São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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EMERGENTES

Bancos que negociam títulos da dívida externa do país dizem que há espaço para alta, apesar da recente turbulência

Recomendação de papel brasileiro é mantida

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

Depois de duas semanas de alta no risco Brasil e de queda nas cotações dos títulos da dívida externa do país, os responsáveis pela negociação desses papéis exibem otimismo.
"Nós permanecemos com uma visão positiva dos títulos soberanos brasileiros. Nós acreditamos que a combinação da melhoria dos fundamentos econômicos com o aumento das reservas internacionais vai inverter essa pressão desordenada [vista nos últimos dias] de venda desses papéis", disse à Folha Mohamed El-Erian, analista de mercados emergentes da Pimco (Pacific Investment Management Company).
O parecer da empresa tem peso no mercado. A Pimco é considerada a maior gerenciadora de investimentos em títulos da dívida soberana do mundo, com uma carteira de US$ 370 bilhões.
O ABN Amro também continua a manter a recomendação "overweight" (acima da média do mercado) para os títulos brasileiros.
Em comunicado distribuído para os seus clientes na semana passada, o banco afirma que a "exuberância irracional" que tomou conta do mercado da dívida de emergentes acabou, mas que ainda não é a hora de diminuir as posições nesses países. Por exuberância, entenda-se a diminuição expressiva do risco-país dos emergentes proporcionada pelo grande afluxo de investidores.
Sobre o Brasil, o banco diz que a situação da economia do país é "reconfortante". "Estamos otimistas e acreditamos que a taxa básica de juros vá ter trajetória descendente, que o "spread" bancário vá sofrer pressão de queda e que a criação de crédito vá contribuir para a recuperação da economia", diz o documento.
Em linhas gerais, a visão do banco é a de que, mesmo com uma eventual alta da taxa básica de juros do Fed (banco central dos EUA), o mercado emergente está mais blindado e pode se recuperar mais rapidamente do que em crises anteriores.
O banco de investimento Barclay Capital também adota a recomendação "overweight" para os papéis brasileiros. Mas Gustavo Rangel, estrategista para mercados emergentes do banco, faz uma ressalva. Ele diz que o resultado da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) vai ser crucial para a manutenção da atual avaliação do banco. Outro ponto que pode comprometer a visão sobre o Brasil é a dinâmica da relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto). "Se o crescimento não for tão bom quanto o esperado, nos preocupamos em saber se o Brasil vai conseguir manter um déficit nominal baixo", disse.
No coro dos otimistas também está o Citibank. O banco atribui "overweight" para os papéis da dívida brasileira. "Os emergentes continuam atraentes. Houve uma mudança de sentimento no mercado por causa da nova linguagem do Fed. Mas não houve mudanças nos fundamentos dessas economias", afirmou Carlos Kawall, analista do banco.
Na contramão desse entusiasmo está Enrique Alvarez, da IdeaGlobal. A corretora rebaixou na semana passada a recomendação de compra dos títulos brasileiros de "overweight" para neutro. Os clientes da empresa são aconselhados a não comprar papéis de longo prazo. "O cenário agora está mais complicado do lado político e econômico. O BC vai esperar um tempo antes de decidir a respeito de qualquer alteração na taxa básica de juros. Nós também vamos esperar para ver", disse.



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