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LUÍS NASSIF
Os cem dias de Lula
No essencial, os cem primeiros dias do governo Lula foram bastante positivos. Temia-se o descontrole na economia, e não ocorreu. Afinou-se o
discurso na área econômica,
agiu-se com cautela até excessiva, mas se desarmaram os mercados e agora estão sendo colhidos os resultados, com queda do
risco Brasil e do dólar.
Para tanto, contribuiu o compromisso com as reformas, reiterado por Lula.
Na frente externa, houve feitos
relevantes, de firmar a imagem
internacional de Lula, especialmente após os encontros de Davos e Porto Alegre e a iniciativa
de criar o grupo dos amigos para a Venezuela.
No plano político, as votações
da semana passada -apesar de
temas mais fáceis- demonstraram capacidade de articulação
do PT e um estilo bastante empregado pelo ex-ministro José
Serra -de politizar as discussões em vez de partidarizar. O
reconhecimento aos partidos de
oposição que votaram o projeto
demonstra esse estilo, que é bastante eficaz.
Com cem dias de governo, não
se deve esperar muita coisa, a
não ser visão estratégica clara
sobre para onde se pretende caminhar. É por aí que se deve
analisar o governo. Desse ângulo, há problemas claros.
O primeiro, o do loteamento
de cargos, um amplo retrocesso
em relação ao governo anterior.
O modelo anterior -criticável- consistia em lotear alguns
ministérios e funções, mas entre
partidos. O ministro entrava, levava alguns assessores, mas
mantinha-se o funcionalismo
operando. Agora, em muitos
ministérios e estatais, ocorreu
ampla contratação de correligionários e sindicalistas para
cargos comissionados, significando um retrocesso.
O segundo ponto tem sido a
ausência -até agora- das políticas a serem adotadas pelas
diversas áreas. Não há um projeto de governo claro, que possa
subordinar as ações dos diversos
ministérios. Dizer que o projeto
nacional é de inclusão social
quer dizer pouca coisa. A não
ser as políticas sociais propriamente ditas, inclusão social costuma ser decorrência de modelos de desenvolvimento. E qual o
modelo que se pretende? Não está claro.
Critica-se acertadamente o fato de o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) ter deixado de lado a
visão setorial ou se comprometido em demasia com privatização deixando de lado a visão estruturante da economia. Mas
qual o modelo entra em seu lugar? Nesse modelo, qual o papel
da grande empresa nacional, da
multinacional, das empresas de
alta tecnologia -pouco geradoras de mão-de-obra?
Projeto nacional pressupõe
uma articulação entre banco de
desenvolvimento, outros bancos
públicos, área de ciência e tecnologia, universidades (quem é
que cuida delas?). E, por enquanto, essa articulação não
existe, porque o conceito por detrás dela ainda não existe, ou
não foi suficientemente explicitado.
A noção de gestão e de planejamento estratégico precisam
ser aprofundados, para que o
governo tenha uma bandeira
mobilizadora e tenha ferramentas capazes de colocar as idéias
em prática.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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