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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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LUÍS NASSIF

No lugar do Plano B

Primeiro , é importante exorcizar essa história de pacote ou Plano B. Trata-se de uma mitomania dos anos 80, um pouco herança do sebastianismo português, de juntar um conjunto de ações, batizar de plano e fazer o marketing em cima. É preciso algo mais consistente.
No quadro atual, de inflação elevada, pode-se discutir o nível das taxas de juros, mas não muito mais do que isso. A herança econômica deixada foi pesada e exigirá, acima de tudo, paciência política.
O desafio viável consiste em apresentar, de forma organizada, um conjunto de ações que sinalize o futuro Sem demonstrar -de forma concreta e racional- como se está pavimentando o médio prazo, o curto prazo torna-se opressivo.
Das sugestões que têm sido feitas sobre esse projeto de construção, seleciono algumas que considero relevantes.
O primeiro conjunto de medidas, de curto para médio prazo, visa desarmar a armadilha dos juros:
Superávit fiscal - É necessário ao governo gerar superávit primário (incluindo aí o pagamento de juros) para poder baixar rapidamente os juros assim que a inflação refluir.
Na opinião de Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda de São Paulo, é possível chegar a esse valor simplesmente racionalizando despesas e cortando custeio -jamais o investimento, que já é quase zero. Isso foi feito em São Paulo.
Ao longo dos tempos, diz Nakano, os orçamentos públicos tornam-se peças poluídas por um sem-número de programas que começaram, perderam função e ficaram como ectoplasmas no ar, consumindo recursos públicos. O desafio consiste em esmiuçar o orçamento e limpá-lo de todos esses penduricalhos.
Simultaneamente, se avançariam nos mecanismos de governo eletrônico, permitindo a centralização, a comparação e o controle dos contratos públicos.
Em coluna recente -"O exterminador de gastos"- detalhei mais sugestões de Nakano nessa direção. Em sua opinião, seria possível reduzir em até 30% as despesas correntes.
Exportações - Falta apresentar, de forma clara, um programa de estímulo às exportações que seja crível e com resultados imediatos. A saída é investir pesadamente na organização dos setores tradicionais. É por aí que o Brasil tem condições concretas e imediatas de crescer nas exportações.
Risco Brasil - Está crescendo no mercado a percepção de que, mais cedo ou mais tarde, será necessário impor alguma forma de controle de entrada de capitais, para romper o desajuste atualmente existente entre a percepção sobre a economia brasileira e o risco Brasil. Para essa linha de pensamento, o risco Brasil reflete muito mais fatores externos do que os fundamentos da economia.
O segundo tempo é apresentar a política de médio prazo:
Política de desenvolvimento - Aí precisaria ser articulado o binômio financiamento-tecnologia. O país precisa definir logo um modelo claro para o desenvolvimento tecnológico. Com o Ministério de Ciência e Tecnologia anulado pelas indicações políticas, a alternativa poderá ser concentrar essa discussão na Finep, entregue a um físico renomado, embora um tanto distante da realidade empresarial.

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