|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Finanças e mundo "real"
Apesar da piora nos fluxos financeiros, dados do BNDES
ainda mostram resistência
da confiança na economia
O TROPEÇÃO do mês passado
no mercado financeiro, confirmado pela saída líquida de
US$ 2,36 bilhões, certamente não é
boa notícia. Mas, sozinha, essa andorinha não faz nem desfaz um verão, ainda que não venha a ser bom
augúrio as andorinhas cambiais
continuarem a migrar assim nos
próximos meses. O grosso do problema, como se sabe, deveu-se ao
tombo das Bolsas, com a ajuda de
um janeiro excepcionalmente ruim
no comércio exterior. De resto, os
dados do fluxo cambial são bem voláteis, embora o mar não esteja para
peixe dado o tamanho da confusão e
da imprevisibilidade dos EUA.
Mas há ainda sinais de alento em
outras redondezas. Apesar de os indicadores andarem meio envelhecidos e pouco refletirem um possível
efeito da crise americana na confiança dos empresários, números
como os do balanço de empréstimos
do BNDES para 2007 revelam alguns indícios de animação ainda resistente no lado "real" da economia.
O banco estatal liberou empréstimos de R$ 64,89 bilhões no ano passado, 26,5% mais que em 2006. A
maior parte do dinheiro (39,4%) foi
para a infra-estrutura. Embora tenham caído os créditos para a indústria, a linha de compra de máquinas
e exportações cresceu 59% (o desempenho fraco da indústria foi
atribuído pelo banco à queda do financiamento de exportações).
Mesmo com a justificada comemoração do progresso no mercado
privado de capitais, o dinheiro do
BNDES ainda é fatia muito importante do financiamento da expansão
da economia. Em 2007, as empresas
captaram R$ 75,4 bilhões por meio
de operações de renda variável
(ações, emissão primária e secundária), batendo o banco estatal.
Mas em 2006 o BNDES desembolsou empréstimos no valor de R$
51,3 bilhões, contra R$ 31,3 de emissões de renda variável. Neste ano, a
perspectiva de captações via ações é
muito incerta. As aberturas de capital estão na geladeira, à espera do
que vai ser da crise americana. Em
janeiro, tal mercado parou. As empresas buscaram muito dinheiro via
debêntures, para capital de giro.
Tal comparação (BNDES x ações),
muito disseminada devido à euforia
da Bolsa no ano passado, não é lá
muito precisa, dada a diferença de
natureza, prazo, custo e destinação
do dinheiro das operações envolvidas. Mas dá uma dimensão do apetite das empresas e da diversificação
de fontes de financiamento.
Quanto ao futuro próximo, embora não se saiba se as empresas irão ao
BNDES com a fome de 2007, já se
pode dizer ao menos que o dinheiro
desembolsado vai surtir efeito nas
rodas da economia real a partir deste ano. Mais animador, o volume de
aprovações de crédito cresceu mais
que o de desembolsos (33%), e é provável que o orçamento do banco
neste ano fique em R$ 80 bilhões.
Grandes bancos, como Santander
e Bradesco, ainda estimam crescimento em torno de 20% para suas
carteiras de crédito em 2008 (muito
disso vai para consumo, certo). As
perspectivas de outros bancos que
ainda não soltaram balanços (e não
estão se manifestando em público)
estão mais ou menos na mesma faixa. Sim, é apenas estimativa. Mas
tais primeiros indícios não permitem prever grande tombo no investimento e consumo. Por ora.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Governo sinaliza apoio aos planos da Vale para a compra da Xstrata Próximo Texto: Vendas da indústria sobem 5,1% em 2007q Índice
|