São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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Funcionários no ES temem pelo emprego

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VILA VELHA

A anulação da venda da Chocolates Garoto para a Nestlé, determinada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) na última quarta-feira, instaurou um clima de apreensão e incerteza entre os cerca de 3.000 empregados da fábrica da empresa em Vila Velha, na região metropolitana de Vitória (ES).
Depois de quase dois anos sob a administração da multinacional, eles temem a divisão da empresa e demissões em massa. A Garoto está a seis meses de completar 75 anos -ela foi fundada em agosto de 1929 pelo imigrante alemão Henrique Meyerfreund.
Os funcionários programam um abraço simbólico no prédio na terça-feira, sob o lema: "Defenda o emprego desses garotos".
O ato é coordenado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Há 29 anos na empresa, o supervisor de produção Francisco Paulo, 49, tenta manter o otimismo, mas é um dos que não negam o temor com a suspensão da venda.
"Vi o auge dessa empresa, a decadência recente e a recuperação no crescimento, com a compra pela Nestlé. Agora, não sabemos o que vai acontecer", disse Paulo, cujo filho, de 23 anos, também trabalha no local (desde 1999).
"A fábrica é como uma família para nós. É aqui que passamos a maior parte do dia. A notícia nos pegou de surpresa. As pessoas me perguntam na rua o que vai acontecer", disse a operadora de máquina Rosângela Venturini, 40, há 25 anos na indústria.
"Já tive oito parentes trabalhando aqui. Trabalhava numa loja em frente à Garoto quando cheguei de São Gabriel da Paz (ES) e sonhava entrar aqui. Estou há 15 anos e quero me aposentar assim, mas tomei um baque com essa anulação da venda", afirmou a também operadora Maria das Graças Corbelari Pereira, 34.
Um dos responsáveis pelo controle de qualidade, Alaim Maris de Barros, 41, há 21 anos na Garoto, disse que seu setor foi um dos mais afetados durante os 23 meses da nova gestão. "Estudei química e ficava imaginando como seria ter acesso a toda aquela tecnologia de empresas estrangeiras. Com a Nestlé, pela primeira vez abrimos essa possibilidade."

Símbolos
Quem circula por Vila Velha, que tem cerca de 370 mil habitantes, percebe a identificação da cidade com a fábrica. Há símbolos da Garoto espalhados em pontos de ônibus e sobre placas de ruas, cabines telefônicas e relógios.
A fábrica, segundo o governo do Estado, chega a ser o ponto turístico mais visitado do Espírito Santo, seguido pelo Convento da Penha, ambos em Vila Velha. Em janeiro de 2003, foram 3.950 visitações, afirma a empresa.
Para os 75 anos, a empresa já programava várias campanhas publicitárias. "Queremos ampliar nosso vínculo com a comunidade, além de atingir outros lugares", afirmou a gerente de marketing da Garoto, Alais Fonseca.
A fábrica é responsável pela produção de 140 mil toneladas de chocolate por ano. "O faturamento em 2001 foi de R$ 450 milhões e, em 2002, de R$ 710 milhões. Nos últimos cinco anos, R$ 75 milhões foram investidos. E há mais potencial", disse o governador interino, Lelo Coimbra (PSB).
A Garoto é a maior indústria de Vila Velha. Só em 2003, foi responsável por 20,78% da arrecadação de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) do município.



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