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OPINIÃO ECONÔMICA
Emprego, a guerra santa
BENJAMIN STEINBRUCH
Pergunte a um economista
quais são as consequências
do desemprego e ele certamente
fará um discurso mais ou menos
assim: a destruição de postos de
trabalho reduz o poder de compra
da população, o que resulta em
redução do crescimento econômico, estagnação e até recessão. O
desemprego também tem impacto negativo direto na distribuição
de renda e no próprio equilíbrio
fiscal do governo. Com a queda
da renda, caem também as receitas do governo e da Previdência
Social. Em resumo, a redução de
postos de trabalho compromete o
desenvolvimento de um país.
Esse discurso é obviamente correto, mas está longe de apresentar
a face mais dramática do desemprego para a sociedade. O Brasil
de hoje, que se prepara para eleger o novo presidente da República, precisa se sensibilizar muito
mais com os efeitos destruidores
do desemprego para as pessoas e
para as famílias.
Os homens do governo e os
próprios empresários do setor privado têm a obrigação de se imaginar no lugar de alguém sem
emprego na atual sociedade brasileira, que praticamente não oferece nenhuma proteção ao desempregado.
Um pai ou uma mãe de família
sem emprego não podem ser olhados apenas como um número.
Eles perdem totalmente a dignidade humana e a cidadania, uma
vez que ficam impossibilitados de
honrar seus compromissos sociais, oferecer alimentação saudável aos filhos e de cuidar de sua
saúde e educação.
Os bons homens e mulheres brasileiros sem emprego são levados
a se sentir como párias da sociedade, vítimas da desesperança.
Na sociedade capitalista, o desemprego de longa duração, que
ocorre hoje no Brasil, deteriora o
ambiente familiar, afasta amigos,
leva à solidão, ao alcoolismo e, algumas vezes, até ao suicídio. Esta
é a cruel realidade.
Você, leitor, que chegou até este
trecho deste artigo, pode eventualmente considerar meu discurso demagógico. Nesse caso, você provavelmente nunca sentiu
na carne o desemprego de longa
duração. Tente imaginar, então,
uma situação prática. Quem fica
sem emprego no Brasil não perde
apenas o salário mensal, mas
também inúmeros direitos e benefícios concedidos atualmente
aos empregados: INSS, contagem
de tempo para a aposentadoria,
depósitos no PIS e no FGTS, férias
remuneradas, convênio de assistência médica, auxílio-refeição,
seguro de vida em grupo, adicionais por tempo de serviço, creche
para os filhos, ambulatórios etc. O
limitado seguro-desemprego existente no Brasil está longe de suprir todas essas perdas.
O efeito destruidor do desemprego obriga o governo a olhar a
questão com o cuidado e a urgência que ela merece. É preciso entender o que está acontecendo no
âmbito mundial neste início de
século e de milênio.
A verdadeira guerra santa não
é a do Afeganistão. É a guerra do
emprego. No fundo, o que se discute em fóruns internacionais como OMC, Alca e Mercosul não é o
comércio, mas a criação de postos
de trabalho. Trata-se de saber
quem vai ganhar uma guerra em
que exportar significa emprego e
importar, desemprego.
Nesse aspecto, é uma ótima surpresa o trabalho do ministro do
Desenvolvimento, Sergio Amaral.
Seu empenho no estímulo aos setores competitivos e exportadores,
contra a opinião de muitos, indica que ele captou a importância
de entrar na guerra do milênio
para vencer. O Brasil vai iniciar
uma série de negociações bilaterais e multilaterais neste ano,
com países da América Latina,
China, União Européia e no âmbito da Alca. O sucesso nessas negociações vai significar empregos;
o insucesso, desemprego.
Exportar é a forma mais rápida
de criar empregos. Mas há que se
olhar também para outras soluções tradicionais de estímulo a setores absorvedores de mão-de-obra, como turismo, construção
civil e agricultura. Quando essas
ações são relegadas ao segundo
plano, como infelizmente ocorreu
nos últimos anos, salta aos olhos
uma característica que não fica
bem a nenhum governo: insensibilidade social.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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