São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Finanças e mundo "real"

Apesar da piora nos fluxos financeiros, dados do BNDES ainda mostram resistência da confiança na economia

O TROPEÇÃO do mês passado no mercado financeiro, confirmado pela saída líquida de US$ 2,36 bilhões, certamente não é boa notícia. Mas, sozinha, essa andorinha não faz nem desfaz um verão, ainda que não venha a ser bom augúrio as andorinhas cambiais continuarem a migrar assim nos próximos meses. O grosso do problema, como se sabe, deveu-se ao tombo das Bolsas, com a ajuda de um janeiro excepcionalmente ruim no comércio exterior. De resto, os dados do fluxo cambial são bem voláteis, embora o mar não esteja para peixe dado o tamanho da confusão e da imprevisibilidade dos EUA.
Mas há ainda sinais de alento em outras redondezas. Apesar de os indicadores andarem meio envelhecidos e pouco refletirem um possível efeito da crise americana na confiança dos empresários, números como os do balanço de empréstimos do BNDES para 2007 revelam alguns indícios de animação ainda resistente no lado "real" da economia.
O banco estatal liberou empréstimos de R$ 64,89 bilhões no ano passado, 26,5% mais que em 2006. A maior parte do dinheiro (39,4%) foi para a infra-estrutura. Embora tenham caído os créditos para a indústria, a linha de compra de máquinas e exportações cresceu 59% (o desempenho fraco da indústria foi atribuído pelo banco à queda do financiamento de exportações).
Mesmo com a justificada comemoração do progresso no mercado privado de capitais, o dinheiro do BNDES ainda é fatia muito importante do financiamento da expansão da economia. Em 2007, as empresas captaram R$ 75,4 bilhões por meio de operações de renda variável (ações, emissão primária e secundária), batendo o banco estatal.
Mas em 2006 o BNDES desembolsou empréstimos no valor de R$ 51,3 bilhões, contra R$ 31,3 de emissões de renda variável. Neste ano, a perspectiva de captações via ações é muito incerta. As aberturas de capital estão na geladeira, à espera do que vai ser da crise americana. Em janeiro, tal mercado parou. As empresas buscaram muito dinheiro via debêntures, para capital de giro.
Tal comparação (BNDES x ações), muito disseminada devido à euforia da Bolsa no ano passado, não é lá muito precisa, dada a diferença de natureza, prazo, custo e destinação do dinheiro das operações envolvidas. Mas dá uma dimensão do apetite das empresas e da diversificação de fontes de financiamento.
Quanto ao futuro próximo, embora não se saiba se as empresas irão ao BNDES com a fome de 2007, já se pode dizer ao menos que o dinheiro desembolsado vai surtir efeito nas rodas da economia real a partir deste ano. Mais animador, o volume de aprovações de crédito cresceu mais que o de desembolsos (33%), e é provável que o orçamento do banco neste ano fique em R$ 80 bilhões.
Grandes bancos, como Santander e Bradesco, ainda estimam crescimento em torno de 20% para suas carteiras de crédito em 2008 (muito disso vai para consumo, certo). As perspectivas de outros bancos que ainda não soltaram balanços (e não estão se manifestando em público) estão mais ou menos na mesma faixa. Sim, é apenas estimativa. Mas tais primeiros indícios não permitem prever grande tombo no investimento e consumo. Por ora.


vinit@uol.com.br

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