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OPINIÃO ECONÔMICA
Bye, bye empregos
BENJAMIN STEINBRUCH
Que diferença faz um ano! Tirei essa frase exclamativa de um
texto da jornalista Flavia Sekles,
correspondente do "Jornal do
Brasil" em Washington. É muito
feliz. Demonstra a estupefação
de quem olha para trás e observa uma fotografia da economia
brasileira tirada em janeiro passado. Naquele início de ano, o
Banco Central havia tido três
presidentes em uma semana, a
política cambial mudara radicalmente e o real se desvalorizava de forma assustadora.
Diante desse quadro, previa-se
a catástrofe para 1999: a inflação explodiria e o país se atolaria numa recessão profunda,
com queda superior a 5% no
Produto Interno Bruto. Esse sacrifício seria consequência da
desvalorização do real, medida
que, em contrapartida, estimularia fortemente as exportações
e desestimularia as importações.
O resultado seria um superávit
comercial estimado em até US$
11 bilhões, suficiente para o país
equilibrar suas contas externas.
Um ano depois desse momento tenebroso da recente história
da economia brasileira, é muito
curioso observar como a realidade se encarregou de desmentir a todos. Os pessimistas de
plantão, que previam o caos inflacionário e a recessão, foram
contrariados porque os preços
subiram apenas moderadamente e porque a economia até conseguiu um ligeiro crescimento.
Os governistas incorrigíveis, que
apostavam no efeito favorável
da desvalorização cambial para
a produção de um grande superávit no comércio externo, tiveram de engolir a confirmação de
um déficit de US$ 1,19 bilhão.
Por que tudo isso aconteceu?
Que lições podemos tirar desse
episódio?
A inflação não disparou por
uma série de fatores. O principal
deles foi a forte reação dos agentes econômicos contra o repasse
dos aumentos de custos. Lembro-me de que, no primeiro semestre do ano passado, setores
do comércio e da indústria relutaram em aceitar aumentos de
preços, numa demonstração de
que a velha indexação, que tanto realimentou a inflação brasileira nas últimas décadas, está
finalmente dizendo adeus.
As razões pelas quais frustraram-se as previsões sobre o superávit comercial também são conhecidas: queda dos preços das
commodities, aumento do petróleo importado e reação defasada ao incentivo dado pela desvalorização cambial.
Tudo isso é passado. As exportações vão reagir neste ano. A
recuperação será forte e já começou, a julgar pelos contratos de
exportação de manufaturados
firmados com clientes estrangeiros para o primeiro trimestre.
O que mais preocupa são as
importações. Agora que vamos
retomar o crescimento econômico, é hora de ficar de olho nas
importações. Devemos ter uma
política liberal nessa área? Sim,
porque as importações podem
atuar positivamente para estimular o crescimento. No passado recente, o país abriu suas
fronteiras para combater a inflação. Foi correto, mas isso
também é passado. Repetir a política agora pode ter o efeito de
uma bomba atômica para a indústria e para a oferta de empregos.
Nos Estados Unidos, a economia mais liberal do mundo, as
decisões sobre importações são
tomadas de forma tripartite, pelo governo e pelos sindicatos de
trabalhadores e empregadores.
A entrada de produtos que possam causar prejuízos à indústria
local e aos empregos é impedida
por meio de cotas e outros mecanismos. Que tal copiar a fórmula?
Não temos também uma política aduaneira adequada para
um país do tamanho do Brasil.
Há certas coisas que precisam
ser ditas claramente: contrabandos entram por todos os poros.
Da mesma forma que um consumidor pode comprar um televisor em Miami e recebê-lo em casa, um importador pode encomendar um contêiner de mercadorias e colocá-las no mercado
com relativa facilidade.
Outra deficiência: não controlamos adequadamente a entrada de produtos subfaturados.
Nos Estados Unidos, as universidades preparam livros constantemente atualizados com especificações e preços de milhões de
produtos manufaturados produzidos no mundo. Lá, a possibilidade de alguém importar
um produto subfaturado é mínima.
Não advogo o protecionismo
para a indústria brasileira. Não
é disso que se trata. Sugiro uma
atenção redobrada com as importações neste ano de retomada da economia brasileira. Nada precisa ser inventado, basta
copiar o que se faz nos Estados
Unidos e em outros países. Sem
isso, as importações, que podem
funcionar como instrumento de
crescimento, acabarão se tornando um elemento inibidor da
nossa economia. E lá se vão nossos empregos.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário,é
presidente dos conselhos de administração
da Companhia Siderúrgica Nacional e da
Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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