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LUÍS NASSIF
No lugar do Plano B
Primeiro , é importante
exorcizar essa história de
pacote ou Plano B. Trata-se de
uma mitomania dos anos 80,
um pouco herança do sebastianismo português, de juntar um
conjunto de ações, batizar de
plano e fazer o marketing em
cima. É preciso algo mais consistente.
No quadro atual, de inflação
elevada, pode-se discutir o nível
das taxas de juros, mas não
muito mais do que isso. A herança econômica deixada foi
pesada e exigirá, acima de tudo, paciência política.
O desafio viável consiste em
apresentar, de forma organizada, um conjunto de ações que
sinalize o futuro Sem demonstrar -de forma concreta e racional- como se está pavimentando o médio prazo, o curto
prazo torna-se opressivo.
Das sugestões que têm sido
feitas sobre esse projeto de construção, seleciono algumas que
considero relevantes.
O primeiro conjunto de medidas, de curto para médio prazo,
visa desarmar a armadilha dos
juros:
Superávit fiscal - É necessário
ao governo gerar superávit primário (incluindo aí o pagamento de juros) para poder baixar rapidamente os juros assim
que a inflação refluir.
Na opinião de Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda
de São Paulo, é possível chegar
a esse valor simplesmente racionalizando despesas e cortando custeio -jamais o investimento, que já é quase zero. Isso
foi feito em São Paulo.
Ao longo dos tempos, diz Nakano, os orçamentos públicos
tornam-se peças poluídas por
um sem-número de programas
que começaram, perderam função e ficaram como ectoplasmas no ar, consumindo recursos públicos. O desafio consiste
em esmiuçar o orçamento e
limpá-lo de todos esses penduricalhos.
Simultaneamente, se avançariam nos mecanismos de governo eletrônico, permitindo a
centralização, a comparação e
o controle dos contratos públicos.
Em coluna recente -"O exterminador de gastos"- detalhei mais sugestões de Nakano
nessa direção. Em sua opinião,
seria possível reduzir em até
30% as despesas correntes.
Exportações - Falta apresentar, de forma clara, um programa de estímulo às exportações
que seja crível e com resultados
imediatos. A saída é investir pesadamente na organização dos
setores tradicionais. É por aí
que o Brasil tem condições concretas e imediatas de crescer
nas exportações.
Risco Brasil - Está crescendo
no mercado a percepção de que,
mais cedo ou mais tarde, será
necessário impor alguma forma de controle de entrada de
capitais, para romper o desajuste atualmente existente entre a percepção sobre a economia brasileira e o risco Brasil.
Para essa linha de pensamento,
o risco Brasil reflete muito mais
fatores externos do que os fundamentos da economia.
O segundo tempo é apresentar a política de médio prazo:
Política de desenvolvimento
- Aí precisaria ser articulado o
binômio financiamento-tecnologia. O país precisa definir logo
um modelo claro para o desenvolvimento tecnológico. Com o
Ministério de Ciência e Tecnologia anulado pelas indicações
políticas, a alternativa poderá
ser concentrar essa discussão na
Finep, entregue a um físico renomado, embora um tanto distante da realidade empresarial.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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