São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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Intervenção será maior, diz Mantega

Sergio Lima/Folha Imagem
Guido Mantega (esq.), ministro do Planejamento, e Edmar Bacha


ANDRÉ SOLIANI
JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


O Estado terá um papel mais ativo na economia durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem o ministro do Planejamento, Guido Mantega, no seu discurso de posse.
A tônica foi de mudança com relação ao modelo econômico do governo de Fernando Henrique Cardoso. "Estão enganados aqueles que imaginam que praticaremos a velha política econômica", disse o novo ministro.
No seu discurso de seis páginas, Mantega reservou apenas uma frase elogiosa para o antigo governo. "Para não cometer injustiças, reconheço que houve iniciativas de planejamento neste ministério, como os planos plurianuais e um avanço no gerenciamento e gestão dos projetos públicos."
Na frase seguinte, no entanto, Mantega ressalvou que esses avanços foram "ofuscados pela ausência de um projeto maior". Ele enfatizou em diversas ocasiões que o governo Lula vai ter um planejamento estratégico.
Segundo ele, esse planejamento significa maior intervenção do Estado na economia. "O governo Lula não terá pudores em traçar políticas ativas para a indústria, para a agricultura, para os serviços e onde mais houver necessidade de modernização", disse.
Mantega ressaltou que mais intervencionismo não significará um volta ao modelo dos anos 50.
Para Mantega, duas das maiores adversidades do projeto do novo governo são os juros pagos sobre a dívida pública (cerca de 10% do PIB) e as pressões inflacionárias.

Sintonia com a Fazenda

Durante a campanha para a Presidência, Lula afirmava que o Ministério do Planejamento seria a área forte do governo, para acabar com a frieza dos números e da política da Fazenda. E criticava a falta de um projeto para o Brasil.
A crise econômica e financeira dos últimos meses fez com que o primeiro nome pensado para o Planejamento, Antonio Palocci Filho, assumisse a Fazenda. Ontem, Mantega afirmou que a Fazenda e o Planejamento trabalharão com "toda a sintonia".
O novo ministro disse que sempre "existe a possibilidade de [o governo" rever" a meta de superávit primário (economia de despesa para pagamento de juros da dívida). Ele acrescentou que o próprio acordo com o FMI prevê revisões trimestrais do superávit.
Segundo ele, apesar do ambiente macroeconômico mais favorável que começa a se esboçar, não há espaço para uma revisão para baixo da meta no curto prazo. "Estamos saindo de um quadro muito difícil. Precisamos adotar uma posição de cautela", afirmou.
Ele acrescentou que, se for necessário um superávit maior, o governo o cumprirá. "Mas nesse momento não há deliberação sobre isso", declarou.
O novo ministro acredita que as boas notícias, como valorização do real nos últimos dias, permitem prever que o risco-país poderá cair para algo entre 600 e 700 pontos ainda neste ano.
Mantega foi pouco prestigiado pela gestão anterior. O ex-ministro Guilherme Dias não compareceu e foi representado pelo seu secretário-executivo, Simão Cirineu, na transmissão de cargo.
O novo ministro foi, no entanto, o único que teve a presença do vice-presidente, José Alencar.


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