São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2000


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NEONACIONALISMO
BNDES recebe orientação
Governo quer a Vale em mãos brasileiras

da Sucursal do Rio

O governo determinou ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que evite a todo custo a desnacionalização da Companhia Vale do Rio Doce no processo de reestruturação do setor de mineração e siderurgia brasileiro, em via de ser deslanchado.
Segundo a Folha apurou, embora todas as possibilidades ainda estejam em aberto, que a reestruturação da siderurgia, que passa obrigatoriamente pela Vale, deve estar concluída até o final do primeiro semestre deste ano.
Além de considerar a Vale uma empresa estratégica para a inserção brasileira no mercado internacional globalizado, o governo tem uma clara preocupação política em relação a um possível controle estrangeiro da mineradora.
É que essa hipótese conta com a ferrenha oposição dos governos dos Estados nos quais a Vale está presente. Mesmo não sendo mais estatal (foi privatizada em maio de 97), a Vale continua sendo uma parceira social estratégica para os nove Estados onde atua.
Os políticos regionais temem que tudo mude se tiverem que dialogar com um centro de poder de fora do país. Na privatização, a Vale quase passou às mãos da sul-africana Anglo-Americana (em parceria com o grupo Votorantim). A venda à empresa estrangeira foi evitada graças à decisão dos fundos de pensão de empresas estatais, liderados pela Previ, de ficar do lado do consórcio montado pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).

Participações cruzadas
A reestruturação do setor siderúrgico tem justamente a Vale, a CSN e a Previ como personagens centrais. Há um nó de participações cruzadas da fundação e das empresas que precisa ser desfeito para o setor voltar a crescer.
E há também, no entendimento do BNDES, a necessidade de os grupos nacionais se aglutinarem, formando grupos maiores, para disputar com mais competitividade o mercado internacional.
A Previ tem participação acionária na CSN, na Vale, na Usiminas, na Acesita e na CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). A CSN é uma das controladoras da Vale.
E a Vale é uma das controladoras da CSN e também da CST, da Acesita e da Açominas, tendo também participação significativa (15%) na Usiminas, embora fora do bloco de controle.
A Previ encomendou aos bancos Chase Manhattan e Santander um estudo sobre a melhor forma de desfazer esse nó.
Nada está decidido, mas a tendência é a Previ sair do controle da CSN e esta deixar a Vale.
Os analistas consideram também que as empresas Açominas e CST são decisivas no processo de reestruturação, por serem as únicas grandes usinas de aço do país com condições de crescer.
A CST e a Acesita já formam um mesmo grupo e têm como suporte a francesa Usinor, que entrou para o grupo em 1998. Há a hipótese de esse grupo se integrar com a Usiminas-Cosipa, formando o maior grupo siderúrgico do país. Essa união poderia enfrentar problemas com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
A Açominas já está ligada ao grupo Gerdau, o maior do país em aços não-planos (vergalhões, fios e outros) e conta com a participação da Natsteel (Cingapura).
O grupo Gerdau já tentou comprar parte da CSN, mas comprou recentemente uma usina nos Estados Unidos e afirma que vai se concentrar nos próximos anos em consolidar suas posições.
A direção da CSN afirma que o caminho da siderúrgica para crescer é construir uma usina de 6 milhões de toneladas de aço no porto de Sepetiba (RJ). O projeto deve ser apresentado ao Conselho de Administração até junho.
Há dúvidas no mercado sobre a possibilidade de a empresa conseguir os mais de US$ 2 bilhões necessários para tocar o projeto.



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