São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

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Crise mundial derrubará safra de 2009, diz IBGE

Prognóstico indica a 1ª queda na produção desde 2005, com um recuo de 3,3%

Instituto diz que setor sente impacto da maior restrição ao crédito e da alta no preço dos insumos; Conab também reduz previsões

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

A crise mundial já tem impacto sobre as previsões de safra para 2009. O primeiro prognóstico da próxima safra divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta queda de 3,3% na produção, que deve somar 140,8 milhões de toneladas. Caso a estimativa se confirme, será a primeira queda na produção desde 2005, ano em que o resultado foi afetado por fatores climáticos.
Paulo Renato Corrêa, pesquisador da Coordenação de Agropecuária do IBGE, afirmou que é muito raro o instituto registrar queda no primeiro prognóstico de safra do ano seguinte. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) também divulgou projeção de queda de 1,4% a 2,9% para a safra de 2008/2009, que deverá ficar entre 139,66 milhões e 141,83 milhões de toneladas.
O presidente da Conab, Wagner Rossi, afirma que a safra será marcada pela expansão de alimentos básicos, como arroz e feijão. "As políticas de apoio ao mercado adotadas pelo governo e a definição dos produtores por esses grãos foram decisivas para garantirmos estoques suficientes", disse.
Os dados do IBGE confirmam a expansão da produção de produtos básicos, como arroz (1,9%) e feijão (17,5%), mas outros produtos importantes deverão registrar queda, como soja (0,2%), algodão (10,7%) e milho 1ª safra (6,0%).
O instituto diz que o principal impacto deverá ocorrer sobre os investimentos e o resultado será uma safra com menor uso de tecnologia. A piora reflete as incertezas geradas pela crise mundial, com aumento da restrição ao crédito e alta no preço dos insumos. "Há muitas restrições ao crédito, as tradings que financiavam o produtor saíram, e o preço dos produtos caiu. O produtor não vai deixar de plantar, mas vai diminuir um pouco a produção. Essa primeira safra será plantada até dezembro e está pegando o auge da crise", afirma Corrêa.
O pesquisador ressalta que só os produtores que estão com dívidas equacionadas têm conseguido obter crédito nos últimos meses. Ele destaca que pode haver recuperação na segunda safra a partir de março.
A primeira estimativa do IBGE leva em conta a produção das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste e dos Estados de Rondônia, Maranhão, Piauí e Bahia. As informações da pesquisa representam 77,3% da produção nacional prevista.
Para Miguel Biegai, analista de mercado agrícola da consultoria Safras & Mercado, a queda está relacionada à menor cotação em dólar de produtos agrícolas. "Historicamente, o produtor brasileiro se baseia mais no preço indicado em dólares do que efetivamente na taxa de câmbio", disse.
Ele cita o aumento dos preços de fertilizantes e defensivos como alguns dos principais entraves à expansão da produção. "A tendência é de uso de menos tecnologia. Em tempo de crise, o produtor compra semente mais barata, fertilizante mais em conta e defensivo que não é de primeira linha."
A avaliação inicial da área a ser colhida em 2009 indica aumento de 1,2%, equivalente a mais 600 mil hectares. No total, a área deve somar 47,8 milhões de hectares.

Safra de 2008
Em outubro, a estimativa do IBGE da safra nacional de grãos em 2008 era da ordem de 145,6 milhões de toneladas -alta de 9,4% em relação à safra de 2007. Soja, milho e arroz representavam 89,8% da produção nacional estimada em grãos.


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