São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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Após 6 anos, fluxo cambial fica negativo

Com crise, saldo financeiro do país atinge recorde negativo de US$ 49 bi, levando conta total a um déficit de US$ 983 mi em 2008

Só no 4º tri, saída líquida de dólares na conta financeira vai a US$ 22,8 bi; reservas caem a US$ 193 bi, após pico de US$ 208 bi de setembro


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fluxo de capital externo para o Brasil ficou negativo no ano passado, o que não acontecia desde 2002, segundo dados do Banco Central. Ao longo de 2008, as remessas feitas ao exterior superaram em US$ 983 milhões o volume de dólares que entrou no país no período.
O resultado representa uma forte queda em relação aos US$ 87,5 bilhões recordes que o Brasil recebeu em 2007.
O que chama a atenção é a velocidade com que esse indicador foi afetado pela crise. Até setembro, o fluxo de capital externo para o Brasil em 2008 estava positivo em US$ 17,2 bilhões, mas, no último trimestre, quando o nervosismo nos mercados se intensificou, as saídas líquidas de recursos chegaram a US$ 18,2 bilhões.
O impacto da crise no mercado de câmbio é visto, principalmente, nas chamadas operações financeiras, que incluem empréstimos externos e investimentos estrangeiros, entre outros. Nesse segmento, a saída líquida de recursos nos últimos três meses de 2008 foi de US$ 22,8 bilhões, o que elevou o saldo negativo do ano para US$ 48,9 bilhões, o maior desde 1982, quando o BC começou a divulgar esse tipo de dado.
A situação foi pior porque, ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, o comportamento da balança comercial não ajudou a compensar essa fuga de dólares. Por causa das dificuldades dos exportadores para financiar suas vendas, o volume de operações de comércio exterior fechadas no mercado também se retraiu.
Só em dezembro, o total de dinheiro enviado para fora do país por importadores superou em US$ 119 milhões o trazido por exportadores. Foi a primeira vez desde 2001 que esse saldo ficou negativo -entre janeiro e novembro de 2008, ao contrário, o saldo positivo foi, em média, de US$ 4,4 bilhões.
Para tentar combater esse problema, o BC injetou cerca de US$ 20 bilhões no mercado nos últimos três meses, valor que inclui também o volume de dólares destinados a financiar exportadores. Graças a isso, as reservas em moeda estrangeira do país encerraram 2008 em US$ 193,5 bilhões, depois de chegarem ao pico de US$ 208,7 bilhões em setembro.
Nos primeiros dias de 2009, por outro lado, a cotação do dólar perdeu um pouco de força, saindo do patamar acima de R$ 2,30 observado no encerramento do ano passado para algo próximo de R$ 2,20. Alguns analistas veem esse comportamento de formas diferentes.
Para Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora, a recente valorização do real não significa estabilidade. "Quem acha isso está redondamente enganado. Acredito que, em algum momento, [o dólar] vai voltar a subir, porque a situação lá fora continua complicada." Ontem o dólar subiu 2,75%, fechando a R$ 2,24.
Segundo Battistel, a oferta de dólares no mercado segue restrita, e os exportadores continuam com problemas para financiar as exportações. O alívio na taxa de câmbio nos últimos dias reflete, para o analista, uma queda no volume de operações no mercado futuro de câmbio, que vinha pressionando muito a cotação da moeda.
Já a LCA Consultores aponta que, apesar do resultado negativo de 2008, alguns dados deste começo de ano podem ser vistos de forma mais otimista -entre eles, a queda do dólar e do risco e a emissão de títulos da dívida externa fechada anteontem pelo governo. "O quadro mostrou melhora significativa", diz relatório da LCA.


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