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Após 6 anos, fluxo cambial fica negativo
Com crise, saldo financeiro do país atinge recorde negativo de US$ 49 bi, levando conta total a um déficit de US$ 983 mi em 2008
Só no 4º tri, saída líquida de
dólares na conta financeira
vai a US$ 22,8 bi; reservas
caem a US$ 193 bi, após pico
de US$ 208 bi de setembro
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fluxo de capital externo para o Brasil ficou negativo no
ano passado, o que não acontecia desde 2002, segundo dados
do Banco Central. Ao longo de
2008, as remessas feitas ao exterior superaram em US$ 983
milhões o volume de dólares
que entrou no país no período.
O resultado representa uma
forte queda em relação aos US$
87,5 bilhões recordes que o
Brasil recebeu em 2007.
O que chama a atenção é a velocidade com que esse indicador foi afetado pela crise. Até
setembro, o fluxo de capital externo para o Brasil em 2008 estava positivo em US$ 17,2 bilhões, mas, no último trimestre, quando o nervosismo nos
mercados se intensificou, as
saídas líquidas de recursos chegaram a US$ 18,2 bilhões.
O impacto da crise no mercado de câmbio é visto, principalmente, nas chamadas operações financeiras, que incluem
empréstimos externos e investimentos estrangeiros, entre
outros. Nesse segmento, a saída
líquida de recursos nos últimos
três meses de 2008 foi de US$
22,8 bilhões, o que elevou o saldo negativo do ano para US$
48,9 bilhões, o maior desde
1982, quando o BC começou a
divulgar esse tipo de dado.
A situação foi pior porque, ao
contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, o comportamento da balança comercial não ajudou a compensar
essa fuga de dólares. Por causa
das dificuldades dos exportadores para financiar suas vendas, o volume de operações de
comércio exterior fechadas no
mercado também se retraiu.
Só em dezembro, o total de
dinheiro enviado para fora do
país por importadores superou
em US$ 119 milhões o trazido
por exportadores. Foi a primeira vez desde 2001 que esse saldo ficou negativo -entre janeiro e novembro de 2008, ao contrário, o saldo positivo foi, em
média, de US$ 4,4 bilhões.
Para tentar combater esse
problema, o BC injetou cerca
de US$ 20 bilhões no mercado
nos últimos três meses, valor
que inclui também o volume de
dólares destinados a financiar
exportadores. Graças a isso, as
reservas em moeda estrangeira
do país encerraram 2008 em
US$ 193,5 bilhões, depois de
chegarem ao pico de US$ 208,7
bilhões em setembro.
Nos primeiros dias de 2009,
por outro lado, a cotação do dólar perdeu um pouco de força,
saindo do patamar acima de R$
2,30 observado no encerramento do ano passado para algo próximo de R$ 2,20. Alguns
analistas veem esse comportamento de formas diferentes.
Para Mário Battistel, gerente
de câmbio da Fair Corretora, a
recente valorização do real não
significa estabilidade. "Quem
acha isso está redondamente
enganado. Acredito que, em algum momento, [o dólar] vai
voltar a subir, porque a situação
lá fora continua complicada."
Ontem o dólar subiu 2,75%, fechando a R$ 2,24.
Segundo Battistel, a oferta de
dólares no mercado segue restrita, e os exportadores continuam com problemas para financiar as exportações. O alívio
na taxa de câmbio nos últimos
dias reflete, para o analista,
uma queda no volume de operações no mercado futuro de
câmbio, que vinha pressionando muito a cotação da moeda.
Já a LCA Consultores aponta
que, apesar do resultado negativo de 2008, alguns dados deste começo de ano podem ser
vistos de forma mais otimista
-entre eles, a queda do dólar e
do risco e a emissão de títulos
da dívida externa fechada anteontem pelo governo. "O quadro mostrou melhora significativa", diz relatório da LCA.
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