São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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PREÇOS

IPCA sobe 0,43% em março, ante 0,41% no mês anterior; para analistas, pressão menor no custo de vida não muda ritmo do juro

Inflação estável não deve tirar cautela do BC

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,43% em março, resultado próximo ao registrado em fevereiro (0,41%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 12 meses, o índice foi de 5,32%, o menor desde maio de 2004 (5,15%). No primeiro trimestre, a alta foi de 1,44%.
Apesar de os dados mostrarem inflação sob controle e concentrada em poucos itens -no caso de março, em combustíveis- e as perspectivas apontarem para taxas declinantes nos próximos meses, especialistas não acreditam que o Banco Central vá intensificar o corte na Selic.
A expectativa é que o Copom (Comitê de Política Monetária) reduza em 0,75 ponto percentual a taxa de juro em suas duas próximas reuniões (18 e 19 deste mês e 30 e 31 de maio), mantendo o ritmo das últimas decisões. Hoje, a Selic está em 16,5% ao ano.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital, diz que o "cenário prospectivo para a inflação é bastante benigno", sem pressões visíveis de demanda e com a contribuição positiva do câmbio. Em abril e maio, ele prevê que o IPCA fique na casa de 0,30%. "O segundo trimestre deve ser o de menor inflação no ano."
Passada a entressafra da cana-de-açúcar, as pressões dos reajustes do álcool (12,85%) e da gasolina (2,78%) -que subiu com a redução da mistura do álcool de 25% para 20% em sua composição- devem cessar em abril. "Já há uma antecipação da safra, e o álcool deve apresentar deflação em abril e maio, com impacto na gasolina", prevê Raphael Castro, economista da LCA.
Para Marcela Prada, da Tendências, não existem evidências de que o aquecimento da demanda irá pressionar os preços. Castro, da LCA, lembra que a indústria tem capacidade para elevar produção sem aumentar preços. Os bens duráveis (móveis e eletrodomésticos), afetados diretamente pelos efeitos da política monetária, registraram deflação pelo segundo mês seguido em março, de acordo com Sant'Anna.

Abaixo do centro da meta
Com todos esses fatores, além do fato de os alimentos continuarem em queda no atacado, as consultorias esperam um IPCA no ano até abaixo do centro da meta oficial -de 4,5%, com intervalo de dois pontos para cima ou para baixo. A Tendências prevê 4,1%.
Entretanto, o BC, dizem os economistas, manterá o conservadorismo e não acelerará a redução dos juros. "Pelas sinalizações das atas [do Copom], o BC vai agir com cautela e manter o gradualismo", afirmou Marcela Prada. Castro e Sant'Anna compartilham da mesma opinião.
A escassez de cana-de-açúcar já fez o litro do álcool subir 27,54% neste ano, provocando, sob efeito indireto, a elevação de 4,60% da gasolina. Em algumas áreas, o litro do álcool já encosta no preço do derivado de petróleo. Em Porto Alegre, a diferença é de R$ 0,20.
Juntos, as altas de álcool e gasolina representaram 67% da variação do IPCA em março -0,29 ponto percentual. "A variação do índice ficou concentrada nesses produtos", disse Eulina Nunes dos Santos, chefe da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.
Na contramão dos combustíveis, os alimentos registraram deflação de 0,24% em março e devem manter taxas negativas nos próximos meses, estimam os especialistas. A principal queda ficou com o frango -12,15% em março. Já a carne caiu 1,34% no mês passado.
Sob efeito da gripe aviária, que reduziu o consumo no mundo e fez exportadores brasileiros cancelarem embarques, causando a sobra do produto no mercado, o frango já registra queda de 19,98% no ano.
Influenciados pela desvalorização do real, cederam os preços do pão francês (0,49%) e do óleo de soja (0,40%) em março.


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