro o instituto registrar queda no primeiro
prognóstico de safra do ano seguinte. A Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento)
também divulgou projeção de
queda de 1,4% a 2,9% para a safra de 2008/2009, que deverá
ficar entre 139,66 milhões e
141,83 milhões de toneladas.
O presidente da Conab, Wagner Rossi, afirma que a safra será marcada pela expansão de
alimentos básicos, como arroz
e feijão. "As políticas de apoio
ao mercado adotadas pelo governo e a definição dos produtores por esses grãos foram decisivas para garantirmos estoques suficientes", disse.
Os dados do IBGE confirmam a expansão da produção
de produtos básicos, como arroz (1,9%) e feijão (17,5%), mas
outros produtos importantes
deverão registrar queda, como
soja (0,2%), algodão (10,7%) e
milho 1ª safra (6,0%).
O instituto diz que o principal impacto deverá ocorrer sobre os investimentos e o resultado será uma safra com menor
uso de tecnologia. A piora reflete as incertezas geradas pela
crise mundial, com aumento da
restrição ao crédito e alta no
preço dos insumos. "Há muitas
restrições ao crédito, as tradings que financiavam o produtor saíram, e o preço dos produtos caiu. O produtor não vai
deixar de plantar, mas vai diminuir um pouco a produção. Essa primeira safra será plantada
até dezembro e está pegando o
auge da crise", afirma Corrêa.
O pesquisador ressalta que só
os produtores que estão com
dívidas equacionadas têm conseguido obter crédito nos últimos meses. Ele destaca que pode haver recuperação na segunda safra a partir de março.
A primeira estimativa do
IBGE leva em conta a produção
das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e dos Estados de
Rondônia, Maranhão, Piauí e
Bahia. As informações da pesquisa representam 77,3% da
produção nacional prevista.
Para Miguel Biegai, analista
de mercado agrícola da consultoria Safras & Mercado, a queda está relacionada à menor cotação em dólar de produtos
agrícolas. "Historicamente, o
produtor brasileiro se baseia
mais no preço indicado em dólares do que efetivamente na
taxa de câmbio", disse.
Ele cita o aumento dos preços de fertilizantes e defensivos
como alguns dos principais entraves à expansão da produção.
"A tendência é de uso de menos
tecnologia. Em tempo de crise,
o produtor compra semente
mais barata, fertilizante mais
em conta e defensivo que não é
de primeira linha."
A avaliação inicial da área a
ser colhida em 2009 indica aumento de 1,2%, equivalente a
mais 600 mil hectares. No total,
a área deve somar 47,8 milhões
de hectares.
Safra de 2008
Em outubro, a estimativa do
IBGE da safra nacional de grãos
em 2008 era da ordem de 145,6
milhões de toneladas -alta de
9,4% em relação à safra de
2007. Soja, milho e arroz representavam 89,8% da produção
nacional estimada em grãos.
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